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Nova gestora do Dragão do Mar, Camila Rodrigues elenca ampliação de políticas territoriais como prioridade
Vida & Arte

Nova gestora do Dragão do Mar, Camila Rodrigues elenca ampliação de políticas territoriais como prioridade

Camila Rodrigues, nova superintendente do Dragão do Mar, aponta prioridades para gestão. Entre os pontos mencionados, estão a ampliação de políticas territoriais e a aproximação com a classe artística
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Fortaleza, CE, BR 14.02.25  Na Foto: Camila Rodrigues, nova gestora do Centro Dragão do Mar  (FCO FONTENELE/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 14.02.25 Na Foto: Camila Rodrigues, nova gestora do Centro Dragão do Mar (FCO FONTENELE/O POVO)

O ano de 2025 marca mudança na gestão do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), anunciada na quarta-feira, 12. Quem assume a superintendência é a pesquisadora e produtora Camila Rodrigues, que soma mais de 20 anos na área da cultura. Graduada em Comunicação e Artes pela PUC - São Paulo, iniciou a trajetória por meio das artes cênicas. Enveredou pela pesquisa em dança e performance até começar a trabalhar na área musical, o que a trouxe de São Paulo, onde nasceu, até Fortaleza. "Quem me trouxe para o Ceará foram os ventos da música", conta.

Foi uma das responsáveis pela coordenação do primeiro Festival Choro Jazz, em 2009, e aproximou o contato com artistas e eventos de várias cidades. O passo inicial na gestão aconteceu em 2014, quando integrou a equipe de Ação Cultural do Dragão do Mar - função ocupada até 2019. "Foi um momento importante de contato com a classe artística, os fóruns artísticos, uma composição que tivemos naquela época estratégica com a classe, entendendo as demandas e repercutindo também no campo da programação", diz.

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Camila fez parte da gestão do Sobrado Dr. José Lourenço e da assessoria de Ação Cultural de equipamentos como o Complexo Cultural Estação das Artes, Pinacoteca do Ceará e Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo. Retorna ao CDMAC após a saída de Helena Barbosa, atual secretária da Cultura de Fortaleza, com olhar focado em eixos como sustentabilidade, consolidação e ampliação da política territorial. Também elenca como prioridade o diálogo com a rede de equipamentos da Secretaria de Cultura do Ceará: "Minha atuação vai ser muito nesse lugar de amarrar, conversar, trazer para perto".

O POVO - Como o convite para a superintendência chegou até você?

Camila Rodrigues - O convite parte do Instituto Dragão do Mar (IDM) e da Secult. Foi uma conversa que durou um tempo para a gente entender. Primeiro, compreendo que eles precisavam ter um perfil que fosse multifacetado, que tivesse um laço dentro da gestão, do ponto de vista mesmo de entendimento dos instrumentais, e que, ao mesmo tempo, conhecesse o Dragão e tivesse uma relação com o campo.

OP - Queria puxar da sua primeira passagem pelo Dragão. Entre 2014 e 2019, quais foram as mudanças implementadas quando falamos de ações culturais, e como elas ajudaram a moldar o Dragão de hoje?

Camila - Todos os ciclos do Dragão do Mar são importantes. São 26 anos de história. Para a gente chegar onde o Dragão está hoje, ele teve que passar por todas elas. Mas, especificamente no recorte que você propõe, tiveram algumas mudanças que foram importantes do ponto de vista do centro cultural. (Uma delas) foi a aproximação com a classe artística. Acho que é um ponto importante que carrego, me formou como gestora, também é um norte que eu quero introduzir e colocar como rotina. O que isso significa? Uma conversa próxima para definição de editais, a ocupação do espaço cultural. O gestor tem que ter entendimento do campo e dessa permeabilidade do campo para a gestão ser participativa. É um dos pontos que, naquele momento, a gente trouxe bastante. Mas compreendendo que foi uma fase, que hoje está em outro momento, existe um instituto que direciona vários equipamentos da rede, entre eles o Dragão do Mar. Aqui no nosso território a gente tem quatro equipamentos da Secretaria de Cultura: Dragão do Mar, Porto Iracema das Artes, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) e Hub Cultural Porto Dragão. Logo mais a gente tem a Universidade Federal do Ceará (UFC) aqui do nosso lado, então são muitos atores. Têm os pontos de cultura, as associações, os agentes de cultura. É um território fértil e o Dragão do Mar exerce um papel importante, mas não é o único protagonista.

OP - Fazendo o salto para 2025, quais são as principais demandas que vocês identificam nesse momento e quais vão ser as prioridades da gestão para 2025?

