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Cine PE: cinema, paixão e Carnavais são destaques no festival
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Cine PE: cinema, paixão e Carnavais são destaques no festival

Prestes a completar 30 anos, Festival Cine PE celebra a produção do cinema pernambucano em ano histórico para a cultura
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Estrelado por Analu Prestes e Tânia Alves,
Foto: CRYS LIVRA/DIVULGAÇÃO Estrelado por Analu Prestes e Tânia Alves, "Senhoritas" aproxima duas mulheres idosas que atravessam diferentes visões de mundo

Não poderia haver momento mais eletrizante para acontecer um festival de cinema em Pernambuco. Há exatamente um mês, "O Agente Secreto" se consagrava com dois prêmios históricos no 78º Festival de Cannes: Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Direção para Kleber Mendonça Filho. Há quatro meses, Gabriel Mascaro vencia o Urso de Prata por "O Último Azul" no 75º Festival de Berlim.

No palco do 29º Cine PE, que começou na última segunda-feira, 9, os elogios a esses grandes acontecimentos se repetiram insistentemente como forma de cristalizar uma celebração próxima a outros grandes orgulhos locais, como o Carnaval e seus poetas. Ao longo da semana, o festival engatou nessa comoção coletiva para não deixar a peteca cair: diferente do Cine Ceará, os filmes da mostra pernambucana são exibidos na cerimônia noturna, garantindo uma plateia com amigos e familiares dos realizadores, sempre muito empolgados com as estreias.

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O dia de maior comoção foi na quinta-feira, 11, com exibição de "Senhoritas" da diretora estreante Mykaela Plotkin. O filme fez sua estreia mundial em 2024 no 33º Festival Biarritz de Cinema Latino-Americano, vencendo o Prêmio do Júri, e chegou ao Brasil numa oportuna véspera de Dia dos Namorados. Estrelada por duas artistas com amplo currículo, Analu Prestes e Tânia Alves, a trama questiona a vitalidade negada ao corpo das mulheres idosas.

"A gente tá aqui pra isso", responde o avô quando a filha lhe pede para cuidar da neta nas tardes da semana. No canto da sala, a avó (Analu) observa em silêncio com um olhar secretamente aflito. Será mesmo que ela quer "estar ali" só para isso? Ser uma avó? Esse chacoalho acontece por conta de Luci (Tânia), uma grande amiga da época da faculdade que retorna ao Brasil. Seu espírito livre e transgressor à ordem do que se espera das "senhoras de idade" acaba comovendo Lívia de uma forma feroz.

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"Na terceira idade, parece que nos negam o tesão, o sexo, a masturbação", comentou Analu na coletiva de imprensa, revelando que foi a primeira vez que ela expôs tanto o próprio corpo no cinema. As cenas de sexo, de fato, são grandes destaques do filme justamente por serem simples, delicadas e diretas.

Outros filmes no Cine PE

Na competição de curtas-metragens, Pernambuco também buscou as sensações sobrenaturais. Em "Babalu é Carne Forte", de Xulia Doxangui, Diana volta à cidade natal para a festa de São Cosme e Damião e começa a ser assombrada por um garoto, seu irmão gêmeo que morreu ainda na infância.

A ausência se repete em "Lança-Foguete", de William Oliveira, ao falar de uma cidade em que as pessoas LGBT estão sendo abduzidas por alienígenas cujas intenções não são claras. Em "Sertão 2138", de Deuilton B. Junior, os ricos é que foram "abduzidos" para uma estação espacial "saudável". De passagem na Terra para concluir estudos sobre o ar poluído, uma cientista acaba encontrando uma criança que não terá a mesma oportunidade que ela de abandonar o planeta.

Foi curiosa a exibição desses dois filmes em sequência porque, ao invés de se potencializarem, a aproximação acabou expondo suas fragilidades - mas, afinal, se eles são mais "ideias de um filme", também há a licença poética dessa sessão acontecer em um festival de cinema que também é atraído pelas experimentações.

Ao longo da semana, o Cine PE mostrou que não está atrás apenas dos "Agentes Secretos" e "Senhoritas", mas também dos embriões e dos projetos. Se isso despressuriza a plateia que não está familiarizada com as equipes, por outro lado, causa a celebração de um talento nato à sociedade pernambucana de criar arte não só para defender sua própria cultura, mas principalmente para criá-la. Nesse culto a uma tradição que não vive só de passado, mas também de imaginar o futuro, fazer cinema virou Carnaval.

O Cine PE segue até o próximo domingo, 15, em Recife, quando será realizado o anúncio dos vencedores e entrega de troféus na solenidade de encerramento.

*O jornalista Arthur Gadelha viajou a convite do evento.

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