"O contrário da vida não é a morte. O contrário da vida é o esquecimento". É o que costuma dizer o historiador Luiz Antônio Simas. Comprovando sua máxima, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna - morto há mais de uma década - continua servindo de referência para obras e artistas. Inspirada no universo literário do autor, o espetáculo "Mundo Suassuna" entra em cartaz na quinta-feira, 10, na Caixa Cultural Fortaleza.
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Atravessando o sertão, a história acompanha um príncipe e o seu cavalo Pantero em busca de um reino e de sua coroa perdida. Guiado pela Santa Compadecida, o monarca órfão carrega um caderno no qual documenta as aventuras enfrentando a Morte e decifrando enigmas na travessia entre cidade e sertão.
De São Paulo, a montagem vem à capital cearense depois de passar por Recife. Com base na obra de um artista pernambucano, as marcações regionais são inevitáveis na peça de Marcelo Romagnoli. Segundo o diretor, em entrevista ao O POVO, a estética e a música evidenciam a identidade nordestina em "Mundo Suassuna", mas o espetáculo parte de uma linguagem universal.
"O que interessa mesmo é atingir uma coisa que é própria de todo ser humano", diz o dramaturgo e diretor. Admirador da obra de Suassuna, Marcelo atribui parte da genialidade do autor à sua capacidade de se comunicar com qualquer público, de qualquer lugar. Isso também vale quando o assunto é idade.
Para a equipe de produção, a montagem inédita é a primeira voltada para o público infanto-juvenil a ser reconhecida pela família Suassuna. "Toda a literatura de Ariano Suassuna, além de universal, não tem idade", declara o diretor. Ele viu na obra do escritor, na sua forma de escrever, a possibilidade de direcionar as histórias para as crianças, mas garante que os adultos se divertem e se encantam com o espetáculo.
"Uma literatura popular com essa característica tão forte, tão íntima, do que nós somos como país, como povo, isso acaba atingindo qualquer idade", diz. Para Romagnoli, o espetáculo funciona em camadas diversas - mesmo para quem não tem contato com a obra de Ariano. Embora seja difícil encontrar uma pessoa que não esteja familiarizada com o filme "O Auto da Compadecida", adaptação do texto dramatúrgico do autor.
Porém, quem conhece os textos de sua autoria vai perceber os elementos da obra espalhados pela apresentação de "Mundo Suassuna". O cavalo Pantero, por exemplo, é uma referência direta ao último livro do escritor, o "Dom Pantero", definido pelo diretor de teatro como uma obra monumental. "Ele [Ariano Suassuna] faz meio que uma síntese da sua obra em 'Dom Pantero'", avalia.
"O Romance d'a Pedra do Reino" é outro livro do qual bebeu o dramaturgo Marcelo Romagnoli para construir o texto inédito. Ele considera o romance um "disparador de tudo que o Suassuna entende pelo mundo, pela cultura nordestina e pelo resgate de grandes tradições", mas ressalta que esses não são os únicos títulos que contribuíram para a atmosfera da peça. O espetáculo não é uma junção de suas obras, mas um portal para o espectador se transportar para o universo de Ariano Suassuna.
Com o propósito de "transportar o espectador para dentro da literatura de Ariano Suassuna" e "tocar o coração do humano", seja ele quem for, sobem ao palco três atores: Alexandre Roit, Fábio Espósito e Guryva Portela. O último, recifense, foi quem propôs um espetáculo com base na obra do conterrâneo.
O ator, junto à Beijo Produções Artísticas, convidou Romagnoli para escrever e dirigir uma adaptação da única história infanto-juvenil do autor pernambucano. No meio do caminho, a ideia acabou se expandindo. Com a permissão da família, eles tiveram acesso a toda a produção de Ariano Suassuna.
E a participação da família Suassuna não termina aí. O filho do autor, Manuel Dantas, é responsável pelo cenário de "Mundo Suassuna". Além dele, a cantora e compositora Renata Rosa assina a trilha sonora; Silvana Marcondes, o figurino; Zé Valdir, a cenografia; e Rodrigo Bella Dona, a iluminação do espetáculo.
Mundo Suassuna