Pouco mais de dez anos após o último filme solo do Super-Homem ("Homem de Aço" - 2013) ganhar as telas, o herói emblemático da cultura pop estreia uma nova aventura. O longa-metragem "Superman: Legacy" (2025) acompanha um Super-Homem que já está em ação há anos e que agora se vê no meio de um conflito político enquanto enfrenta o peso do real propósito pelo qual foi enviado à Terra.
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Com roteiro e direção de James Gunn, a trama se destaca por não tentar inventar a roda e ser o que deveria: um filme de super-herói. E isso tudo sem medo do ridículo - algo perceptível tanto na cueca box usada pelo protagonista quanto em um dos monstrengos com o qual ele luta em uma das cenas.
Essa ousadia também se faz presente no script, com piadas bobas e boas tiradas que não eram tão comuns nos filmes do Universo Cinematográfico da DC Comics nas últimas produções com o super-herói - como "Batman Vs Superman" (2016). A comédia, que poderia facilmente se perder na tônica, se encaixa perfeitamente na nova proposta de Gunn de trazer uma figura poderosa, carismática e vulnerável.
Embora se prenda na jornada do herói em todos os seus passos, o filme vai além ao trazer camadas mais políticas para a telona. Nada muito disruptivo ou anticapitalista (ainda estamos falando de um filme de Hollywood), mas que tece críticas necessárias a governos autoritários por meio do conflito entre as nações fictícias Borávia e Janhapur.
O tom mais político é algo pelo qual o cineasta é conhecido por abordar, principalmente em "O Esquadrão Suicida 2". Gunn consegue imprimir com certa exatidão como um líder conservador de direita se comporta. O personagem em questão é quase uma impressão fiel de Bolsonaro, de Milei ou até mesmo de Trump.
Já o vilão Lex Luthor (Nicholas Hoult) se assemelha tanto com um bilionário que a todo momento quer se provar poderoso, inclusive, pondo o planeta em risco apenas para derrotar o Superman. É apenas o nerd branco que sofreu bullying na escola e agora quer provar sua masculinidade e superioridade através dos recursos financeiros adquiridos.
Mesmo com discussões mais sérias, o filme não perde a dinâmica necessária para o gênero. Apresenta boas coreografias de luta e uso de câmera lenta na medida, dando a intensidade necessária a "cenas soco cruzado", além do uso de plano sequência, enriquecendo visualmente a produção.
A fotografia é um dos pontos altos do longa, entregando planos gerais de tirar o fôlego - como uma das cenas de beijo entre Lois (Rachel Brosnahan) e Clark (David Corenswet) - e o uso da técnica em múltiplos planos em outra cena em que o casal está tendo uma conversa e, ao fundo, uma luta da gangue justiça está acontecendo.
A paleta de cores vivas também auxilia na atmosfera que a produção traz. A obra de Gunn não se leva a sério e nem precisa. O filme se torna mais agradável de assistir, tornando a experiência mais divertida e menos obscura do que o "Homem de Aço" (2013), por exemplo. A trilha sonora é outro êxito, com canções que parecem terem sido escolhidas a dedo e que dão vontade de escutar depois.
Assim como o elenco, David Corenswet entrega um herói que é muito mais do que um rosto belo e um corpo bonito. É expressivo e humano, alguém que sente raiva, tristeza e tesão, de modo genuíno. Rachel Brosnahan não fica atrás com uma Lois Lane impositiva, vulnerável e persistente. Mais do que um interesse romântico, ela é alguém com impacto na narrativa.
E a química dos dois faz parecer que estamos assistindo a uma comédia romântica. O roteiro de Gunn traz algo deixado de lado há anos em filmes de super-herói: eles não só se apaixonam, mas desejam e se dedicam aos prazeres da carne. Essa última característica está intrinsecamente ligada a uma vulnerabilidade humana chamada intimidade.
Edi Gathegi brilha como o senhor Incrível, um dos membros da Gangue da Justiça. Um dos únicos atores negros no elenco principal, ao lado de Wendell Pierce, que interpreta Perry White, chefe de Clark. Por outro lado, Isabela Merced passa despercebida como Mulher-Gavião, diferente de Mikaela Hoover que tem uma presença marcante, mas parece que está ali apenas para ser sexualizada.
Outro personagem que se destaca e traz bons alívios cômicos é o Krypto, o supercão. Baseado no cachorro do próprio James, conforme ele revelou em coletiva realizada em 23 de junho no Brasil, o cachorro de CGI garante boas risadas com seu jeito atrapalhado e brincalhão, com gráficos bem realistas.
"Superman: Legacy" traz mais uma versão de um herói já conhecido, porém muito mais relacionável. Clark finalmente é mostrado como o cara simpático do interior que mantém sua fé em um mundo melhor. Um filme que gera algumas reflexões, mas que principalmente, diverte.
"Superman: Legacy"