Quando a mídia do sudeste olha para a historiografia nordestina, costumam se repetir narrativas sobre seca, pobreza e miséria - nesse caldeirão está o Cangaço, um dos movimentos sociopolíticos mais debatidos como revolta à essa condição. Esse jogo de ficção ganha densidade quando autores do Nordeste são incluídos, contexto que sustenta a invenção de "Guerreiros do Sol", nova novela original da Globoplay.
Seguindo um novo formato de lançamento, o streaming lançará cinco episódios por semana para proporcionar certa rima com a tradição diária da televisão brasileira. O bloco inicial de episódios foi lançado na quarta-feira, 11 de junho, e segue ao longo do segundo semestre.
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Em entrevista ao O POVO na semana de estreia, a equipe e parte do elenco contaram sobre a adaptação do processo criativo entre estúdio e sertão. George Moura, roteirista e criador principal da obra, que é natural de Pernambuco, não escondeu a emoção: "Eu saí do Recife há 30 anos, mas esse lugar nunca vai sair de dentro de mim".
Com portfólio extenso, George é autor de produções televisivas marcantes como "Amores Roubados", "Onde Nascem os Fortes" e "O Rebu". Em 2023, recebeu o Troféu Eusélio Oliveira em homenagem no 33º Cine Ceará - como poeta que é, proferiu um dos discursos mais tocantes desses últimos anos no festival, terminando com uma piada dignamente nordestina: "Me disseram que quando um cabra pernambucano é homenageado no Ceará é porque se tornou lenda".
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Sua nova trama não se trata de uma adaptação, apesar do material original de referência promover um grande direcionamento histórico. O livro "Guerreiros do sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", de Frederico Pernambucano de Mello, foi lançado em 1985 e "situa o fenômeno nordestino do cangaço a partir de seus pressupostos históricos: social, político, geográfico, etno-histórico, religioso, climático, alimentar, fotográfico, musical, de vestuário etc".
"Frederico é a nossa bússola. Ele leu todos os capítulos e comentou, como uma espécie de guardião do cangaço dentro da nossa dramaturgia. Ele foi muito importante porque deu palestra pro elenco e pra equipe técnica. É um apaixonado. Tem uma visão crítica sobre o cangaço, mas é fascinado, assim como eu", explica George.
Presente na mesa, o diretor Rogério Gomes ponderou sobre a persistência do tema ao longo da história do cinema e da televisão. "Não se fala de Brasil sem falar de cangaço. Fomos muito respeitosos e o sertão nos deu o melhor possível. O que essa série traz de novo é sua dedicação. É a maior minutagem que já se deu a uma história de cangaço".
A atriz Isadora Cruz disse que não buscou se inspirar em Maria Bonita, figura feminina mais referenciada nas revisões históricas, mas em Dadá, esposa de Corisco. "A Rosa, na verdade, está mais próxima da Dadá porque ela ia para as batalhas. A Maria Bonita nunca deu um tiro. Ela virou esse mito de mulher forte e guerreira, que ela era, mas não tinha essa força de guerrilha", pontua.
Com 45 episódios e os blocos lançados sempre às quartas-feiras, "Guerreiros do Sol" tem elenco nordestino, como Thomas Aquino, Isadora Cruz, Irandhir Santos, Marcélia Cartaxo e Alice Carvalho. Conta também com os cearenses Fátima Macedo, Georgina Castro, Larissa Goes, Lucas Galvino e João Fontenelle.