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Comédias dirigidas por mulheres é tema de debate em festival de cinema
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Comédias dirigidas por mulheres é tema de debate em festival de cinema

Diretoras de cinema falam sobre experiência de trabalhar com a comédia em curtas-metragens exibidos durante 20º CineOp
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Foto: Art In Vitro/Divulgação "Demônia", de Fernanda Chicolet

Para além de uma ferramenta de entretenimento, o riso pode servir como instrumento de crítica. Essa possibilidade foi o que guiou a mesa "O Riso das Medusas", realizada em 27 de junho, durante o 20º CineOP, em Ouro Preto, Minas Gerais. Mediada por Juliana Gusman, curadora assistente do eixo, a discussão se relacionava diretamente com a temática histórica escolhida: o humor das mulheres.

O debate contou com a participação da diretora cearense (radicada em Pernambuco) biarritzzz, a roteirista e diretora Clara Anastácia (RJ), a atriz e roteirista Fernanda Chicolet (SP), a diretora Sabrina Fidalgo (RJ) e as cineastas Sandra Kogut (RJ) e Gisella de Mello (RJ). Cada uma abordou seus modos de trabalhar o humor no audiovisual partindo de referências distintas, mas que traziam o mesmo objetivo: levar a audiência a reflexões, fossem sobre a vida ou sobre questões sociais.

Como em "Onde está MyMye está Mastroiagnne?" (2023) que parte de um meme e um jogo on-line para construir uma narrativa disruptiva sobre autoconhecimento. Na trama, uma cabeleireira se vê desesperada após o sumiço repentino de Mymye, uma das amigas do jogo "Second Life", onde a protagonista trabalha como prostituta.

Baseado em fatos reais, a produção usa tanto imagens do jogo em baixíssima qualidade quanto da própria cabeleireira. A decisão de trazer imagens saturadas foi um modo consciente de biarritzzz de mostrar que para se comunicar algo, não é preciso alta definição, segundo defendeu a diretora.

Mesmo com o visual saturado e os gráficos de pouca definição do jogo, Mymye traz uma mensagem sensível, bonita e divertida para quem assiste. Além disso, para a cearense/pernambucana, trabalhar dessa forma é um modo de tornar a crítica acessível. "O humor chega em lugares que a militância não chega sozinha", argumentou a cineasta.

"Demônia - Melodrama em 3 atos" (2016) também é inspirado em um meme. No caso, a obra traz a história não contada de Socorro, uma feirante que viralizou na internet devido ao modo que reagiu ao descobrir a traição do marido.

No curta-metragem de Fernanda Chicolet, a feirante é transformada na vendedora de pamonha Myriam, interpretada pela própria Fernanda, que descobre que o marido Silvan (Henrique Schafer) está traindo-a com seu primo Rildo (Vinícius de Oliveira). Mostrando o antes, o momento da descoberta e as consequências após o viral.

O resultado não é só uma obra engraçada, mas também usa da metalinguagem dentro da trama, rendendo mais camadas de reflexão sobre o impacto do meme na comunicação contemporânea. Algo perspicaz e inteligente, que gerou dúvidas em Fernanda sobre definir o gênero do curta. "Não sei se poderia enquadrá-lo como comédia, porque ele passeia pelo drama, brinca com o meme", argumentou durante o debate.

Com direção de Clara Anastácia, "Escasso, um melodrama decolonial" (2022) é outro curta que traz o humor de modo inventivo ao acompanhar a passeadora de pets Rose, que resolve ocupar uma casa em um bairro nobre após encontrá-la com a porta aberta. Através de um mocumentário (obra de ficção que usa a linguagem de documentário), a protagonista fala sobre sua relação com o novo e a misteriosa dona da casa.

A narrativa caminha pela comédia enquanto tece críticas nas entrelinhas sobre gênero, classe e raça de modo simples, usando uma imagem granulada e quase sempre em meio primeiro plano (da cintura para cima) ao longo das cenas. Para Clara, trabalhar com histórias de comédia é um modo de resistência. "Se Exu gargalha, o riso é nosso direito ancestral", comentou ela no debate realizado antes das exibições.

Já "Alfazema" (2019), de Sabrina Fidalgo, mistura fantasia e o riso para falar sobre um causo de Carnaval. Gravado em um take só, a produção aborda o drama de Flaviana: se livrar do ficante que não quer sair do chuveiro? Para isso, ela vai contar com a ajuda do diabo e dos anjos.

Se a cineasta não tivesse falado na mesa realizada mais cedo que o curta foi gravado em um só take, a audiência jamais imaginaria tal possibilidade, uma vez que todas as cenas parecem ter sido executadas com muito planejamento e recorte. "Não podíamos perder tempo, afinal o orçamento era pouco, por isso tive que gravar tudo em uma tomada só", explicou.

*A jornalista viajou a convite do CineOP

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