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RPG francês apresenta jornada artística contra o tempo e a morte
Vida & Arte

RPG francês apresenta jornada artística contra o tempo e a morte

Jogo "Clair Obscur" mistura estética belle époque com combate desafiador, narrativa emocional e trilha sonora marcante
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Foto: Divulgação "Expedition 33" respeita as raízes do RPG, mas não tem medo de experimentar

"Clair Obscur: Expedition 33" é um RPG que se destaca tanto pelo estilo artístico quanto pela ousadia narrativa. O jogador é lançado num mundo onde a morte chega com precisão matemática: uma entidade conhecida como "A Pintora" determina a idade máxima das pessoas ao pintar um número em um monólito gigante. Quando a história começa, ninguém com mais de 33 anos permanece vivo.

Essa premissa singular já garante um enredo carregado de emoção e desespero, mas é na forma como os personagens reagem a essa condenação que o jogo brilha. A equipe protagonista é composta por adultos em seus últimos dias, unidos por perdas profundas e uma vontade desesperada de mudar o destino.

Com cerca de 30 horas na campanha principal, há muito o que explorar para quem busca conteúdo extra. Segredos, diários de expedições anteriores e combates opcionais garantem fôlego extra à aventura. E como o jogo estimula abordagens criativas e táticas diferentes, a vontade de revisitar lutas e experimentar novas estratégias é constante.

A jogabilidade mistura batalhas por turnos com comandos em tempo real. Inspirado por clássicos como "Final Fantasy X" e "Persona 5", mas com uma pitada de "Sekiro", o combate exige reflexos rápidos para desviar ou aparar ataques inimigos. Cada personagem tem mecânicas próprias, o que traz variedade, mas também um nível de complexidade que pode confundir quem está começando. Usar controles com sensibilidade ajustada, especialmente para parries, melhora bastante a resposta dos comandos. Jogadores menos acostumados podem preferir focar em esquivas, que têm uma janela mais generosa.

"Clair Obscur" impressiona em áudio e imagem

O visual impressiona desde os primeiros minutos. Com uma estética que remete à Belle Époque francesa, o jogo aposta em ambientes surreais e cenários quebrados, flutuando como pinturas inacabadas. Mesmo com algumas animações engessadas e momentos em que os personagens parecem manequins, a direção de arte compensa qualquer limitação técnica. Algumas transições entre cenas e jogabilidade poderiam ser mais suaves, mas não comprometem a imersão.

O áudio é um espetáculo à parte. A trilha sonora mistura piano melancólico e vocais franceses com momentos de pura grandiosidade, pontuando as batalhas e revelações com precisão emocional. O elenco de vozes entrega atuações marcantes, com destaque para Andy Serkis e Jennifer English, trazendo profundidade aos personagens.

Nem tudo é perfeito. A ausência de um mini-mapa em áreas complexas torna a navegação confusa em alguns momentos. O sistema de laços entre os personagens, similar ao de Persona, parece menos desenvolvido e acaba sendo ofuscado pelas cenas mais orgânicas do acampamento.

"Expedition 33" respeita as raízes do RPG, mas não tem medo de experimentar. Com um equilíbrio raro entre peso narrativo e prazer mecânico, é uma obra que merece ser descoberta por quem busca mais do que batalhas e pontuações — mas histórias que ficam na memória.

Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico

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