Sem grandes holofotes, a Netflix lançou mais um suspense policial que alcançou o Top 5 das produções mais assistidas da plataforma desde a estreia na sexta-feira, 6. "Sobreviventes" — ou "The Survivors", como é o nome do livro australiano de Jane Harper que inspira a série — conta a história de Kieran Elliot (Charlie Vickers). Ele retorna para sua terra natal, a fictícia Evelyn Bay, 15 anos após a morte de dois homens, um deles sendo seu irmão, e o desaparecimento de uma mulher.
Ao voltar para casa com a esposa Mia Chang (Yerin Ha) e a filha, ele é finalmente desafiado a lidar com o luto familiar e segredos antigos que o assombram quando a morte de uma jovem traz à tona feridas do passado para a comunidade.
A série, dividida em seis episódios, apresenta desde o início uma história envolvente e, de maneira crua, aborda as consequências de tentar engolir o luto e a dor da culpa, com uma ótima dose de mistério. Ao contrário de muitas obras do gênero, nas quais muitas vezes não há um bom manuseio entre o que fica nas sombras e sob a luz do telespectador, o enredo da série australiana sabe ser bem dosado de modo a surpreender a cada nova revelação.
Parte dessa boa construção passa pela atuação de Charlie Vickers. O ator de "O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder" (2022) consegue dar um ótimo vislumbre de todas as dores carregadas por Kieran, principalmente quando é exigido em cenas de confronto. O elenco de apoio também não deixa a desejar.
Sua parceira de cena, Yerin Ha, que assumiu recentemente o protagonismo da quarta temporada de Bridgerton (a ser lançada em 2026) consegue brilhar — e justificar porque é elogiada pela produção da série de época — apesar do co-protagonismo da sua personagem. A intérprete tem uma ótima construção ao mostrar como lida com o luto de forma diferente da família Elliot, o que também é um bom ponto para o roteiro.
Em termos de fotografia e filmagem, "Sobreviventes" tem a inigualável Tasmânia não só como plano de fundo, mas também como personagem. Os cenários de tirar o fôlego se encaixam bem na narrativa, dão um bom tom ao suspense e ao drama. As paisagens se incorporam até mesmo nas tramas individuais.
Os poucos pecados de "Sobreviventes" podem ter ficado na construção da narrativa, como a rapidez em abordar as mortes de uma forma que não conecte tanto as vítimas com o público. Talvez seja por isso que o nome da série aborde quem ficou e como eles lidaram com as perdas. Porém, as complexidades poderiam ter sido construídas de maneira mais detalhada.
Há também alguns enredos que talvez soem como uma ponta solta, principalmente se o telespectador desconfia do personagem errado na sede por justiça. Entretanto, não chega a estragar o desfecho da história, tanto para quem assistirá sem ler o livro da Jane Harper como para quem é fã da obra da autora.
Mesmo sem tanto investimento da plataforma, "Sobreviventes" tem tudo para surpreender os espectadores ao finalizar com reflexão sobre busca por justiça.
"Sobreviventes"