Atuando na contramão do crescente abandono da leitura física, jovens e adultos fizeram a literatura virar “trend” na internet, aproveitando a audiência das redes sociais para gerar o interesse de seus seguidores para os livros.
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Esse fenômeno se popularizou na pandemia e ganhou vários nomes, como “BookTok”, utilizado por influenciadores e usuários brasileiros do TikTok para designar conteúdos de recomendação de obras, autores e gêneros favoritos, além de compartilhar trechos marcantes de títulos já viralizados na rede.
Atualmente com 19 anos, Sofia Matos foi uma das pessoas digitalmente impactadas pelo incentivo à leitura nas redes sociais. Durante o isolamento social de covid-19, ela procurou ocupar a “mente vazia” e se viu diante do universo do “BookTok”.
“Eu comecei a desenvolver um gosto muito grande pela leitura e só consigo ler algum livro se eu ver a experiência de outra pessoa, não sou de me prender pela sinopse. Gosto de ver que um fulano estava lendo e chorou ou riu horrores e por isso gostou do livro. Essas coisas me fazem criar um gostinho pelo livro”, compartilha a jovem, que acrescenta: “90% do que eu já li foi porque eu descobri nas redes sociais”.
Partindo da sua experiência e do que percebe no seu contato com a internet, ela argumenta: “Eu acho que o TikTok ajuda a formar novos leitores, pois, quando uma pessoa está na rede social, ela é influenciada a se tornar mais ativa na leitura”, opina Sofia.
Do lado que quem produz, além de leitores entusiastas, então os autores que aproveitam o espaço digital para divulgar suas obras. Um exemplo de quem conseguiu aproveitar isso para desenvolver seu trabalho é o escritor Jonas Aquino, autor de best-sellers como “Castle High: O Retorno da Espada” e “Poções de Amor e Outros Luxos”.
“Quando eu publiquei ‘O Retorno da Espada’, eu não tinha dinheiro para divulgação, então pensei ‘a internet é o espaço mais democrático para quem quer compartilhar suas obras, conseguir leitores, chegar em qualquer canto do mundo’”, explica o cearense sobre as estratégias que escolheu.
Jonas, que se tornou um destaque nacional com seus livros de fantasias e teve obras suas entre as mais vendidas do país pela Amazon, destaca que só por meio das redes sociais conseguiu reconhecimento.
“Como uma pessoa da periferia de Fortaleza consegue chegar para pessoas de outros países? Eu tenho leitores em Portugal, tenho leitores nos Estados Unidos... A internet foi a maneira que vi para impulsionar minhas obras, mesmo sem ter dinheiro para gastar com divulgação, com influenciadores, com press kits, enfim”, diz.
O maior alcance do autor é o TikTok, com a “trend” BookTok, todavia o contato com seus leitores está em todas as suas redes sociais: “eu comecei a publicar sobre ‘Castle High’ no Twitter e foi lá que o livro acabou ganhando alguns leitores e teve a repercussão que teve”.
“Depois disso, durante a pandemia, o TikTok veio e acabou se tornando a maior rede social para divulgar livros. Muitos influenciadores que produziam conteúdos para a internet antes da pandemia tiveram suas carreiras impulsionadas pós-pandemia porque aproveitavam para gravar vídeos e as pessoas acabavam utilizando a literatura como forma de escape do momento que a gente estava passando”, argumenta.
Além disso, Jonas tem canais de transmissão no Telegram para estreitar laços com seus seguidores e divulgar “spoilers” de seus próximos lançamentos.
Em convergência com ele, está a escritora afrofuturista de Quixadá, no Ceará, Kinaya Black. A autora do livro “Eu Conheço Uzomi” conta que sempre compartilhou suas descobertas literárias em blogs, mas migrou para o Instagram em 2015, com o sucesso da rede social.
“Eu vi que as pessoas queriam saber sobre afrofuturismo porque tinham outras pessoas, assim como eu, que leram fantasia e ficção a vida inteira sem se ver naquelas narrativas. Eu, enquanto uma pessoa negra, uma mulher negra do interior do Ceará que ama ficção fantástica, li muitas traduções e não me via naqueles personagens. Assim como eu, encontrei diversas pessoas na internet que precisam de histórias representativas, que precisam do Afrofuturismo. Foi nesse momento que percebi que isso funcionava com o público”, relata Kinaya, que criou o perfil “Afrofuturista Cearense”.
Sobre o resultado de seu trabalho online, com posts e reels de literatura, ela afirma que se sente conectada com o seu público: “adoro receber mensagens e conhecer pessoalmente quem descobriu meus livros através das redes. Na Bienal, por exemplo, veio gente pedir autógrafos, fotos e principalmente conversar sobre literatura”.
Jonas, que também participa ativamente da Bienal Internacional do Livro do Ceará como autor e como público, concorda. “O TikTok mudou muito a minha forma de divulgar os livros, ele mudou a minha vida ao me possibilitar estar mais próximo dos meus leitores”.
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