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"O Agente Secreto" faz história e vence melhor direção e melhor ator em Cannes
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"O Agente Secreto" faz história e vence melhor direção e melhor ator em Cannes

O filme brasileiro O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, ganhou o prêmio de melhor direção na 78ª edição do Festival de Cannes, na França. O ator Wagner Moura, protagonista da película, também foi premiado como melhor ator
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Elenco de "O Agente Secreto", longa pernambucano que fez história ao conquistar os prêmios de Melhor Ator e Melhor Direção no 78º Festival de Cannes (Foto: VALERY HACHE / AFP)
Foto: VALERY HACHE / AFP Elenco de "O Agente Secreto", longa pernambucano que fez história ao conquistar os prêmios de Melhor Ator e Melhor Direção no 78º Festival de Cannes

Neste sábado, 24, após 12 dias de flashes que apontavam para um desfecho positivo, o Brasil saiu vitorioso da 78ª edição do Festival de Cannes.

Reconstituindo o Recife da década de 1970, o “Agente Secreto” foi laureado com os troféus de Melhor Diretor, para Kleber Mendonça Filho, e Melhor Ator, para Wagner Moura — esta última, até então, uma estatueta inédita para o Brasil.

Dando vida a Marcelo, um especialista em tecnologia que se depara com segredos inquietantes ao retornar ao Recife, Wagner cravou um feito histórico ao ser o primeiro brasileiro a vencer o prêmio de interpretação masculina nas categorias principais de Cannes.

Na trama, ao reencontrar o Brasil sob o regime da ditadura cívico-militar, Marcelo se vê envolvido em uma rede de repressão, silêncio e dor, enxergando nas feridas políticas do País suas próprias cicatrizes. Contando com um recorte regional que discute temas como memória e opressão, "O Agente Secreto" levou o impacto remanescente da violência de Estado brasileira ao centro da discussão cinematográfica novamente.

Com uma indústria audiovisual que apresenta uma abertura aparente para produções que fujam da ótica eurocêntrica nos últimos anos, momentos como o deste sábado refrescam a mente positivamente, com a lembrança das grandes honrarias que o cinema brasileiro vem alcançando.

Para além da temporada frutífera de premiações no início de 2025, que rendeu o primeiro Oscar para o Brasil, há exatamente um ano o elenco de “Motel Destino” levava o som de Aviões do Forró para ecoar no tapete vermelho. Em 2025, os holofotes se voltaram novamente para o Brasil através de um grupo de frevo, que apresentou a sinergia do Nordeste brasileiro, angariando mais atenção para o longa que já acumulava grandes expectativas por parte da crítica.

A esperança de que o longa fosse premiado com a Palma de Ouro, categoria principal da cerimônia, cresceu na última semana, depois de ter sido ovacionado por mais de dez minutos na sessão de estreia, em 18 de maio, e de ter saído do evento com dois acordos de distribuição fechados. Contudo, a honraria máxima da noite ficou para “It Was Just an Accident”, de Jafar Panahi, o segundo cineasta iraniano a levar o prêmio máximo do festival.

Além dos dois troféus para Kleber e Wagner, “O Agente Secreto”, antes da entrega da láurea principal começar, já chegava como um dos vencedores dos prêmios paralelos do festival: o Prêmio da Crítica Internacional (Fipresci), principal associação de críticos de cinema do mundo, composta por jornalistas de mais de 50 países.

Filmado em Recife, Brasília e São Paulo, com pós-produção realizada na Europa, o longa é uma coprodução internacional e marca a terceira participação de Kleber Mendonça Filho na competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes — feito que já havia conquistado com os aclamados "Aquarius" (2016) e "Bacurau" (2019).

Resgatando o passado para pensar o presente e confabular possíveis futuros, em comunicado à imprensa, Kleber afirmou: "Acho isso muito significativo. Acho que é um filme que fala do passado, fala do presente, fala do futuro”.

Ao subir ao palco duplamente — pois, antes de escutar seu nome, o diretor havia recebido a estatueta por Wagner Moura, que não compareceu à cerimônia —, o pernambucano saudou seu estado e reafirmou a potência do Brasil, que, se antes era visto internacionalmente como o país do futebol, para muitos tem se tornado o país do cinema.

"Meu país, o Brasil, é um país cheio de beleza e poesia. Estou muito orgulhoso de estar aqui esta noite. Penso que Cannes é simplesmente a catedral do cinema neste planeta", disse, comovido, em um discurso que misturou português, francês e inglês.

(Colaborou Raquel Aquino/ O POVO)

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