"Mãe" é um substantivo que acaba virando nome próprio e função. Luzanira Pinto da Silva Carvalho, 59 anos, assim como toda mãe, já era alguém muito antes de ter seus sete filhos. E era sobre esse alguém que o realizador, escritor, fotógrafo e cineasta Léo Silva tinha vontade de saber mais.
Dos 30 anos sendo filho de Luzanira, ele só veio descobrir mais sobre o passado da mãe quando resolveu fazer um filme sobre ela, que tem estreia marcada para segunda-feira, 28.
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"Eu sempre vi a minha mãe, mas eu nunca soube a outra história dela", resume. Motivado por essa inquietação, o filme "Luza" mistura documentário e ficção em uma metalinguagem de registros e memórias. Disparada por um álbum de fotos, a narrativa mostra Luzanira em conversas telefônicas com outros familiares. Enquanto isso, duas irmãs de Léo, também não-atrizes, dividem as lembranças da vida entre o interior e a vinda para a cidade grande ainda na infância.
Cristiane Silva Carvalho e Leiliane da Silva Carvalho não botaram muita fé no processo quando o cineasta explicou pela primeira vez como seria a cena. "Primeiro teve aquele respiro, 'não, não vai dar certo'", conta Léo. A saída foi posicionar as câmeras fora do campo de visão delas e, inesperadamente, uma "gaitada" daquelas deu conta do resto. Depois que riem de si mesmas, elas esquecem da câmera e começam a lembrar da casa de barro, da primeira festa de aniversário possível, entre outras recordações do passado.
Como diretor e roteirista, Léo Silva imaginou o que poderia ser dito, mas a parte documental tomou vida própria e o "surpreendeu ao longo de todo o trajeto". Já que Luzanira costuma estar em contato com a família pelo celular, o cineasta propôs aos irmãos que ligassem para a mãe. A participação dos sobrinhos, responsáveis por encontrar o álbum, também foi pensada para o filme.
Uma ligação inesperada da avó, mãe de Luzanira, e o diálogo entre as irmãs fizeram o filme tornar-se, na avaliação de Léo, "maior do que o esperado". Feito para ser um presente de aniversário para a mãe, o filme acabou revelando-se uma surpresa até para o diretor. "Eu nunca vi as minhas irmãs falarem como é que foi a vivência de crescimento delas e de como elas observam a mãe", afirma.
Léo deixa Luzanira à vontade na própria timidez. Filmado dentro de sua casa, na comunidade Parque Santa Filomena, do bairro periférico Jangurussu, "Luza" explora os cantos da residência onde ela vive desde que se mudou para Fortaleza. Foi naquela casa, que também conta um pouco da história da comunidade, onde ela criou os filhos e, ali, ela cuida das plantas, faz crochê e se reúne com as amigas para tomar uma cervejinha de vez em quando.
Conquistada após um processo de mutirão no início dos anos 1990, o cenário de "Luza" não é estranho na filmografia de Léo Silva. Para ele, aquela casa não é apenas uma locação, mas uma personagem. Na crônica visual "Rotina Familiar" (2020), ele registrou a rotina da casa durante o isolamento social na pandemia de Covid-19. A produção usa ruídos do rádio e da TV, mas opta pelo silêncio para retratar esse período. Cinco anos depois, "Luza" vem preencher esses silêncios com histórias que nem mesmo Léo tinha ouvido sobre a família.
Sempre presente no ambiente, para Léo Silva, a casa é como uma "extensão da vida" da mãe. Por isso, é no espaço onde Luzanira se sente mais confortável que ele decidiu fazer um filme em sua homenagem. Acostumada a vê-lo com uma câmera na mão, Luzanira deixou que Léo ficasse filmando na casa, mas não fazia ideia do que se tratava o novo projeto de seu quarto filho.
Em entrevista ao O POVO, ela conta que só descobriu que a produção era em sua homenagem quando viu as postagens do filho no Instagram e no grupo de WhatsApp da família. Ao ver a participação de seus filhos no filme cujo título leva o seu apelido, Luzanira ficou "satisfeita com o resultado" e falou orgulhosa sobre a carreira de Léo.
"No começo eu tinha medo porque ele ficava fazendo fotografia nas favelas, mas depois eu fui me acostumando com a ideia dele, a profissão dele, e é uma coisa que ele gosta. É muito bom pra ele", conta Luzanira. "Eu dou apoio a ele", diz, sem saber ao certo o que levou o filho a fazer um filme sobre ela. "Acho que ele vê a luta dentro de casa, eu fazendo as coisas, não trabalho fora, só em casa mesmo...", palpita.
De um lado, a mãe define Léo Silva como um "bom menino", que "não dá trabalho". O realizador audiovisual quis retratar uma história que, de acordo com ele, perpassa pela história de sua mãe. Costurando as memórias de outras filhas de Luzanira, "indiretamente e diretamente, a gente tá sempre falando dessa mulher que é uma pessoa maravilhosa, que sempre cuidou da gente e que hoje a gente é que cuida dela", declara o diretor de "Luza".
Estreia de "Luza"
Quando: segunda-feira, 28
Onde: YouTube
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Mais informações: Instagram
@luzacurtametragem e
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