Antiga capital federal que transpira cultura de norte a sul, o Rio de Janeiro se estabelece como um dos principais lugares turísticos do Brasil, indo além de oferecer suas belezas naturais. Do centro histórico às instalações tecnológicas que permitem visualizar a cidade de diversos pontos de vista, o Museu do Amanhã une aspectos essenciais que o fazem ser um dos locais mais visitados por turistas.
Completando 10 anos de fundação em dezembro de 2025, o equipamento celebra sua primeira década com novas ações para ampliar e fomentar o público visitante. "Estamos em um momento de fortalecimento de uma linguagem importante para o Museu do Amanhã. É um museu de ciências, continuaremos sendo um museu científico, mas entendemos que estamos em um processo de renovação", afirma Cristiano Vasconcelos, diretor da instituição localizada no Centro da capital carioca.
Em conversa com a imprensa durante o pré-lançamento da Ocupação Esquenta COP – programação do Museu do Amanhã que antecipa as atividades e debates da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP-30), marcada para ocorrer em novembro em Belém, no Pará –, o gestor acrescenta que a proposta do espaço que ocupa 30 mil m² da área portuária do Rio é "permitir que o público sinta-se convidado a entrar no mundo do Amanhã".
Com a argumentação "Museu deve ser lugar de escuta, fricção, ação e imaginação política", o Amanhã se coloca como local de reflexão acerca do futuro da humanidade, entrelaçando as temáticas de comunidade, meio ambiente, política e representatividade, e abre as portas para atividades que se relacionam com as questões previstas para ocorrer na COP-30.
Inspiração para os inúmeros equipamentos culturais espalhados pelo município, onde 40% dos visitantes não é público frequente, e cerca de 24% está visitando um museu pela primeira vez, o Museu do Amanhã lançou na última sexta-feira, 18, três exposições com curadoria de Fábio Scarano, e abrem o cronograma de atividades da Ocupação Esquenta COP – composta por rodas de conversa, ações com a população, oficinas, apresentações musicais e encontros literários previstos para serem realizados até dezembro.
"Com esses 10 anos, tendo já se consolidado como um museu de ciência, o Museu do Amanhã dá esse passo de apresentar a arte como um instrumento para tratar as questões científicas, ambientais, de convivência e de sustentabilidade", conclui o diretor do Museu do Amanhã.
Encabeçada pela exposição "Claudia Andujar e seu Universo: Ciência, Sustentabilidade e Espiritualidade", a mostra principal apresenta 130 fotografias da ativista suíça naturalizada brasileira, ao lado de obras de artistas nacionais. A exposição, que possui curadoria de Paulo Herkenhoff, dialoga com a memória e cultura das comunidades indígenas no País.
"A concepção possui muitas raízes, as quais têm o objetivo de chegar a um ponto onde ela tenha uma inflexão sobre percepção e conhecimento. E, uma delas, é uma implicância com São Paulo", detalha Paulo no evento de pré-lançamento. Aos risos, o curador comenta a primeira parte da mostra de Claudia Andujar, que apresenta seus pontos de vista sobre a capital paulista, cidade onde a fotógrafa reside atualmente. "Essa implicância é uma implicância amorosa", acrescenta.
Sobre a ligação com as outras obras presentes em "Claudia Andujar e seu Universo: Ciência, Sustentabilidade e Espiritualidade" – que conta com objetos pessoais, registros literários, artigos indígenas e esculturas –, o curador descreve a mostra como "caleidoscópica". "Ao mexer em um caleidoscópio, ele muda de foco e de organização. Então, ao girar as lentes do caleidoscópio, você muda as imagens e vão aparecendo as questões, como as queimadas, desmatamento, garimpo… Todas as formas de destruição da natureza e de usurpação das terras indígenas".
Temáticas que atingem diversas localidades do Brasil, no Pantanal, bioma de maior importância nacional, a devastação das terras é retratada na exposição "Água Pantanal Fogo", que reúne fotografias de Lalo de Almeida e Luciano Candisani.
Com curadoria do comunicador Eder Chiodetto, a mostra fotográfica busca causar reações contrastantes a cada galeria avistada. São imagens do mundo submerso das águas na região e também da devastação após as queimadas ocorridas em 2020. "Eu não queria apresentar uma mostra que negasse a realidade, mas também não queria ilustrar uma desesperança", revela Eder.
