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Servidores da Secult-CE se reúnem para decidir se entram em greve
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Servidores da Secult-CE se reúnem para decidir se entram em greve

Servidores da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) se reúnem em assembleia nesta quarta-feira, 18, para decidir se entram em greve
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Servidores da Secretaria da Cultura do Ceará fizeram manifestação durante evento com presença de Elmano de Freitas (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Servidores da Secretaria da Cultura do Ceará fizeram manifestação durante evento com presença de Elmano de Freitas

Uma Assembleia Geral Extraordinária a ser realizada nesta quarta-feira, 18, pode deliberar sobre indicativo de estado de greve de servidores da Cultura do Ceará. O movimento ocorre diante da tentativa de fortalecer reivindicações sobre a implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) da categoria.

A assembleia ocorre a partir das 14 horas na sede do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará (Mova-se), localizada no Centro de Fortaleza. A pauta inclui também a avaliação das mobilizações em torno do PCCS da Cultura no Ceará.

A ação envolve os servidores da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE). Uma greve impactará diretamente os trabalhos realizados na pasta. O desejo de servidores na implantação do PCCS está relacionado ao fato da política ser um mecanismo de valorização do trabalhador.

Com o PCCS, são estabelecidos critérios e caminhos para o desenvolvimento profissional dos servidores, permitindo avanço na carreira. A proposta dos trabalhadores mobilizados inclui recomposição da remuneração base e revisão das gratificações e progressões.

Além disso, solicita reconhecimento da qualificação técnica de “um corpo funcional altamente especializado - composto por servidores com formação em nível de especialização, mestrado e doutorado”.

A implantação do PCCS da Cultura está como meta no Plano Estadual de Cultura do Ceará, aprovado em 2016. O plano também previa realização de concurso e reestruturação do organograma da secretaria.

O primeiro concurso foi realizado em 2018. Desde então, servidores cobram a efetivação do plano, atravessando espera de nove anos em relação ao compromisso firmado por lei e três anos de mobilizações contínuas por parte dos profissionais.

De acordo com a comissão de servidores mobilizada pelo PCCS, a implantação do plano “é importante para corrigir uma distorção histórica”. Ela afirma que os servidores da Secult-CE recebem salários defasados e não têm plano estruturado de progressão e valorização.

Assim, o PCCS, garante “reconhecimento da formação acadêmica, promoção por mérito, progressões funcionais objetivas e melhorias das condições de trabalho”. Além disso, “qualifica o serviço público cultural, trazendo mais eficiência, continuidade e motivação aos seus servidores”.

“Isso impacta na vida dos diversos atores culturais, artistas, produtores, proponentes e demais profissionais e, ainda, na economia de todo o estado, haja vista que com a ocorrência de atividades culturais como exposições, shows, apresentações de todos os tipos a economia local é movimentada, e o turismo é fomentado, gerando emprego e renda não apenas para as pessoas ligadas a área cultural, mas diversas outras que atraem receitas para os seus municípios”, destaca a comissão.

Longo histórico de reivindicações

O cenário de possível greve ocorre diante de longo histórico de reivindicações dos servidores da Cultura do Ceará. Desde a nomeação dos profissionais selecionados no concurso de 2018, atos foram realizados constantemente pelos trabalhadores. Conforme a comissão responsável pelas mobilizações, porém, muitas delas acarretaram promessas de reuniões que não ocorreram ou que não apresentaram “resultado real”.

Em documento ao qual O POVO teve acesso, os servidores destacam, além dos objetivos das mobilizações, a cronologia dos atos realizados nos últimos anos e marcos relacionados à Secult. O arquivo resgata o ano de 2007 como o ano em que o primeiro PCCS começou a ser formulado, ainda na gestão da então secretária Cláudia Leitão. Em 2009, foi criada a Associação dos Servidores da Secult-CE (Assecult).

No "dossiê" dos servidores, é citado também o marco da implantação do Plano Estadual de Cultura do Ceará (PEC), no qual consta a realização do primeiro concurso da Secult e a elaboração do Plano de Cargos e Carreiras em até 12 meses após a aprovação do PEC.

"Considerando este prazo, estamos nove anos em atraso em relação ao que foi proposto no governo anterior", afirma o documento. Em março de 2020, a primeira turma de servidores tomou posse e entrou em exercício poucos dias antes do primeiro lockdown da pandemia.

"Ao longo do ano os servidores trabalharam auxiliando a implantação de vários mecanismos para que a Cultura não parasse, como: Edital Dendicasa, Edital da LAB e outros", enfatizam os responsáveis pelo documento.

Em 30 de junho de 2021 - ou seja, há quase quatro anos -, o então titular da Secult, Fabiano Piúba, e o presidente da Assecult, Henrique Jorge Barreira, entregaram ao secretário Mauro Filho, da Seplag, o processo com o projeto do Plano de Cargos e Carreiras. Em agosto daquele ano, Piúba havia garantido em reunião com servidores que "o Plano da Secult seria implementado até 2022".

