“Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda. Que, palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando”, já registrava Gonzaguinha nos versos da composição “Sangrando”. São esses versos que inspiram e permitem a entrega de Marcos Lessa sob o palco em show tributo ao cantor carioca que completaria 80 anos em 2025.
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Sob tal efeméride, o cantor cearense promete trazer 28 sucessos do filho de Luiz Gonzaga na apresentação “Marcos Lessa canta Gonzaguinha - 80 Anos de Estrada”. No repertório estão músicas como “Lindo Lago do Amor”; “O Que É, O Que É?"; "Começaria Tudo Outra Vez” entre outras que passaram por uma cuidadosa seleção.
“Fiz uma seleção inicial de 50 músicas, cortei para 30 e fechei com 28. São 28 sucessos mesmo. Eu já tenho essa ligação com a obra de Gonzaguinha desde criança. São músicas que fazem parte da minha vida, por isso precisei fazer essa comemoração”, relata o cantor Marcos Lessa.
Fruto do relacionamento de Luiz Gonzaga e a cantora Odaléia Guedes dos Santos, Gonzaguinha nasceu em 1945 e ficou órfão de mãe aos dois anos e foi criado pelos padrinhos, que ensinaram seus primeiros acordes no violão.
Anos depois, em 1967, ele ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Época em que ele passou a frequentar rodas de violão e fez amizade com Ivan Lins, César Costa Filho, Aldir Blanc e Dominguinhos, parceria que resultou na fundação do Movimento Artístico Universitário (MAU).
Debruçado nas mensagens políticas e sociais em suas obras, nesse período ele também passou a participar de festivais universitários de música. Em 1968, foi o finalista do evento com a música “Pobreza por Pobreza” e um ano depois ganhou o primeiro lugar com a música “Trem”, que permitiu ampliar sua carreira.
A decisão de Lessa realizar a homenagem nasceu de um projeto idealizado em 2015, em que Lessa celebrou os 70 anos de vida do artista nascido em 1945. O show passou por 15 cidades e rendeu ao cearense, o álbum “Estradas: Um Tributo a Gonzaguinha”, trabalho esse que passou pela avaliação da família de Gonzaguinha.
“Há 10 anos, nos 70 anos de Gonzaguinha, fiz a maior turnê da minha carreira. E agora, não podia deixar passar os 80 anos dele em branco. Alguns dos grandes nomes da música não estão mais aqui para celebrar a própria carreira e acho que é um dever nosso, intérpretes e artistas tocados por essas mensagens, homenageá-los”, destaca.
Para a apresentação desta sexta-feira, 11, o público pode esperar por novidades, segundo Lessa. Entre as principais novidades estão a direção de André Gress com um espetáculo com um cenário imersivo que utiliza os sons da natureza e pinturas para conectar o público à subjetividade das obras do compositor carioca.
“Esse vai ser um dos shows mais bonitos visualmente que já fiz na minha carreira. Não será um show convencional com LED. Vamos usar tecidos que vão revelando o cenário ao longo do espetáculo, com sons do mar, do vento, da água… tudo para mostrar a essência do Gonzaguinha. Vai ser uma experiência sensorial”, comenta o cantor.
Fugindo do padrão convencional de show em que geralmente convida alguns parceiros da música cearense, desta vez, o cantor se limitou a fazer apenas um convite para dividir o palco. A escolhida para cumprir tal responsabilidade foi a cantora mirim Sofia Marinho que fará um dueto da música “Nunca Pare de Sonhar (Semente do Amanhã)”, junto ao anfitrião.
A escolha de convidar Sofia para cantar essa canção está relacionada à proposta da composição de Gonzaguinha. A música reflete como as atitudes do presente são fundamentais para a construção do futuro. Durante a letra, a referência à infância simboliza a pureza e a simplicidade que também pode ser exemplo de como encarar a vida.
“Convidei Sofia Marinho para cantar comigo essa música porque ela é uma pérola escondida. As pessoas vão poder conhecer uma criança que apresenta uma grande desenvoltura no palco, tanto para falar quanto para cantar”, conclui.
Mas para além da emoção nas composições, Gonzaguinha trazia à tona temas sociais e políticos em suas músicas. Em 1973, se apresentou no programa de Flávio Cavalcanti e cantou a música “Comportamento Geral”, que foi um marco importante na sua carreira.
Após sua participação, foi acusado de terrorista pelos jurados do programa, recebeu uma advertência da censura no dia seguinte. Entretanto, a polêmica fez a música ocupar as paradas de sucesso, deixando os exemplares do seu trabalho esgotados.
Durante este período os brasileiros sofriam perseguições e censura do regime militar, movimentação que tornou a música “Comportamento Geral” proibida em território nacional. Apesar da perseguição e com suas músicas censuradas, Gonzaguinha ainda gravou na época, os discos: “Gonzaguinha” (1974), “Plano de Voo” (1975) e “Começaria Tudo Outra Vez” (1976).
Para Marcos, o fato de Gonzaguinha retratar assuntos considerados mais sérios em suas letras é o principal diferencial do artista. “Hoje os artistas têm muito medo de se posicionar. Gonzaguinha vem de uma geração que usava a arte para apontar caminhos”, inicia.
O cantor continua: “Ele tem uma voz que convida as pessoas a se engajarem, não só politicamente, mas também a mostrar o que se sente, o que se pensa. Hoje a gente carece muito disso. Ele teria um papel importantíssimo hoje. É lamentável que tenha partido tão cedo”.
Marcos Lessa canta Gonzaguinha - 80 Anos de Estrada
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