Dois anos depois do potente e denso "Jesus Ñ Voltará", Mateus Fazeno Rock anuncia seu terceiro álbum de estúdio. Com estreia em agosto, a nova produção marca um momento renovado na carreira do cearense, desde que assinou com a gravadora Deck, no início de 2024.
"Esse álbum surge como esse start dessa minha nova jornada, desse trabalho com essa estrutura, com esse movimento no entorno da gente", explica o artista. A ideia para a obra surgiu a partir do dia a dia do cantor, além de uma vontade de fazer um trabalho "pulsante".
Mateus destaca que a proposta é trazer algo mais dançante e menos denso, em relação aos seus trabalhos anteriores, como o "Rolê das Ruínas" (2020). "Eu vinha trazendo uma narrativa bem densa, que demanda bastante da energia, da mente para sustentar. E já vinha com essa necessidade de abrir o imaginário para outros caminhos", revela o compositor, que contou com Fernando Catatau e Rafael Ramos na produção do novo disco.
Segundo o músico, o single "Madrugada", faixa bônus de seu segundo álbum, já apontava para esse novo momento. Esse desejo surge a partir das batalhas travadas ao longo da vida para fazer sua arte acontecer: "Na verdade, penso que são várias guerras que a gente vem travando ao longo da vida, né? Para se manter vivo, para sustentar nossas ideias, nossos ideais, nossas vontades e sonhos".
A intenção é trazer algo mais dinâmico, conforme detalha o artista. "Eu nem diria que esse álbum seja mais leve, mas diria que ele tem uma energia mais pulsante, para fora, com vontade de mover as coisas de lugar, de tirar as coisas do canto, de movimentar, de abrir caminho mesmo".
Mateus revela que a mudança de rumo foi algo aconselhado pela espiritualidade. "Já havia sido até aconselhado por entidades em outros momentos de que eu deveria buscar travar minhas batalhas de forma mais... vou usar a palavra 'leve', por falta de um termo mais adequado", enfatiza o cearense, que é cria da Sapiranga.
Para ele, ao tomar essa decisão, há um atravessamento em seu cotidiano, sua história e de quem está "defendendo essa música" dentro do projeto Fazeno Rock. "Tem um movimento coletivo que precisa ser nutrido com uma energia, uma força vital, pra gente conseguir ir pro palco, levar essa música", explica. Mateus diz que as manutenções do "bem viver" e da "coletividade" foram fundamentais para os "novos movimentos".
Diferente dos outros trabalhos, o lançamento levou menos tempo para ficar pronto. O compositor explica que a fluidez do processo foi melhor devido à possibilidade de fazer a pré-produção em casa, antes de ir a estúdio. Algo que desejava para ter mais autonomia e para materializar suas ideias.
"No primeiro álbum, nem computador eu tinha. No segundo, começamos no meio da pandemia, então foi muito à distância", relembra o cearense, que chegou a ganhar a condecoração APCA de artista revelação em 2023. "Agora, nesse álbum, pudemos reunir a banda no estúdio, mas antes disso eu pude sentar, compor em casa, testar sonoridades, propor ideias e direções musicais", detalha o artista que jogou luz sobre a cena do rock de favela em Fortaleza.
A produção do terceiro álbum contou com a participação de Fernando Catatau e Rafael Ramos, como mencionado anteriormente. O primeiro era alguém com quem Mateus vinha realizando trocas. "Ele é uma pessoa muito importante na música, não só do Ceará, mas do Brasil. A gente foi se aproximando, criando amizade e encontrando uma sincronia", revela. Rafael foi quem convidou o cearense para a Deck. "Ter essa troca foi fundamental — não só entre eu, Mateus, e Rafa, mas também entre o projeto Mateus Fazeno Rock e a Deck", destaca.
Outra colaboração relevante foi a do Manifesto Afrokaos, que entrou no projeto com a parte de percussão. As batucadas são mais um dos elementos adicionados ao novo álbum que demarcam os novos rumos de Fazeno Rock. "Minha pesquisa musical está sempre nessa encruzilhada entre o rock e outros ritmos afrodiaspóricos", diz o artista.
Para dar um gostinho ao público do que vem por aí, um single que faz parte do terceiro álbum de Mateus chegará às plataformas na sexta-feira, 30. Intitulada de "Arte Mata", a faixa é um manifesto sobre as precariedades de trabalhar com arte no Brasil, além de denunciar o apagamento de tradições culturais herdadas de povos africanos e nativos do País.
"O álbum tem uma energia de alegria, de movimento e até de leveza, mas esse single 'Arte Mata' vem bem furioso, pra bater cabeça e botar na consciência. Fala muito sobre nosso território, nossa cidade, nossa cultura — da minha forma".
Lançamento do single "Arte Mata"