Piloto da Williams, Carlos Sainz foi procurado para comentar o que achou de "F1: O Filme". "Acredito que, para um novo fã, vai atrair muita gente nova e vai funcionar muito bem para quem não sabe nada sobre Fórmula 1. Para o fã hardcore, para os jornalistas e para nós (pilotos), vamos ver coisas que talvez pareçam um pouco americanas demais ou hollywoodianas demais".
Ele, que aparece em algumas cenas ao longo de quase 2h40min, não poderia estar mais certo. O filme é um clássico blockbuster de ação. Algo que o diretor Joseph Kosinski ("Top Gun: Maverick", "Oblivion" e "Tron - O Legado") não é novato em fazer.
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É possível ver seus toques na costura de buscar uma sintonia entre o ultramoderno mundo de velocidade, agora do esporte, com a já muito conhecida jornada do herói que precisa fazer as pazes com o passado.
O longa tem como premissa a história de Sonny Haye (Brad Pitt, "Clube da Luta" e "Tróia") que, na década de 1990, era tido como um prodígio da Fórmula 1, destinado a brilhar, até que um acidente na pista levou esse sonho embora.
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Décadas depois, seu ex-companheiro de equipe Ruben (Javier Bardem, "Onde os Fracos Não Têm Vez" e "Piratas do Caribe"), agora proprietário de uma equipe na categoria, clama para que Sonny volte a correr e ajude o time.
O roteiro sempre parece com algo que já foi visto antes. A relação entre Sonny e o companheiro de equipe Joshua Pearce, interpretado por Damson Idris ("Snowfall"), é o clichê de um cabeça dura experiente lidando com um novato prodígio, uma dinâmica com tons da animação "Carros" (2006). É quase como ver Relâmpago McQueen e Doc Hudson discutindo.
Outra receita se repete com a construção das interações do personagem de Pitt com os membros da equipe. Aos poucos, ele vai ganhando confiança até se tornar ponto central da estrutura.
O jeito arrojado de lidar com os desafios, sem se aprofundar em angústias e traumas, é algo que um personagem masculino em filmes de ação tem feito nos últimos 60 anos em Hollywood. Seja mais esperto que todos, flerte com a garota, pegue o prêmio. Os vilões são óbvios; as motivações, simples.
O ponto alto é a plasticidade, a transmissão da sensação de velocidade, que também mostra a assinatura de Kosinski, em uma similaridade com "Top Gun: Maverick" (2022). Mas, agora, os jatos são substituídos por carros. Ver em Imax aumenta a experiência.
Os barulhos dos motores, os segundos de silêncio entre o apagar das luzes e a reação dos pilotos na largada, os sons da pista. Tudo se soma aos toques techno que Hans Zimmer adicionou na trilha sonora. As músicas compostas para o longa completam o clima de "isso tudo é muito badalado", que o filme está ansioso para vender (soa muito como "Tron", também dirigido por Kosinski).
No fim, as palavras de Carlos Sainz fazem sentido. Para quem já acompanha a categoria, alguns pontos precisam ser suavizados. Nada seria tão fácil, desde a produção de atualizações para o carro a ultrapassagens.
Chega a ser divertido tantas figuras conhecidas aparecerem na tela. Fez diferença ver os pilotos e chefes de equipes reais, e até o querido cachorro de Lewis Hamilton (um dos produtores do filme), o Roscoe.
O conhecimento técnico de abordar a produção de assoalhos e asas também é interessante, papel que cabe a Kate (Kerry Condon), tida no filme como a primeira diretora técnica da categoria. As explicações acendem quem já entende, mas atuam para o objetivo do filme: ampliar o espaço da Fórmula 1, especialmente nos Estados Unidos.
E, na prática, vemos que o longa não é o único esforço da categoria para conquistar um mercado que já tinha outros donos do automobilismo, como a Indy e a Nascar.
Para 2026, três etapas da Fórmula 1 vão acontecer no país. É uma tentativa de mudar a visão de fins de semana chiques e elegantes em Mônaco para fins de semana vibrantes, e nem um pouco menos caros, em Las Vegas.
É uma fórmula, como o próprio nome diz. Para a categoria, um padrão de especificidades que nivelam os times. Para o filme, uma jogada simples de afagar quem já é fã e atrair - com velocidade, sequências de ação e personagens fáceis - quem está alheio à categoria.
Dá para se inclinar na cadeira e o coração disparar. E, se o interesse bater, bom lembrar que estamos no meio de uma temporada, com os carros reais.
*Júlia Duarte é coordenadora de Política do O POVO e colunista de Fórmula 1.
"F1 - O Filme"