Quem acompanha o jazz e o choro cearense provavelmente já viu um show de Ângela Lopes. A artista é um nome de destaque em festivais, shows e projetos musicais do Estado, como o "Elas, o Ceará e o Jazz", “Samba de Choro ao Jazz” e “Cachaça com Chorinho".
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Ângela demorou a se reconhecer como cantora e investir em sua carreira. Desde criança, ela cantava de forma espontânea em casa ao lado de sua mãe e avó, que gostavam de música popular, mas não trabalhavam com a voz. “Era muito natural eu cantar, mas eu não sabia que isso era algo que pudesse ser um potencial para cantora”, conta.
Moradora do Genibaú, ela passou a ter um contato mais próximo da arte pelo teatro, por meio de projetos que atuavam na sua região, como o Vila Olímpica e o projeto ABC. Foi durante o ensino médio, quando passou a estudar no colégio Liceu, do Conjunto do Ceará, que se aproximou dos gêneros musicais que hoje atua.
“Lá, eu conheci um professor de violão, o Jorge Andrade, que foi um dos meus grandes mentores na época. Ele me apresentou o repertório que tenho hoje, com bossa nova e MPB. Houve uma afinidade, uma identificação muito rápida com essas músicas. Foi ele quem me mostrou um dos primeiros referenciais que tive, o Tom Jobim”, compartilha Ângela.
Foi nessa escola que ela teve as primeiras oportunidades de se apresentar musicalmente para uma plateia, pois a instituição a “levava para diversas mostras de talentos de alunos e festas de dia dos professores” para que ela tivesse uma forma de me encaixar: “eles faziam o que podiam para que eu pudesse ter essa vivência”.
Ao se formar na escola, no entanto, deixou a música de lado para se dedicar aos estudos do curso de Física. “Depois de uns anos, na convivência lá na faculdade, eu conheci alunos do curso de Música e, muitas vezes, eu saía da aula de física e ia para esses espaços que os alunos ficavam lanchavam e ficavam estudando”, narra a cantora, que, nesse período, se reaproximou da sua paixão.
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Nesse período, Ângela se matriculou no curso técnico de música do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), onde conheceu músicos que fazem até hoje parte da sua história. “Tudo acabou se transformando”, destaca.
A partir daí, ela começou a se apresentar em festivais e resolveu mudar de área, saindo da física e entrando em fisioterapia, que estudava em paralelo à música. “Eu fazia faculdade de fisioterapia e, no final de semana, cantava para ter uma fonte de renda. Como eu fazia o curso de música, fui fazendo essas parcerias, foram aparecendo convites. Durante um bom tempo, eu fiquei conciliando a faculdade com cantar nos barzinhos”, relata.
Ainda durante seus estudos, ela formou seu primeiro grupo musical: “na época do curso, eu montei o Bossambar e comecei a desenvolver um repertório autoral, junto aos colegas que eram parceiros neste grupo. Com o Bossambar, conseguimos participar de vários festivais, e fomos para a Argentina, através do Ministério da Cultura, em 2012”.
O Bossambar ficou ativo entre 2008 e 2013, e participou de diversos festivais de música autoral cearense, como Festival de Música da Assembleia, Festival de Inverno da Serra da Meruoca e competições promovidas pelo Dragão do Mar.
O grupo acabou em um período após a graduação de Ângela, quando ela resolveu fazer uma nova pausa na música para conseguir se estabelecer como fisioterapeuta. Todavia, o afastamento foi um período difícil para a artista.
“Eu decidi que ia gravar meu disco, pensando em atuar mais nos bastidores. Tive orientação do meu professor de música do IFCE, o Carlinhos Crisóstomo, o diretor do disco. Gravei lentamente, do meu jeito, pois era a forma que eu encontrava de alimentar minha necessidade musical”, explica.
O álbum, que leva o nome da cantora, demorou a ser publicado, pois Ângela passou por um período turbulento em sua vida. Em 2019, ela descobriu um nódulo na tireoide e arriscou ter lesões em suas cordas vocais. “Essa situação foi uma verdadeira virada de chave na minha vida, pois me fez perceber o quanto a música é importante para mim”, relata.
“Foi uma verdadeira virada de chave, uma promessa que fiz para mim mesma: que eu não iria parar de cantar, independentemente das dificuldades”, completa a artista, que, logo depois, sofreu com o período de pandemia de covid-19 e com o adoecimento de quem lhe ajudou a produzir seu álbum.
Ela argumenta: “Para todos nós artistas, a pandemia mostrou para a gente o quanto a arte é importante em situações extremas. Muitas vezes pensamos que as necessidades básicas, como comida e moradia, são prioridades, e são mesmo. Mas a pandemia nos revelou que a espiritualidade e as manifestações artísticas também são essenciais para o ser humano, tão importantes quanto as necessidades físicas”.
Desde 2021, a artista passou a se dedicar aos palcos e não parou mais. A preocupação e perfeccionismo do começo da carreira deu espaço para uma Ângela com muito mais liberdade nos shows e mais confiante com o seu trabalho. Além do samba, ela se dedica a projetos de jazz, chorinho e bossa.
Rememorando um de seus primeiros trabalhos, ela reflete seu caminho: “A minha voz é um instrumento”.
Agenda de shows
Bossa, samba, chorinho
Cachaça com chorinho
Jazz e piano
Samba de Choro ao Jazz
Acompanhe Ângela