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Um corpo que fala
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Um corpo que fala

| Bailarino | Thiago Soares: uma vida conduzida pela dança
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Thiago Soares realiza audições para estreia na Bienal do Ceará (Foto: Angela Zaremba/ Divulgação)
Foto: Angela Zaremba/ Divulgação Thiago Soares realiza audições para estreia na Bienal do Ceará

Thiago Soares descobriu que tinha algo importante a dizer quando se viu no centro da roda. Intoxicado pela atenção que conquistava, ele compreendeu que seu corpo falava - e tinha quem quisesse ouvi-lo.

Sem saber que estava iniciando uma carreira, aos 9 anos, Thiago começou a frequentar a Escola de Circo do bairro carioca Vila Isabel, onde se criou. As acrobacias foram a porta de entrada para a arte, mas foi na dança que ele se lançou. Formado na encruza entre a rua e a dança, Thiago Soares fez bom proveito do que a noite do Rio tinha a oferecer: os bailes charme da década de 1990.

Hoje, aos 42 anos, ele é um artista consagrado internacionalmente. Os prêmios e os principais teatros do mundo, onde já se apresentou, falam por si. Mas, debaixo da ponte entre o passinho e a dança clássica, muita água correu. Ter o pescoço e os braços longos bem que ajudaram o menino de São Gonçalo, Rio de Janeiro, a conquistar seu espaço no universo da dança. No balé, porém, não há história que se sustente apenas com biotipo.

“O balé é uma arte muito difícil. É uma arte que você tem que estudar muito. Se você para três dias, o teu corpo sente”, disse Thiago Soares em entrevista ao PAUSE - O POVO. No programa, o bailarino afirmou que, hoje, um profissional da dança acumula três funções: atleta, dançarino e ator. Equilibrando esses chapéus há mais de 25 anos, Thiago criou uma história que não se vê todos os dias nas periferias do Rio de Janeiro ou de qualquer lugar do Brasil.

Foi por meio do movimento hip-hop, estudando e praticando danças urbanas como o breakdance, que ele ouviu pela primeira vez a notícia que mudou sua vida: “é possível”. Seu professor, o também bailarino Ugo Alexandre, viu em Thiago o futuro que ele mesmo não sabia ser uma possibilidade. “Eu vejo você estudando dança clássica”, disse ao aprendiz.

Foi assim que Thiago Soares descobriu o poder de “quando você encontra alguém que vê em você capacidade e te ajuda a te convencer de que é possível”. As mãos de Ugo Alexandre foram as primeiras entre muitas a pavimentar o seu caminho. Desde então, “é possível” - frase que determinou a sua trajetória - virou um “slogan” de vida.

Sem saber direito o que era dança clássica, lá se foi Thiago Soares em busca de achar o seu lugar no mundo no Centro de Dança Rio, onde ofereciam bolsas para incentivar meninos a se tornarem bailarinos. Os pais até deram a ele a atenção que puderam dar, mas foi quando entrou na escola de dança do Méier, aos 15 anos, que experimentou uma sensação inédita. “Pela primeira vez, eu senti que verdadeiramente me quiseram”, afirmou ao PAUSE.

“Eles viram em mim um grande projeto”, lembra. Então, pela segunda vez, a intoxicação tomou conta de Thiago. Novamente por causa da dança, viram nele o que o espelho não lhe contava. “Quando você encontra alguém na vida que vê em você algo extraordinário, parece feitiço positivo”, define. E, enfeitiçado, ele agarrou a oportunidade que foi, conforme o próprio artista, o ticket da sua vida.

“Eu entrei naquela escola e entrei no avião do mundo, da vida, de tudo que eu tenho”, declarou. A partir daí, fez parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ganhou medalhas em competições e chegou a representar o Brasil na França. Como a coisa ficou séria, mais um mentor chegou na vida de Thiago para lhe guiar os passos rumo a uma nova fase.

Marisa Estrela, então diretora do Centro de Dança Rio, entregou o promissor bailarino nas mãos de Dino Carrera, falecido crítico de dança, diretor do Teatro Odylo Costa Filho e reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Depois de um mês trabalhando juntos para a competição francesa, Thiago Soares ganhou uma medalha de prata graças à estratégia e à firmeza com a qual o mestre cubano lidou com os desafios impostos pela fase transitória da adolescência. “Ele transformou a minha vida”, contou Thiago no programa Pause.

A França foi o ponto de partida para uma carreira internacionalmente reconhecida na dança clássica do bailarino nascido no berço do samba. A Royal Ballet que o diga. O nome a ocupar o posto de primeiro bailarino de uma das mais prestigiadas companhias de dança do mundo de 2006 até 2019 era um dos mais comuns no Brasil. Um Thiago cuja trajetória marcou a história dessa arte no país.

Não por acaso, ele virou tema de filme. “Um lobo entre cisnes” estreia no dia 24 contando a história da vida de Thiago Soares nos cinemas do Brasil. De volta ao país de origem, o artista tem outro projeto em vista: “Carmen”, espetáculo criado com a Bienal Internacional de Dança Ceará, estreia em novembro.

Para realizá-lo, o artista veio a Fortaleza com uma missão: encontrar dançarinos para dar vida ao espetáculo. Afinal, como ele mesmo disse, “quando você revisita sua história, são muitas mãos”. E, assim como um dia precisou ouvir, agora é ele quem avisa a outros corpos que falam: “é possível!”.

 

Thiago Soares no Pause

Onde assistir: https://www.youtube.com/channel/UCj-RTZE-V3Q6jleatRR9k2A

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