“Assim como uma gota faz parte do oceano, o oceano inteiro está contido em uma gota”, afirma o bailarino Carlos Antônio. A máxima é o que guia seu espetáculo “Em uma gota o oceano”, que será apresentado nesta quinta-feira, 24, no Teatro Dragão do Mar, às 19h30min.
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A ideia da obra nasceu durante a residência artística Técnico Poética, conduzida por Alexandre Veras e Paulo Caldas, em 2023. O também ator convidou Alexandre para, nas palavras dele, dirigir essa “metáfora que diz dos desafios pessoais de um corpo negro, de meia-idade e que dança suas autodescobertas e superações”.
As coreografias são de autoria de Carlos e procuram trazer um corpo que continua em movimento conforme a vida vai acontecendo. “Há um corpo que dança e enfrenta a escassez de recursos, a solidão, as incertezas, há um corpo que, dançando, resiste e segue, em uma jornada que representa o seu crescimento, coragem e determinação”, explica o artista.
O conceito da montagem parte de uma simbologia forte, segundo argumenta o bailarino.
“A gota representa uma pequena quantidade ou fração mínima, enquanto o oceano representa o todo, imenso e cheio de possibilidades”, conta o também diretor, que está a frente da Grupo N (infinito). A reflexão pode servir para situações distintas, desde questões filosóficas até experiências pessoais.
“A ideia de que os acontecimentos estão interligados e são parte de uma realidade maior é o que nos interessa”, salienta o coreógrafo. A proposta é usar a dança, a poética e os recursos digitais como projeção, além de outras “traquitanas” criadas por Alexandre - como uma cascata de areia e gotas que tocam um pandeiro.
O trabalho foi uma das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Criação de Dança da Porto Iracema, estreando na 12ª Mostra de Artes da Escola Porto Iracema das Artes (Mopi), em março. Os ensaios e o processo de produção levaram quase um ano, com a colaboração das artistas Carmen Luz, Giovana de Paula, Mônica Maciel e Paulo Caldas, além do já citado Alexandre Veras.
O espetáculo é apresentado dentro da programação “Quinta com Dança”. “O projeto já está com outra configuração cênica, ‘work in progress’ e cada dia é o nosso desafio, de criar condições, recursos de seguirmos em frente, na empreitada do viver da arte de dançar”, ilustra o coreógrafo.
Os ensaios aconteceram no Atelier Rural, espaço de pós-produção cinematográfica e residências artísticas localizado em Cascavel, no Litoral Leste. A estrutura, que foi morada de Alexandre, possui ateliês de composição, salas de ensaio, acomodações, mata agroflorestal e horta orgânica. A equipe técnica do lugar atuou no espetáculo produzindo as filmagens, construindo a cenografia e dando suporte de projeção audiovisual.
As literaturas de Nego Bispo, (“A terra dá, a terra quer”), Luiz Rufino (“Pedagogia da encruzilhada”) e Renato Nogueira (“Geopsicologia de Orumilá”) foram algumas das referências criadas para dar corpo ao espetáculo “Em uma gota o oceano”.
Com duração de até 40 minutos, a montagem se organiza em três momentos arranjados no espaço com três raias. “Três caminhos a serem percorridos, três textos que marcam o tom dessas travessias, três dramaturgias de movimento que se articulam com composições cênicas que modulam as transformações do personagem e as qualidades de movimento implicadas”, detalha Carlos.
O espetáculo fala sobre o que atravessa os corpos dissidentes em suas vivências, quer sejam corpos negros, femininos, transgêneros, indígenas ou qualquer outro excluído pela sociedade heteronormativa, branca e patriarcal. “Partindo desse contexto real, propomos uma travessia na qual possamos/devemos revitalizar nosso corpo/mente/espírito, reafirmando que a vida é um direito de todes”, pontua o artista em entrevista ao O POVO.
“E que a dança, a arte poderá/deverá nos conduzir a uma superação de limites, enfrentamento de medos e empoderamento para a criação de uma cultura sensível, inclusiva, regenerativa e empática”, continua o bailarino que foi solista nas companhias Palácio das Artes (MG), Cia. Cisne Negro (SP), República da Dança (SP) e Balé Teatro Castro Alves (BA).
"Em uma gota o oceano"