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Toca do Javali: lugar de resistência e orgulho no coração do Benfica
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Toca do Javali: lugar de resistência e orgulho no coração do Benfica

Na Avenida da Universidade, no bairro Benfica, a Toca do Javali mantém firme uma história de resistência e orgulho
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A Toca do Javali, no Centro de Fortaleza (Foto: FCO FONTENELE/ O POVO)
Foto: FCO FONTENELE/ O POVO A Toca do Javali, no Centro de Fortaleza

Um casarão de três andares e paredes na cor rosa abriga um dos espaços vanguardistas da noite LGBTQIA+ em Fortaleza, a Toca do Javali. Para o que iniciou como um bar de fim de noite, o espaço começou a abrigar "libertinos demais" que vinham expulsos de outras casas de shows no fim da década de 1990 e início dos anos 2000. Eram os "acadêmicos", o "pessoal do teatro", os "artistas".

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Um lugar de construção centenária, uma história de resistência e orgulho há décadas, um espaço que honra a memória e luta LGBT e um público que cresceu e acompanhou. O casarão datado de 1800 pertence a Victor Hugo Sampaio, de 88 anos, um policial federal aposentado e ex-oficial da marinha. Que um dia sentou à mesa com os grandes. Figuras como Castelo Branco e Juscelino Kubitschek cumprimentaram a mão do homem que abriria as portas da própria casa para celebrar o que a sociedade daquela época mais temia: a liberdade.

Agora imagine medalhas de honra, platinas de ombro militar, fotografias de reuniões diplomáticas, tudo isso misturado à pomposidade rosa choque e purpurina da comunidade LGBTQIA+. Esta é a "Toca do Javali", espaço que todas as sexta-feiras, às 23 horas, abre as portas para um público que há muito tempo tem orgulho do que é.

Seu Coronel e a Toca do Javali

"São pessoas que levam a vida como querem, por que tem direito de viver, curtir o que acham que está certo. Na verdade são pessoas ilustres, bem desenvolvidas, cultas e relativamente bonitas", a observação feita pelo "Seu Coronel", assim como é conhecido Victor Hugo, vem de um local marcado todas nas noites de sexta-feira: o "trono". É de uma cadeira à direita da entrada que ele observa quem entra e sai da Toca. Por ele também acontece a curadoria de pessoas no local.

"É pra poder ver a freguesia que tá entrando. E ver quem tá querendo se exibir demais. Não pode ficar nu da cintura pra cima, daqui há pouco vai querer ficar sem calça. Outros bebem demais e já peço pra ir pra casa", diz o Coronel em tom de brincadeira. "E justiça seja feita, todos me obedecem", assegura.
Quem passou pelo crivo do Coronel foi o jornalsita Luciano Almeida. Do tempo da "Patuscada", Luciano tem um compromisso semanal com a Toca do Javali há quase 25 anos. "Um espaço de fruição, de conhecer novos amigos. Conheço gente que quando começou na Toca, tinha 18 anos, hoje já tá com 30 e tantos e que foram ficando. E gente mais velha que também foi envelhecendo", narra o jornalista que é testemunha do sucesso do local.

Quem partilha dessa experiência singularmente alencarina é o diretor teatral Francis Wilker, 45 anos, que sempre que volta a Fortaleza tem um encontro marcado com o casarão. "Vejo na Toca do Javali um espaço voltado ao público gay muito inclusivo. Estar lá me faz pensar nas identidades gays fora de rótulos e padrões, porque você encontra uma diversidade muito grande de pessoas. Num mundo fixado no corpo padrão, jovem, malhado, é interessante lembrar que a comunidade gay envelhece e naquele espaço todo mundo se encontra", relata.

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