Mobilizações pacíficas para chamar atenção à pauta

Os anos se passaram, mas as manifestações continuaram. Os trabalhadores aproveitavam inaugurações de equipamentos, como a Estação das Artes (2022), para reforçar a mobilização. Em junho de 2024, na inauguração da nova sede da Secult, houve protesto "simbólico e pacífico" cobrando a implantação do PCCS.

O evento contou com participação de Elmano de Freitas, que recebeu das mãos de uma servidora a camisa da campanha do PCCS. Novamente, ele prometeu a implementação do PCCS da Cultura. Em fevereiro de 2025, no encontro Institucional das Metas 2025 da Secult, Luisa Cela afirmou que o plano sairia ainda neste ano.

Antes da assembleia a ser realizada nesta quarta-feira, 18, a última manifestação de maior visibilidade havia sido no Triplo Fórum Internacional de Governança do Sul Global, que teve as presenças de Elmano de Freitas, de representantes dos Brics e de outras autoridades convidadas.

O desejo era “pressionar as instâncias responsáveis pela instalação de uma mesa de negociação efetiva com cronograma definido”, segundo a Comissão de Mobilização pelo PCCS. Segundo um dos integrantes da comissão, os manifestantes vestiram blusa amarela com palavras de ordem da pauta quando o governador começou a falar no evento.

O intuito era tirar uma foto com Elmano, mas, quando saiu do palco, se retirou do espaço e ignorou os servidores, de acordo com um servidor ouvido pelo O POVO que não quis ser identificado.

Muitas reinvindicações sem avanços efetivos

Na ocasião, a comissão foi questionada pelo O POVO sobre como estavam sendo as tratativas com a Secult. Em resposta, afirmou que os servidores enfrentam cenário de diálogo fragilizado e ausência de ações concretas, apesar das “sucessivas promessas de gestores e representantes do governo desde 2021”.

“O processo administrativo do PCCS iniciou-se em 27 de maio de 2024, tramitou para a Secretaria de Planejamento (Seplag) em 25 de outubro de 2024 e aguarda análise na Célula de Carreiras do órgão desde fevereiro de 2025, e, mesmo após o compromisso da Secretária da Cultura de que o plano sairia ainda este ano, não houve avanços efetivos”, declara. A comissão também acrescenta: “As manifestações, reuniões e atos simbólicos têm sido recebidos com escuta, mas sem retorno prático até o momento”.

O POVO também enviou, no dia da manifestação, questionamentos à Secult-CE sobre as mobilizações pela implantação do PCCS. A pasta afirmou que tem acompanhado a articulação da Associação dos Servidores referente ao PCCS da Cultura e acrescentou que a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) também passou a integrar as discussões em 2024, após a retomada da mesa de negociação permanente e reativação da Comissão do PCCS.

Quanto à previsão de quando será implantado o PCCS, a Secult informa que “estão sendo realizadas análises técnicas pela Secult e pela Seplag” e só após essas análises a proposta de implantação é levada à aprovação. Conforme a secretaria, há diálogo constante com os servidores desde 2021 e foram realizados “avanços importantes”, como reajuste do vencimento-base da categoria, “com vistas à valorização da carreira do servidor público da Cultura”.

“Além disso, a Lei Complementar nº 272, de 30 de dezembro de 2021, promoveu a reestruturação das carreiras dos servidores do quadro de pessoal da Secult, instituindo o Grupo Ocupacional de Atividades de Gestão Cultural (AGC) e a Gratificação de Desempenho de Atividades de Desenvolvimento Cultural (GDADC), cujo valor corresponde a até 50% (cinquenta por cento), incidente sobre o vencimento-base do servidor — sendo até 50% (cinquenta por cento) em função do alcance de metas institucionais e até 50% (cinquenta por cento) em decorrência de metas individuais”, acrescenta.

Diante da assembleia marcada para esta quarta-feira, 18, sobre deliberação de greve dos servidores, O POVO voltou a entrar em contato com a Secult. A pasta foi questionada sobre como uma possível greve afetará os trabalhos que envolvem a secretaria, como a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (Pnab).

Além disso, foi demandada sobre a quantidade de servidores concursados e temporários que atualmente trabalham na Secult e qual a importância deles na promoção da Cultura no Ceará. O órgão não havia respondido aos questionamentos até o fechamento desta matéria.

Reivindicações de servidores

  • Incremento do salário base: de R$ 3.225,22 para R$ 4.438,77
  • Alteração da Gratificação de Desempenho: de 50% para 100%
  • Alteração do percentual de mudança de classe: de 3,5% para 5%
  • Alteração do percentual de mudança de letra: de 6% para 15%
  • Promoção por mérito em titulação para especialistas, mestres e doutores
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