A música carnavalesca perpassa os anos e se mantém atual. Armandinho Macêdo - filho de Osmar Macêdo - idealizador do trio elétrico junto a sua dupla, Dodô - herdou a história musical da família e a mantém viva para os saudosos e para as novas gerações. Sua trajetória é marcada pelas misturas de diversos ritmos, desde o frevo e o chorinho até o rock e o axé.
Neste domingo, 8, o herdeiro traz um show que une guitarra baiana, bandolim, teclado e percuteria para Fortaleza, no Cineteatro São Luiz. "Apesar de ser uma banda reduzida, conseguimos misturar esses instrumentos que proporcionam uma harmonia que representa a música brasileira", comenta. Em entrevista ao O POVO, Armandinho explica que, por meio dessa apresentação, conta sua trajetória na música, quase um sinônimo da sua vida pessoal.
A evolução que ele ajudou a construir é algo de que sente muito orgulho, pois a construção da guitarra baiana é um ponto marcante para o artista. Seu instrumento, o cavaquinho, precisava de algo que trouxesse mais da personalidade do baiano. O artista que nasceu da música feita para o Carnaval também é um grande amante do rock, com referências como o guitarrista Jimi Hendrix.
"O cavaquinho é minha guitarra", ele explica que assim surgiu a guitarra baiana, porque queria a personalidade e timbre do rock para a música que estava trabalhando em Salvador. Armandinho diz sentir orgulho de que sua ideia tenha influenciado artistas brasileiros.
Outra alteração em instrumento que ele cita foi a modificação do bandolim com uma quinta corda, influenciando outros compositores e se tornando uma característica da música brasileira. "Eu costumo dizer que o meu bandolim tem origem com o Jacó do Bandolim, mas com uma pegada do Jimi Hendrix". E completa: "Aconteceu pelo meu desenvolvimento com a música, influências e as minhas origens".
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A mistura de ritmos foi algo que aprendeu observando a dupla Dodô e Osmar. Ele explica que a criação do trio elétrico foi fruto do acaso, seu pai - Oscar Macêdo - e a dupla, Dodô - tinham uma paixão pela música e uma "intuição para melhorar o instrumento". "Meu pai tinha um lado construtor, ele que desenvolveu as carrocerias para os Carnavais de Salvador" - e, passando os anos, surgiram outros "carros e caminhões" seguindo os padrões.
"O nome trio elétrico, na verdade, era o nome do grupo em que meu pai fazia música em cima desses carros, mas acabou se popularizando como o nome desse automóvel usado nos Carnavais e festas carnavalescas", explica Armandinho.
Nascido em Salvador, Armandinho está no mercado da música desde os 15 anos, e de lá para cá marcou o Carnaval da vida de muitas pessoas. "A música que meu pai fazia e eu tenho feito é algo atemporal, a nossa história musical atravessa o tempo", comenta o artista.
O propulsor da guitarra baiana também explica que faz parte da "história do Carnaval" e comenta com orgulho o surgimento de novos artistas que fazem uso de suas criações, como Léo Santana, Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Carlinhos Brown. Mas essa marca no Carnaval brasileiro não foi algo que ele fez sozinho.
Armandinho destaca que suas parcerias com o cearense Fausto Nilo e com o baiano Moraes Moreira foram fundamentais para a construção de músicas atemporais, que seguem sendo produzidas nos Carnavais do Brasil. "São músicas de quase 50 anos atrás, mas as pessoas continuam amando e pulando Carnaval com nosso trabalho".
Para além de sua contribuição para a música carnavalesca, ele considera que "o Carnaval surgiu com dois gênios (Dodô e Osmar)". Armandinho reforça que a criação do trio elétrico e as alterações feitas nos instrumentos fazem parte da "evolução musical" brasileira.
"Para nós, a música é intuição, não somos clássicos, fazemos música popular, o que a gente escuta e gosta", diz. Cantar com emoção e pertencimento faz parte do processo criativo de Armandinho desde sua infância e continua da mesma forma. Ele acredita que, talvez por isso, suas músicas tenham marcado tantas pessoas e tantos Carnavais.
"O trio ainda é grande", diz. Sua herança do trio elétrico saiu de Salvador e faz parte de muitas festas carnavalescas. Eventos como o Fortal, no Ceará, e o Carnatal, no Rio Grande do Norte, adotaram o trio elétrico para realizarem o Carnaval fora de época. Além disso, artistas de variados estilos, atualmente, fazem shows especiais em trios elétricos no período de folia - como Anitta, Luisa Sonza e até a banda Lagum.
A tradição do Carnaval que surgiu em Salvador com a família de Armandinho faz parte da memória afetiva do brasileiro. E a herança que o artista deixará para as gerações futuras será essa fusão de ritmos, que ele considera "ser o pré-axé". A essência de seu trabalho é produzir a música popular que alegra e diverte quem a escuta, que continua relevante, honrando a tradição e a inovação na música baiana.
Show Armandinho Macêdo Trio