Camila - Uma das prioridades, dos horizontes, que temos é a sustentabilidade. Olhar entendendo esses atores, esses parceiros, então atuar em rede para mim é um ponto importante. A gente vai ter o Chão na Praça (dias 20 e 27 de fevereiro), é o Pré-Carnaval do Dragão do Mar, mas a gente está se associando ao Hub Cultural Porto Dragão. A gente otimiza recurso, tem outras pessoas pensando na programação. Aqui é um polo, um território, tem os pequenos empreendedores, as casas, a Universidade está chegando aí. Olhar para esse ecossistema e atuar de maneira estratégica com eles. A gente tem hoje o Núcleo de Articulação Territorial (NAT), implantado na gestão da Helena e um legado importante. Então, apoiar e ampliar as ações territoriais é uma prioridade, entendendo que eles são educadores sociais, agentes da cultura, que têm um olhar mais apurado, uma tecnologia de abordagem com a população, desde os empresários às populações vulneráveis. Esses pontos são horizontes da gestão: sustentabilidade, consolidação e ampliação dessa política territorial. Como o Dragão do Mar é um grande centro, que aborda muitas linguagens, a aproximação com a classe artística é uma premissa.

OP - A palavra ecossistema é importante porque o entorno do Dragão do Mar é uma complexidade do equipamento. Como pontuado, ele convive com todo esse território há 26 anos. Como você avalia os possíveis caminhos para trabalhar essa questão?

Camila - Talvez seja importante trocar essa palavra “entorno” por “território” ou “bairro”. Porque o entorno pressupõe que estamos no centro e tem algo em volta, essa não é a maneira da gente aproximar a realidade do centro cultural. Estamos inseridos dentro de um contexto de ecossistema, no qual todos atores têm suas vocações, atribuições, e a gente vai compor. Todos têm sua importância. Obviamente, é um equipamento do Estado, é o Estado olhando para o território, e somos um equipamento de Cultura. Penso que o Dragão do Mar atua muito na articulação, a gente tem que trazer as políticas para o bairro. Esse ponto de articulador é um papel central. E claro que tem esses outros equipamentos, que podem colaborar muito com o pensamento e a atuação em rede, com política de proteção social. Minha atuação vai ser muito nesse lugar de amarrar, conversar, trazer para perto.

OP - Outros gestores também trazem essa questão da proximidade com o Dragão. Como a gestão avalia e pretende trabalhar o diálogo para aproximar o CDMAC de outros equipamentos da rede?

Camila - Acho super positivo. A gente tem que pensar em rede, é uma orientação da própria Secult, nós temos a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece). Tem essa possibilidade de trocar tecnologia, saberes.

OP - A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 prevê o direcionamento de 18 milhões para a manutenção e promoção das ações do CDMAC, em comparação com os 16 milhões previstos em 2024. Já tem um balanço do orçamento no último ano e estruturação do orçamento deste ano?

Camila - A gente está neste momento. Estamos entendendo quais são as prioridades, cheguei há pouco tempo, então fiz rápido diagnóstico, estou inserida nesse contexto do planejamento. Tem o suporte do Instituto Dragão do Mar, a gente está entendendo onde destinar os recursos, compreendendo que a finalística é muito importante, assim como ação e custeio do equipamento. Mas ainda está em fase de conversas.

OP - Esse aumento de pouco mais de 2 milhões é suficiente para o custeio que você menciona ou para a programação que o Dragão do Mar está abarcando?

Camila - Penso que a gestão tem que olhar para muitos horizontes de sustentabilidade. Entendo que é a minha missão buscar outros parceiros, parceiros privados, para compor esse orçamento. Qualquer gestor vai falar: ‘nunca vai ser suficiente’. A demanda sempre cresce, a demanda artística cresce, a demanda cultural cresce. Faz parte da atribuição do gestor entrar nessa dinâmica de captação, através de lei de incentivo, de parceiras, de uma institucionalização dentro do próprio organismo cultural, onde a gente possa ter mecenas naturais.

OP - O seu texto de apresentação divulgado pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) diz que uma das prioridades da gestão vai ser o campo de memória e patrimônio. Quais lacunas o Dragão do Mar busca preencher nessa área?

Camila - Um museu tem muitas missões. Uma delas é preservar o patrimônio, isso significa a identidade de um povo. A gente tem dois grandes museus no Dragão do Mar (Museu da Cultura Cearense e Museu de Arte Contemporânea do Ceará). Olhar para os acervos é uma das prioridades, entender as catalogações, propor uma difusão. Além da preservação, é missão do museu comunicar esses acervos. As pessoas têm que ter acesso ao que está dentro da reserva técnica, é uma das prioridades.

OP - Ao longo da entrevista, você mencionou que este momento está sendo de estruturação. Como está sendo retornar para esse espaço já conhecido, mas olhando de outra forma?

Camila - Está sendo muito incrível e interessante. O caminho que tive foi um caminho dentro da sociedade civil como produtora independente, como gestora de ação finalística, dentro do campo do planejamento. É um movimento muito enriquecedor, estou muito entusiasmada, com muita força e muita vontade. Vejo o Dragão do Mar com outros olhos, como um ponto de encontro. É um equipamento que pode ter uma retomada e um protagonismo importante dentro da cultura cearense, é uma referência nacional. Você viaja para o Brasil todo, você fala de cultura do Ceará, o Dragão é referência. É importante considerar toda a trajetória que o Dragão do Mar teve, porque essa referência foi construída ao longo dos anos. É um novo ciclo, um momento muito oportuno para o Dragão do Mar, protagonizar, junto com outros agentes dessa rede, um momento para a cultura cearense.

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