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Biografia explana a trajetória da banda de rock Linkin Park
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Biografia explana a trajetória da banda de rock Linkin Park

Biografia sobre o Linkin Park se equilibra entre a evolução sonora da banda, as relações entre os integrantes e os "demônios" enfrentados pelo principal vocalista
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Formação original do Linkin Park durante fotos promocionais do primeiro álbum, "Hybrid Theory" (Foto: James Minchin III/Divulgação)
Foto: James Minchin III/Divulgação Formação original do Linkin Park durante fotos promocionais do primeiro álbum, "Hybrid Theory"

É novembro de 1997. No palco do Whisky a Go Go, um dos principais clubes noturnos de Los Angeles, uma banda de jovens tenta fazer seu primeiro show. O rapper está com um visual impactante — não da forma positiva. Gorro branco para baixo, óculos de proteção azuis e o microfone preso em um par de luvas brancas, lembrando um cosplay de smurf.

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Ele tem somente 20 anos. Está decidido a conquistar a plateia. Não é, porém, a atração principal. Sua banda apenas deve abrir para um grupo de rock em ascensão, chamado System of a Down. No fim das contas, a performance é péssima, mas a banda, que ainda era um esboço de rap-rock, sobrevive — e a postura do vocalista de se diferenciar dos demais se torna um trunfo posteriormente.

O jovem, no caso, é Mike Shinoda. A banda? Xero. Era apenas o embrião do que viria a se tornar uma das principais bandas de rock dos Estados Unidos nas próximas décadas: Linkin Park. Responsável por sucessos como “In The End”, “Numb”, “Faint”, “One Step Closer” e “What I’ve Done”, o conjunto vendeu mais de 100 milhões de cópias de seus álbuns (sendo mais de 20 milhões só do primeiro disco, “Hybrid Theory”).

A trajetória é apresentada no livro “It Starts With One: A Lenda e o Legado do Linkin Park”, de Jason Lipshutz, diretor-executivo de música da revista Billboard. A obra explora como a banda conseguiu mesclar elementos do pop e hip-hop ao cenário pós-grunge e nu metal, além de apontar a relevância de suas letras na discussão sobre saúde mental e inclusão.

O trabalho é divido em cinco partes, da “identidade” ao “legado”, com entrevistas realizadas pelo autor — também fã do Linkin Park —, fotos e depoimentos de outros músicos sobre a banda. Lançada nos Estados Unidos em outubro de 2024 — quase um mês após o anúncio do retorno do Linkin Park —, a biografia chegou ao Brasil em maio, a partir do trabalho da editora Belas Letras e da tradução de Marcelo Barbão.

A narrativa do livro é construída de forma dinâmica, alternando as visões sobre os dois principais integrantes até se encontrarem. De um lado, Chester. Do outro, Mike Shinoda, um “nerd do hip-hop” da Califórnia, estudante de design gráfico, meticuloso, criativo e tomado por influências musicais de todos os lados.

Explorava blues, jazz e funk, mas desnudava principalmente referências do rap, o que contribuiria para a consolidação da proposta híbrida musical iniciada na banda Xero. A ideia era praticar a retroalimentação entre o rap e o rock, transmitindo a angústia adolescente nas suas letras.

Para além da recente retomada da banda, a obra paradoxalmente se torna “mais viva” com a proximidade da data da morte de Chester Bennington. O falecimento do vocalista completa oito anos neste domingo, 20 de julho. Ele cometeu suicídio em sua casa em 2017, durante a turnê do álbum “One More Light”, lançado dois meses antes.

Como afirma Lipshutz, Chester foi acometido por uma escuridão que já o acompanhava há
bastante tempo. O biógrafo, nesse sentido, apresenta ao leitor um panorama mais íntimo sobre a trajetória de Bennington, resgatando os problemas com abuso de álcool e outras drogas enfrentados por ele ao longo de sua vida, devido a “demônios internos” desde a infância, quando sofreu abuso de um amigo mais velho.

Com a autoconfiança destruída, recorreu aos mais diferentes tipos de drogas. Encontrou na música, porém, a válvula de escape positiva para suas angústias. No início, com sua banda de rock Grey Daze. O seu caminho só se entrelaçaria com os dos membros do Linkin Park posteriormente.

Ao longo desse percurso, Lipshutz discorre sobre as cenas musicais conforme o período em que estavam. É interessante observar como os membros eram multitalentosos e cada um agregava um aspecto fundamental à banda. A biografia também acompanha a evolução dos meios de consumo de música, indo dos CDs à era do streaming.

Por vezes, a narrativa assume um tom sentimental. O lado “fã” do autor tem consequências positivas e outras que poderiam ser aprimoradas. Por um lado, há maior rigor e envolvimento na apuração. Entretanto, há trechos que descambam para elogios que podem soar exagerados. Vale salientar, porém, que Lipshutz não se isenta de tecer críticas sobre os produtos musicais quando julga necessário.

O autor traz ao texto a marca de sua escrita. Ele não se prende a tantas aspas de entrevistas — na verdade, elas aparecem de maneira estratégica, tanto como confirmação do que foi dito quanto como uma ponte para abordar nova ideia. Jason descreve com detalhes cada álbum da banda, incluindo os discos de remixes.

Evidentemente, alguns ganham mais destaque que outros, mas todos são contemplados à luz do contexto de produção e da densidade musical e lírica dos integrantes à época. Acima de tudo, a vontade de não permanecer nas mesmas fórmulas. O livro também é honesto ao abordar atritos entre os integrantes, mas, no fim, se destaca a demonstração de amizade dos músicos.

O companheirismo acompanhou o Linkin Park até a morte de Chester Bennington — e parece seguir até hoje, com a nova formação com Emily Armstrong. Ao longo da obra, é pontuada a importância da saúde mental e a criação de iniciativas beneficentes, como o Music For Relief, organização fundada pela banda para fornecer ajuda a vítimas de desastres naturais e promover a conscientização sobre o aquecimento global.

É interessante observar como o ecossistema criado entre o Linkin Park e seus fãs foi sólido, vindo desde os primórdios da internet, quando a banda enviava CDs do “Hybrid Theory” aos admiradores que participavam de fóruns criados pelo grupo. Foram esses fãs que depositaram, ao longo dos anos, vídeos de apresentações que posteriormente se tornariam raras e fundamentais para a pesquisa para o livro. E são eles que viraram um dos legados do Linkin Park. Os bilhões de streams em plataformas digitais de música ajudam a contar essa influência, que se transmite para outros artistas que tiveram a banda como referência.

“It Starts With One” é uma obra importante para quem deseja conhecer ou revisitar a trajetória do Linkin Park. Em quase 400 páginas, a história do grupo até antes da nova formação é contada de forma digna e respeitosa por Lipshutz, agradando fãs de longa data e leitores que ainda poderão se tornar.

Se um dos principais hits, “In The End”, fala sobre um eu lírico que tentou de tudo para alcançar um objetivo, mas acabou não adiantando de nada, a biografia do Linkin Park mostra como sua caminhada gerou frutos relevantes para a indústria musical deste século a partir do atravessamento de gêneros. Além disso, como construiu letras que ajudaram a falar sobre “demônios internos”, saúde mental e dependência química. No fim, tudo isso importa.

Biografia sobre o Linkin Park foi escrita por Jason Lipshutz
Biografia sobre o Linkin Park foi escrita por Jason Lipshutz

It Starts With One - A Lenda e o Legado do Linkin Park

 

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