Neste fim de semana, a TV Globo comemora 60 anos de existência com programações que revisitam novelas, programas de auditório, realitys e jornalismo que marcaram o público. Por trás desse sucesso, que alcança mais de 98% do território brasileiro e cerca de 99,55% do total da população do País, estão pessoas de todos os lugares do Brasil, incluindo o Ceará, que exportou muitos artistas para fazer parte dessa história.
Quem não se lembra do Didi, personagem do cearense Renato Aragão, que levou humor durante décadas para a Globo, com o sucesso de “Os Trapalhões” e “A Turma do Didi”? Ou então do eterno Chico Anysio (1931–2012), nascido em Maranguape, considerado uma referência nacional do humor brasileiro?
O Ceará está presente com o cinema, levando para a programação da “Sessão da Tarde”, “Tela Quente” e “Temperatura Máxima” o nosso jeitinho “gaiato”. Já foram transmitidos e até reprisadas obras como “Cine Holliúdy”, “O Shaolin do Sertão”, “Bem-vinda a Quixeramobim”, “Cabras da Peste” e outros clássicos do diretor cearense Halder Gomes.
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Além do diretor e da emissora que o transmite, esses filmes têm em comum a participação do ator cearense Edmilson Filho, que destaca: “A série ‘Cine Holliúdy’, por exemplo, tem três temporadas e foi reprisada em horário nobre durante a pandemia. Teve uma visibilidade muito grande. Apesar de a minha carreira ser focada no cinema, isso me abriu portas para outros projetos e investidores… A Globo, como carro-chefe da TV aberta no Brasil, fortalece muito a imagem”.
Quem também esteve nos filmes de Halder Gomes e foi convidado para fazer a novela “Vai na Fé” é Mateus Honori, que comemora a visibilidade que ganhou ao aparecer na emissora.
“Sei que tem muitos atores que falam: ‘Ah, eu não me importo de estar na Globo, nunca foi um objetivo’. Para mim, sempre foi um objetivo e continua sendo, é um sonho desde criança, um sonho a realizar. Porque o meu sonho era que minha avó lá no interior assistisse à minha novela”, pontua o cearense, que tem destaque em “Guerreiros do Sol”, novela que ainda será lançada pela Globo.
Alguns talentos são aperfeiçoados pela emissora carioca, mas também há quem chegue já com longa carreira artística e, ainda assim, seja conhecido pelo trabalho na TV. É o caso, por exemplo, do cearense Haroldo Magalhães, que recentemente viveu o Primo Cícero na novela “No Rancho Fundo”, de Mário Teixeira.
“Preciso reconhecer que sou muito mais respeitado como artista por ser visto na Globo, em novelas, séries e filmes. É um lugar que conseguiu aglutinar grande parte dos maiores talentos brasileiros”, diz Haroldo.
Outro cearense que estava na novela de Mário Teixeira é Igor Jansen, que chegou na Globo depois de uma longa novela infantojuvenil no SBT, “As Aventuras de Poliana”. Para ele, a mudança lhe apresentou para “uma nova audiência” diferente do público anterior.
Após o sucesso consagrado como ator de teatro, o cearense Silvero Pereira foi convidado para participar da novela “A Força do Querer”, e, desde então, se tornou figurinha carimbada na Globo. Ele foi vice-campeão da competição “Show dos Famosos”, campeão da 4ª temporada do “Masked Singer Brasil”, além dos outros trabalhos na teledramaturgia, que são “Pantanal” (remake) e “Garota do Momento”.
“Novela no Brasil é responsável por boa parte dos comportamentos sociais ao longo dos anos. Então, ter uma teledramaturgia consciente, capaz de juntar o mercado, entretenimento e camadas de discussões sociais, é um grande acerto. Acredito que temos visto isso nas últimas produções e a resposta tem sido a grande aceitação do público”, declara Silvero sobre o legado da emissora.
Além dos artistas, a Globo também impulsionou a carreira de muitos “anônimos” com seus reality shows. O The Voice Brasil, por exemplo, destacou o talento de cantores cearenses como Sam Alves, Camila Marieta, Marcos Lessa e Makem.
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Neste ano, o maior reality da emissora, Big Brother Brasil, teve como campeã Renata Saldanha, cearense que teve ascendência social ao participar de uma ONG de dança, a Edisca. Sua fama durante o confinamento ajudou a evidenciar o trabalho do projeto, que ganhou diversos apoiadores nas redes sociais.
Além dela, também passaram pelo BBB os cearenses Vyni, Kerline, Patrícia Leite, Lucas Eleutério, Rafael Rocha, Roberta Garcia e Natália Nara.
No caso de Kerline, a primeira eliminada da edição de 2021, seus trabalhos até hoje ainda são decorrentes da fama do reality. “O BBB mudou completamente a minha vida”, diz.
Renata Saldanha, do BBB, é nomeada embaixadora do turismo de Fortaleza
“Foi graças ao BBB que consegui minha verdadeira independência financeira, consegui realizar sonhos que antes pareciam distantes — desde coisas simples, como ajudar minha família, até projetos mais ousados, como investir em mim mesma, estudar, empreender, me comunicar com o meu público. O programa me deu palco, e eu aproveitei cada centímetro dele”, afirma.
Mamãe, tô na Globo
Artistas cearenses conversam com O POVO sobre a participação na TV Globo
Sendo a TV Globo uma simbologia de sucesso para artistas, como foi se assistir na TV pela primeira vez?
Silvero Pereira - O imaginário de artista na cabeça da massa brasileira é estar na Globo. Sou muito grato a esse espaço pois, de fato, fez com que muita gente reconhecesse meu trabalho e tivesse mais valorização. Afinal, eu venho do teatro em Fortaleza, e agora, por exemplo, eu me apresento dia 2 de maio num dos maiores palcos da cidade com meu show “Silvero Interpreta Belchior”, que está com ingressos quase esgotados. Isso não é só sobre meu trabalho de artista, afinal existem muitos grandes artistas da cidade que não conseguem essa abertura ou público, isso se deve também ao espaço da fama construído pela televisão e a divulgação da minha arte.
Mateus Honori - Eu lembro que, quando eu passei Tela Quente, todo mundo dormiu mais tarde, a galera ficou acordado até tarde para assistir ‘Bem-vinda a Quixeramobim’, um filme que já tinham assistido várias vezes. É muito significativo ver um trabalho que deu certo, que funcionou. Isso enche a gente de orgulho.
Minha família é de noveleiros, minha avó é noveleira, minha mãe é noveleira, minhas tias amam novelas, meu avô gostava de novelas, meu pai ama novelas. Por isso, meu sonho é que essas pessoas, principalmente a minha família do interior, que nunca me assistiram em uma peça ou numa série da Netflix, pudessem ligar a televisão e eu tivesse passando.
Haroldo Guimarães - Foi uma grande emoção. Primeiro porque eu sou um menino que cresceu e não esperava me ver nos filmes. Eu achava que faria parte da “Escolinha do Professor Raimundo”, talvez. Segundo que em todos os filmes eu consegui expressar um Ceará que existe e faz sorrir. Na minha época o Ceará era representado por outro sotaque. Eu apareço falando como que falo lá em casa. Nos anos 80, comentava-se que nosso sotaque era feio. Me orgulhou muito mostrar que não é, e que tem um léxico e uma prosódia muito expressivas, importantes para dramaturgia e pro humor.