Diante das dificuldades, como encher um teatro de pessoas? Para José Alves Netto, diretor do equipamento de artes cênicas de Fortaleza com maior capacidade, o Cineteatro São Luiz, o lema do local ("O São Luiz é nosso") precisa estar nos planejamentos.
"A gente utiliza todas as ferramentas possíveis para atrair o público, tanto para espetáculos nacionais quanto locais. O tratamento é o mesmo para todos, independentemente da origem. Claro que com os artistas cearenses temos uma proximidade maior, facilitando a produção e o contato. Procuramos manter essa interlocução constante até o momento da apresentação", elucida o gestor.
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Para atrair plateia para os espetáculos do Cineteatro, localizado no Centro de Fortaleza, algumas estratégias são adotadas pela equipe, como a exibição de chamada para todos os eventos próximos em cada exibição do equipamento e a divulgação da programação completa do mês no site oficial.
"Esse cuidado visa atrair o público com antecedência. Muitos espetáculos cearenses, inclusive, já têm um público fiel. Não raro, a demanda ultrapassa a capacidade da casa. Infelizmente, nem sempre conseguimos atender a todos", explica.
"Ao longo desses anos, temos desenvolvido ações para atender diversos públicos e faixas etárias. O São Luiz é um equipamento que acolhe públicos intergeracionais. Ele desperta muito afeto nos cearenses — muitos vêm com os pais, depois trazem os filhos e netos. Há um vínculo emocional com o espaço", destaca José Alves Netto.
Ele lembra ainda dos projetos que o Cineteatro São Luiz desenvolve com as escolas a fim de criar afinidade dos novos jovens com diferentes linguagens artísticas - como o "Escola no Cinema", "Cine Educação" e o "Curta Mais Teatro". Essa iniciativa completa o Plano Nacional de Cultura, que busca estreitar os laços entre a educação e as artes.
Na pesquisa de Caio Vidal, "Praticante Cultural — o espectador de teatro na cidade de Fortaleza", publicada em 2025, 17% dos espectadores de teatro em Fortaleza eram professores e 7% estudantes.
Quem argumenta sobre o motivo da ocupação e desocupação de pessoas no teatro é a antropóloga e escritora Argentina Castro, de 49 anos, moradora do bairro Pici e que costuma frequentar peças teatrais que despertam interesse.
"O teatro me toca profundamente, porque é uma arte viva, diferente da televisão ou do cinema. A proximidade com os atores em cena, com seus corpos, vozes, expressões, me mobiliza. Tudo me chama atenção: os movimentos, o figurino, a iluminação, a trilha sonora, as sombras, os objetos cênicos. Cada elemento me provoca sensações, leituras, sentimentos. Por isso gosto tanto de assistir sozinha, embora não ache ruim compartilhar depois com alguém querido. E quando compartilho, é com entusiasmo: recomendo, comento, indico — ou não, dependendo do caso", compartilha.
Ela, que acompanha a divulgação dos espetáculos pelas redes sociais dos equipamentos, também costuma receber indicações de montagens de seus amigos, que reconhecem quando uma peça é "a sua cara": "esse acesso vem tanto do meu acompanhamento direto quanto das trocas com amigos via WhatsApp".
Argentina analisa o consumo de montagens teatrais "como alguém que nasceu, cresceu e ainda vive na periferia" e pontua a "dificuldade de frequentar esses espaços culturais". "São desafios desde a distância física dos espaços até os custos com transporte e ingressos. Também há uma escassez de peças que abordem temáticas relacionadas à experiência periférica, às vivências das favelas, dos bairros menos assistidos por políticas públicas", declara.
Ela acrescenta que "o deslocamento até áreas centrais tem um custo alto de tempo e de dinheiro". Pois, muitas vezes, é necessário pegar mais de um ônibus ou pagar um carro de aplicativo: "especialmente por questões de segurança, sobretudo para nós, mulheres, que enfrentamos uma cidade violenta".
Na pesquisa desenvolvida por Caio, entre os espectadores entrevistados em 11 equipamentos culturais, foi identificado que os mecanismos de acesso até o local dos espetáculos foram carro (46,5%), transporte de aplicativo (25,3%), ônibus (12,1%), bicicletica/a pé (10,1%) e moto (6,1).
Por isso, na opinião da escritora, "seria importante pensar em políticas públicas de transporte que facilitassem o acesso aos espaços culturais da Cidade". Ela cita, como soluções viáveis, linhas que circulassem especificamente por esses locais, com horários pensados para o público periférico.
Argentina Castro finaliza destacando que a periferia "é muito díspar, muito diversa" e representa um importante público para "todo tipo de teatro": infantil, teatro do oprimido, teatro negro, musical, comédia, tragédia, drama, monólogo, fantoches, sombras e "por aí vai".