Em Porto, costuma-se dizer que é possível medir a quantas anda o turismo na Cidade pelo tamanho da fila para entrar na Livraria Lello, no Centro. Bem… a julgar pela quantidade de pessoas que aguardavam para entrar no dia 5 de junho, quinta-feira, por volta das 17h30min, próximo do horário de fechamento, o setor vai muito bem.
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O edifício, criado em 1906, ao estilo neogótico, virou parada obrigatória dos turistas desde que começaram a circular informações, por visitantes, de que foi ali que a escritora J.K. Rowling se inspirou para criar as famosas escadarias de Hogwarts, a escola de magia da saga Harry Potter.
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A autora morou em Porto entre 1991 e 1993, período em que começou a escrever "Harry Potter e a Pedra Filosofal". No entanto, em entrevistas concedidas em 2015, ela negou que o lugar tivesse sido inspiração para ambientação da história.
Mas, entre o dito e o desmentido, é fato que a "fama pegou". E com tanta força que a direção da livraria passou a cobrar entrada dos visitantes, como uma forma de manter a sustentabilidade do negócio, já que a maioria das pessoas que iam ao local estava mais interessada em tirar fotos, do que comprar livros.
Hoje são estabelecidas algumas categorias de ingresso que variam entre 10 euros, a mais simples, e 50 euros, que inclui entrada prioritária e visita guiada à Sala Gemma. O valor dos bilhetes é convertido em desconto na compra de livros.
Na alta temporada, o espaço chega a receber 3,5 mil pessoas por dia. Independentemente dos boatos, a livraria vale a visita, não apenas por sua inegável beleza, mas pela riqueza de detalhes que abriga.
Na fachada, por exemplo, curiosamente, o nome em destaque não é o da Livraria Lello, mas uma homenagem a Ernesto Chardron, dono de uma livraria mais antiga, de 1869, que funcionava a poucos metros dali. Ele ficou famoso por difundir a literatura e o hábito de ler - inclusive, distribuindo livros nas ruas e fazendo leituras coletivas - em uma época em que a maioria da população portuguesa era analfabeta.
Do lado de dentro, chama atenção a decoração em gesso pintado de forma que parece madeira; a suntuosa escada de acesso ao piso superior; assim como o vitral no teto, que ostenta o monograma e o lema da Livraria: Decus in Labore (Dignidade no Trabalho).
No primeiro piso da Livraria Lello, dentre os mais de 600 títulos em exposição, também não passa despercebida a exposição "O Rosto do Porto", da escultora Ester Monteiro. São pequenos bustos, moldados em barro, que representam personalidades da cidade.
Há ainda a sala Gemma, espaço reservado, onde estão em exposição livros raros, manuscritos, primeiras edições e livros-objeto. Lá, é possível encontrar, por exemplo, um exemplar da primeira edição de Moby-Dick, or; The Whale, de Herman Melville, que pertenceu a Jim Morrison.
A livraria também adquiriu a biblioteca pessoal de Amy Winehouse, composta por mais de 200 livros, que oferece um olhar íntimo sobre a vida e o processo criativo da artista.
Entre peixes, sal e arquitetura
A poucos quilômetros do centro de Porto, Matosinhos já não é só um destino de passagem de quem faz o caminho português de Santiago de Compostela. Suas raízes estão na pesca e na produção de sal, mas hoje ela pulsa com uma energia moderna que mistura gastronomia, cultura, arquitetura e turismo de experiência.
O Mercado Municipal de Matosinhos é um retrato dessa transição. Inaugurado em 1952 e tombado como Monumento de Interesse Público, em 2013, o espaço mantém a alma dos antigos mercados portugueses — peixe fresco, flores, frutas, queijos, artesanato — mas com uma arquitetura moderna e a sofisticação dos novos empreendimentos que estão chegando ao espaço.
Um deles é o Bistrô by Vila Foz, liderado pelo chef Arnaldo Azevedo, com estrela Michelin, que está há um ano em operação. O espaço alia a sofisticação da cozinha de autor com a tradição do mercado, onde a frescura dos ingredientes é o protagonista dos pratos.
Lá, por exemplo, é possível adquirir o pescado diretamente nas bancas do mercado - e a lista é farta, com variedades de peixe, lula, polvo, camarão, mariscos - e levá-los para serem preparados no restaurante, ou optar pelas sugestões do cardápio. O valor do peixe é o mesmo, na banca ou no restaurante, sendo que no último é adicionado um valor pela confecção do prato
e das guarnições.
A gerente de vendas do Hotel e Spa Vila Foz, Susana Tavares, explica que o projeto do bistrô nasce da ideia de valorizar o turismo da Região do Porto a partir do que ela tem de mais autêntico, além de aumentar a conexão de um hotel cinco estrelas com o público local.
"É um mercado muito emblemático, que vai para além dos mercados mais turísticos. É um local que faz parte do dia a dia dos moradores locais, faz parte da rotina de compra do peixe, dos frutos, dos vegetais, dos legumes, tudo muito fresco. E a ideia é exatamente essa: sermos um espaço que podemos proporcionar aos clientes a experiência do contato das bancas do peixe com quem nos visita".
Ela explica que o turismo do Porto tem evoluído de uma forma muito sustentável, mas sem perder a essência. "A cidade também cresceu nos últimos anos com boa infraestrutura, a nível de hotéis, temos quatro, cinco estrelas, mas também no desenvolvimento de outros produtos. Por exemplo, a indústria de conservas sempre foi a principal aqui. Neste momento, as conservas mantém aqui as suas fábricas, mas também já abriram centros de visitas e museus. Portanto, que estão, então, dentro da rota do que quem nos visita".
Mas o mercado também guarda histórias de vida e frequentá-lo é conhecer o espaço pelo olhar dos moradores. Uma delas é a de Cacilda dos Santos, de 74 anos, galinheira e figura tradicional da feira. Quando ela começou, aos dez anos, ajudando a mãe, eram pelo menos 12 mulheres nesta função. Hoje, além dela, há apenas mais uma.
Mas, no boxe de Cacilda, é possível encontrar muito além de galinhas vivas: há frangos, pombos, coelhos e uma imersão na cultura local. Foi da venda dos animais e de ovos frescos, por exemplo, que ela conseguiu criar e educar os filhos, fez amigos e passa seus dias de segunda-feira a sábado, de 6h30min às 17 horas.
De fala fácil, ela lembra com satisfação a história do lugar, como o mercado mudou ao longo dos anos, e diz que, embora, o morador local ainda seja o seu principal freguês, tem sido cada vez mais comum a chegada dos turistas: "Estar aqui me traz muito gosto, me sinto viva".
*A jornalista viajou a Porto a convite da Azul Linhas Aéreas e do Turismo Porto e Norte