Monotemática. É assim que estou ultimamente. Não penso em outra coisa que não seja pegar o livrinho e as canetinhas para pintar bonecos fofos. Às vésperas do meu aniversário de 36 anos, é o maior presente que poderia dar para mim mesma: o tempo presente. Sou uma criança grande, com as mãos cheias de tinta colorida, o cabelo preso em coque, mordendo o canto do lábio - uma tentativa de manter o máximo possível de concentração na atividade.
Quando estou pintando as formas rechonchudas, ouvindo o barulho da ponta arrastando no papel, minha cabeça fica totalmente sem pensamentos. É absurdamente bom. Não tem tela colorida, não tem luz, não tem influencer sugando microfone ao invés do canudo, não tem vídeo curto, não tem dopamina barata. Nada. Sou apenas eu e o agora.
Ironicamente, descobri a febre dos livros de colorir, os queridos "Bobbie Goods", através do TikTok - a maior fonte de dispersão da atualidade. Mas até que a plataforma tem alguma serventia em momentos específicos… Então, não vou reclamar (muito).
Durante uma longa hora, todos os dias, sento à mesa com o estojo de 24 cores (deveria ser mais, mas o orçamento era limitado) e o livro na versão similar (deveria ser original, mas, já disse, o orçamento era limitado). Por isso, não há tanta variedade nas camadas, nos efeitos e nos contornos das pinturas e os bonecos ficam, digamos, esquisitos...
São 60 minutos que passam exatamente como 60 minutos. Não é aquele tempo fluído, apressado, incontrolável e incontável que voa quando estou navegando entre memes e trends nas redes sociais. Que agonia! É muito mais gostoso saber que o tempo voltou a ser apenas o tempo. Uma unidade relativa, como vislumbrou Albert Einstein, mas, também, um contador que passa na medida correta através dos ponteiros do relógio.
Sempre amei os meus hobbies, mas, durante épocas distintas, fiquei distante deles. Não sei explicar por quais motivos. As minhas atividades prediletas são as mesmas da infância: costurar, ler, colorir desenhos e manipular massinhas de modelar. É tudo muito físico. Ou "orgânico", como dizem os "criadores de conteúdo".
A criança que ainda habita dentro de mim deve estar feliz por saber que eu não desisti de tornar o nosso mundo mais colorido. Nós - ela e eu - sempre amamos o azul, o rosa, o vermelho, o laranja, o verde, o roxo. Queríamos pintar uma parede do quarto de cada tonalidade, colocar pontos de linha nas roupas, fazer formas estranhas. Seguimos querendo.
Gosto de pensar naquela criança como uma pequena criadora. Mas, como diz a canção da compositora Aíla: "Todo mundo nasce artista. Depois vem a repressão. Não faz arte - diz a tia. Vê se deixa de invenção! Todo mundo nasce artista. Depois vem a castração". E eu não sei como, mas veio e bateu forte. Quando foi que deixei o nosso mundo ficar cinza? Quando deixei o nude dominar as paredes, os cadernos e as roupas?
É por isso que, quando estou com as canetinhas e os livrinhos, sinto que a menina Isabel está comigo. Como na infância, eu não tenho necessidade de performar. Eu só preciso fazer. Meus traços não precisam ser perfeitos. Eu traço as cores para mim. Para nós.