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Vale Tudo: novela entra em nova fase com mudança na audiência
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Vale Tudo: novela entra em nova fase com mudança na audiência

Remake de "Vale Tudo" tem audiência e "torcidas" diferentes da obra original, reflexos do novo padrão de noveleiro
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Odete Roitman (Debora Bloch) e Fátima (Bella Campos) (Foto: Angélica Goudinho/Globo/Divulgação)
Foto: Angélica Goudinho/Globo/Divulgação Odete Roitman (Debora Bloch) e Fátima (Bella Campos)

A trama de "Vale Tudo" chega à segunda fase nos próximos episódios, com uma pequena passagem de tempo e a formação dos casais Heleninha Ivan e Maria de Fátima Afonso. Essa, no entanto, não é a primeira grande mudança do remake até agora.

O que mais chama a atenção é a transformação do público diante da inescrupulosa Odete Roitman. Se antes a vilã era considerada a mais cruel da teledramaturgia por sua arrogância e preconceito, hoje a topetuda ganhou o título de "loba" e "brat" por seu poder e frieza.

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A nova versão, vivida por Débora Bloch, continua cruel e elitista, mas imensuravelmente menos preconceituosa e mais divertida que a personagem de Beatriz Segall. Talvez, por esse motivo, a trama de 2025 seja apontada como menos impactante do que a versão de 1988.

Odete da "nova geração" chega às redes sociais como uma mulher poderosa que não abaixa a cabeça para terceiros. Assim como sua primeira versão, ela é uma personagem que se tornou quase bilionária por multiplicar a herança do ex-marido e transformar a empresa de aviões TCA em uma multinacional de referência.

Se antes seus filhos Heleninha e Afonso foram vítimas da própria mãe, em 2025, são considerados herdeiros folgados que não trabalham e vivem às custas da família. No caso de Helena, vivida por Paolla Oliveira, o novo público a entende como uma mulher mimada e inconsequente, com problemas que a fazem ser mais do que vítima do abuso de álcool.

Já o Afonso do século XXI (Humberto Carrão) é o novo perfil de "macho tóxico": não trabalha e não compreende que sua namorada com nível social menor precisa cumprir seus afazeres de adulto CLT. Sustentando seus hobbies e aventuras com o dinheiro da mãe, o "mocinho" não convence mais o público de sua santidade quando se diz prejudicado por Solange (Alice Wegmann).

Quem também perdeu torcida foi Raquel Acioly, agora vivida por Taís Araújo. A honestidade e ingenuidade extremas se tornaram piadas nas redes sociais, fazendo a fama de mocinha se tornar a de "burrinha".

Essa mudança de torcidas está relacionada com a mudança do público, principalmente o que se conecta com o folhetim pelas redes sociais e streamings. Algo semelhante ao que acontece com o público do Big Brother Brasil, que vive um verdadeiro duelo de percepções entre a "turma do sofá" e a "galera do Twitter" — atual X.

As transformações de Vale Tudo

A transformação de consumo de novelas é algo tão profundo e, ao mesmo tempo, recente que algumas controvérsias sobre "Vale Tudo" estão sendo noticiadas. Ao mesmo tempo, em que a obra se aproxima da pior audiência da história no Kantar Ibope, é a obra de TV de maior sucesso digital da Globo desde "Pantanal", em 2022.

O cenário abre discussão sobre como é medida e comparada a audiência de programas televisivos no Brasil. Será que ainda é o número de televisores ligados no canal aberto que pode classificar uma programação em sucesso ou fracasso?

"Vale Tudo" tem média de 21,8 pontos em São Paulo, segundo o Kantar Ibope, mas chega a quase 30 nas capitais do Nordeste e é produção de destaque em acessos na Globoplay. Apesar de ter menos TVs ligadas durante sua exibição quando comparada às novelas "das seis" e "das sete", o remake está em todas as redes sociais com cortes que chamam atenção do público que já não liga mais a televisão.

Num cenário no qual o trabalho da população é cada vez mais flexível, a rotina cada vez mais acelerada e o número de streamings cresce sem parar, é, no mínimo, estranho que nosso parâmetro de audiência se reduza ao tempo real na TV.

É uma verdade que menos pessoas estão diante das TVs, mas a turminha noveleira segue numa crescente, com consumo de tramas nos streamings, que vão desde as brasileiras até os famosíssimos doramas e novelas turcas. O "ao vivo" não cabe mais como principal referência de sucesso televisivo em 2025.

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