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'Brick': filme alemão da Netflix atrai e entedia pelo drama
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'Brick': filme alemão da Netflix atrai e entedia pelo drama

Repetindo "tramas de sobrevivência" com ação e suspense, o filme alemão "Brick" atrai pelo mistério e entedia pelo drama
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Novo suspense da Netflix, filme alemão
Foto: Sasha Ostrov/Divulgação Novo suspense da Netflix, filme alemão "Brick" tem feito sucesso na plataforma

O que pode impedir a separação de um casal quando o fim da paixão parece inevitável? Em "Brick" - drama dirigido por Philip Koch que surfa entre fantasia, ficção científica e ação - a resposta é literal. Tim acorda de madrugada e flagra Olivia de malas prontas para deixá-lo, desacreditada na recuperação de um abismo ainda secreto que há entre os dois. Mas, ao abrir a porta, ela descobre que não tem mais como fugir dali.

Do lado de fora, uma parede de tijolos pretos e disformes tampa todas as saídas do apartamento, entre portas, janelas e vãos. Como agora Olivia está encarcerada com um alguém que ela estava decidida a deixar para trás, o subtexto é tão evidente que o roteiro faz questão de fazê-la citar "um muro" que Tim construiu ao redor de si para nunca resolver as mágoas do relacionamento.

Essa metáfora poderia até funcionar em alguma camada rasa de similaridade se o casal protagonista não fosse interpretado com tamanha fragilidade. Também sem ajuda do texto redundante e, às vezes, até constrangedor ao explicar os segredos. Matthias Schweighöfer e Ruby O. Fee não conseguem tornar palpável o que quer que seja essa relação aos frangalhos - gritos e olhares lacrimosos, afinal, não resolvem nada sozinhos numa atuação.

Em paralelo, a trama caminha ao redor para desvendar esse "grande mistério" que vai nos levando para tantas outras obras que fizeram sucesso na própria Netflix, streaming que está em posição de privilégio absoluto até hoje justamente porque entendeu como criar ou descartar histórias a partir de seus próprios algoritmos.

Numa mistura grosseira de "tramas de sobrevivência" como "O Poço" (2019), "Maze Runner" (2014), "Dark" (2017) e "Round 6" (2021), esses personagens precisam descobrir como fugir dali enquanto aprendem a lidar com suas coexistências.

Ao perfurar chão e paredes, Tim e Olivia acabam se juntando a outros moradores daquele prédio, e cada um tem sua própria percepção de como encarar esse acontecimento e de como resolvê-lo. Mas será mesmo que todo mundo quer quebrar esse muro e sair dali? Será que ainda existe mesmo um mundo lá fora?

São perguntas ótimas, mas o enredo de Koch busca respondê-las sempre de forma boba, fazendo com que nenhum personagem tenha uma solidez mínima que pudesse valer a pena escutar.

Um casal com problemas de drogas, um senhor de idade desconfiado e dois amigos sinistros da tecnologia. Com meia hora de filme, ninguém parece mais minimamente suportável, nem mesmo para sentir-se falta quando desaparece. Nesse ritmo, nem montagem, trilha sonora ou efeitos especiais são capazes de causar alguma emoção latente.

O que é aquela parede? Será que não estão todos em uma simulação de videogame? O material daqueles tijolos é algo natural ou alienígena? Se nada da trama parece estar à altura desse mistério, chega a ser irritantemente irônico que a melhor ideia de toda a história surja nos 45 minutos do segundo tempo, quando o filme já está acabando e precisa deixar uma grande pergunta como gancho para uma possível sequência.

Diante do sucesso de audiência, compreensível pela reciclagem de conflitos românticos e de missões científicas, parece bem provável que essa continuação aconteça. Se valerá a pena atravessá-la para encontrar uma boa ideia só depois de 90 minutos? Vamos precisar esperar para que essa crítica não termine com um palpite tão cruel.

 

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