Complementando a Ocupação Esquenta COP, a exposição "Tromba D'Água" reúne obras de 15 mulheres artistas latino-americanas. "Em nossas pesquisas, debatemos sobre a força coletiva que é capaz de gerar transformações. E, com isso, fazemos uma analogia com as águas, sua força e seus caminhos", argumenta Ana Carla Soler, uma das três curadoras da exposição. Na mostra, o público é convidado a visualizar telas, objetos, esculturas e fotografias de artistas de diversos estados do Brasil, além da Argentina e da Guatemala.
(A repórter viajou a convite do Museu do Amanhã)
Água Pantanal Fogo
Elementos opostos que possuem o poder de transformação, a água e o fogo são capazes de gerar reações divergentes quando apresentadas sob um novo olhar. Os sentimentos de choque e calmaria são o mote para a exposição “Água Pantanal Fogo” que possui curadoria de Eder Chiodetto.
Na busca de surpreender e gerar reflexão acerca do resultado das ações humanas, a mostra apresenta fotografias de Lalo de Almeida, que traz registros dos incêndios no Pantanal ocorridos em 2020; ao lado de imagens de Luciano Candisani, com a vida submersa nas águas do Pantanal.
“Quando os dois elementos essenciais são misturados, as pessoas observam esse mundo ‘maravilhoso’ e, logo ao lado, já são impactadas com o extermínio do bioma. É um antes e depois, que acontece de forma cíclica, mas que hoje são impactados pelas ações humanas”, declara o curador, que também é comunicador.
Quando: até 25 de novembro
Quanto: R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40 (inteira)
Vendas: Sympla
Universo de Claudia Andujar
Nome de relevância na fotografia documental do Brasil, Claudia Andujar dá prestígio à exposição que resgata a memória e faz um registro histórico brasileiro ao percorrer a vivência de imigrantes no principal centro econômico do país e os desafios das comunidades indígenas.
“A exposição busca observar a ambivalência no trabalho de Cláudia, no sentido de trabalhar tanto o desastre – como a ocupação e crescimento populacional nos grandes polos levando a prejuízos ambientais e sociais – como as boas soluções, sendo as questões indígenas e os trabalhos de cuidado e saúde com os povos Yanomami”, explica Paulo Herkenhoff, curador da mostra “Claudia Andujar e seu Universo: Ciência, Sustentabilidade e Espiritualidade”.
Em 130 obras, mescladas entre produções da fotógrafa e ativista com a de outros 40 artistas brasileiros, a exposição também é uma celebração da vida e trajetória da artista, atualmente com 94 anos de idade. “Eu continuo trabalhando com os Yanomami até hoje. Divulgando o que eu posso, como estamos fazendo no Museu e por todos os países que estão recebendo os trabalhos que fiz com eles. Essa é a importância do meu trabalho hoje, viajar para trazer atenção aos Yanomami”, declara Claudia em entrevista ao O POVO.
Quando: até 4 de novembro de 2025
Quanto: R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40 (inteira)
Vendas: Sympla
Tromba D'Água
A partir do simbolismo da força das águas e seus caminhos traçados da nascente ao desaguar, a exposição “Tromba D’Água” apresenta pinturas, esculturas e fotografias de mulheres artistas da América Latina. “Para muitas artistas visuais, a água é um lugar de presença, registro e memória. Trazemos, então, a metáfora do fenômeno natural da tromba d’água com o movimento da participação das mulheres no sistema das artes”, detalha Ana Claudia Soler, curadora da mostra.
Uma associação direta ao debate aguardado na COP-30, a exposição composta por obras de Alice Yura, Azizi Cypriano, Guilhermina Augusti, Jeane Terra, Luna Bastos, Marcela Cantuária, Mariana Rocha, Marilyn Boror Bor, Natalia Forcada, Rafaela Kennedy, Roberta Holiday, Rosana Paulino, Suzana Queiroga e Thais Iroko, também busca confrontar o predomínio de lideranças masculinas em locais de poder.
“É importante escutar os discursos oficiais, mas a gente, na arte, considera mais importante escutar os discursos dessas mulheres que moram nesses territórios e são atingidas presencialmente por esse câmbio climático”, afirma Francela Carrera, que compartilha a curadoria com Ana Claudia e Carolina Rodrigues.
Quando: até 4 de novembro de 2025
Gratuito