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Bonecos Labubu: entenda nova tendência de 2025
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Bonecos Labubu: entenda nova tendência de 2025

|fenômeno na web| Grande tendência de 2025, Labubu sofre críticas ao destacar o consumo feminino
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Bonecos Labubu
 (Foto: Reprodução/Pop Mart)
Foto: Reprodução/Pop Mart Bonecos Labubu

Felpudos, coloridos e com sorriso com dentes pontudos nada amigáveis. Assim podemos descrever os Labubus, colecionáveis que viraram tendência neste ano. Os monstrinhos foram criados por Kasing Lung em 2015. O artista, ilustrador e designer chinês se inspirou em contos de fadas nórdicos para as criaturas.

Inicialmente, os coelhos bizarros eram protagonistas do livro "The Monsters", publicado por Lung em 2015. Quatro anos depois, o artista assinou um contrato de exclusividade com a Pop Mart, que passou a vender miniaturas e colecionáveis dos personagens. A popularidade só veio em 2025, quando estrelas como Lisa, do Blackpink, usaram o boneco como chaveiro.

Desde então, vídeos de pessoas mostrando os seus labubus ou lafufus (versão não original do item), realizando unboxing das "blind boxes" (caixinhas surpresa com itens colecionáveis), onde os produtos vêm, viralizaram tanto no Instagram quanto no Tik Tok. A hashtag Labubu acumula 1.8 milhões de publicações na rede social chinesa até o momento de produção deste texto.

Os conteúdos postados também incluem críticas, como o vídeo da influencer de humor Gebenne, que orienta as consumidoras de Labubu "irem lavar uma louça". Indicando que o novo hobby, por não ser algo produtivo, não é válido. Henrique Cannavo, outro influenciador de humor, publicou um vídeo criticando o consumo por representar que o "capitalismo venceu".

É peculiar que os produtos consumidos por mulheres tenham gerado tais comentários, já que objetos colecionáveis consumidos em maioria por homens - como figuras de ação, cartas de animes -, não recebem o mesmo tipo de recepção negativa.

Patriarcado estrutural afeta críticas

A publicitária Ariana Melo explica que esse fenômeno ocorre porque a sociedade ainda desvaloriza tudo o que é associado ao universo feminino, um dos efeitos do patriarcado estrutural. "Quando uma mulher gosta, por exemplo, de maquiagem, de colecionáveis como o Labubu ou de qualquer item ligada ao afeto, logo surgem julgamentos dizendo que é fútil, exagerado ou coisa de criança, mesmo quando esses objetos trazem conforto, descanso ou memória", ilustra a também professora da Universidade de Fortaleza na área de Comunicação.

"Enquanto isso, objetos masculinos com função parecida são tratados como hobbies legítimos. As mulheres são pressionadas a serem produtivas o tempo todo", reforça a especialista. Segundo ela, o consumo de mulheres tem que vir acompanhado de uma boa justificativa e performar utilidade para ser aceito.

Para a estudante de Letras Raquel Rodrigues, a criação feminina é realizada de forma em que o lazer da mulher seja proibido, diferente dos homens. "Ninguém critica homens quando eles passam a noite toda jogando vídeo game ou se vestindo de super heróis para ir assistir a um filme no cinema, porque ninguém espera que eles casem, tenham filhos ou cuidem da casa", pontua a moça de 26 anos que coleciona Labubu e Sylvanian Familys.

Maria Eduarda, outra colecionadora de Labubu, também concorda que produtos feitos para o público feminino sofrem com certa rejeição. "Acho que tudo que faz parte e é mais característico do universo feminino é mais facilmente criticado. Tudo que seja divertido pra mulheres vai ser ridicularizado ou problematizado porque nossa sociedade odeia mulheres", afirma a estudante de Psicologia de 24 anos.

Segundo Maria, há uma cultura presente na sociedade que incentiva o amadurecimento precoce de mulheres, por isso os homens são mais incentivados a cultivar hobbies. "Existe uma cultura de amadurecer mulheres bem mais cedo do que homens. Eles podem ser crianças por muito mais tempo que a gente, e isso leva a uma certa liberdade para prolongar essa fase até a idade adulta".

Além das críticas, a percepção de que mulheres que investem em colecionáveis fofinhos são infantis é mais um reflexo da deslegitimação do direito ao consumo por parte do público feminino. A bacharel em Moda, Anna Rolim salienta que isso também é resultado do machismo enraizado na sociedade. "Sempre somos julgadas como infantis, pois a sociedade julga normal uma mulher séria e madura precocemente e um homem imaturo até depois da vida adulta".

Colecionadora de Labubu, Anna explica que isso é uma consequência da criação masculina. "O homem não tem esse dever apenas porque fomos ensinados que o homem só deve trabalhar e nada mais, o resto é com a mulher", continua. Raquel afirma que, para as pessoas, é como se a mulher, ao fazer algo que gosta, deixasse automaticamente de cumprir com responsabilidades.

"Quando a mulher tem hobbies como o colecionismo, ou quando gosta de rosa ou de pintar, é como se ela fosse deixar de ter as responsabilidades esperadas, mas não é o que ocorre na realidade", salienta a graduanda em Letra pelo Centro Universitário Anhanguera Pitágoras.

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