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Trem da História completa 20 anos com proposta de valorização do patrimônio histórico
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Trem da História completa 20 anos com proposta de valorização do patrimônio histórico

Projeto Trem da História completa duas décadas de atuação em Fortaleza com ações voltadas para a valorização do patrimônio histórico local
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Trem da História foi criado por Gerson Linhares há 20 anos (Foto: Gerson Linhares/Acervo Pessoal)
Foto: Gerson Linhares/Acervo Pessoal Trem da História foi criado por Gerson Linhares há 20 anos

Há uma diferença entre "espaço geográfico" e "lugar". Enquanto o primeiro diz respeito a interação humana com a natureza, o segundo conceito atribui subjetividade e pertencimento ao povo que lhe ocupa. Este é o caso de uma cidade para seus cidadãos, pois se trata de um ambiente que historicamente carrega símbolos de lutas, conquistas, religiosidades e mais aspectos culturais.

É baseado na importância de valorizar o lugar de Fortaleza entre os fortalezenses que nasceu o projeto Trem da História, criado pelo educador patrimonial Gerson Linhares há precisamente 20 anos. "Desde então, já atendemos mais de 70 mil crianças e mais de 50 mil idosos", destaca o pesquisador.

A iniciativa reúne até 50 pessoas em um "trem rodoviário" para visitas guiadas aos patrimônios históricos da Cidade, com destaque principal aos que se localizam no Centro. Pausado para reformulações neste mês, a iniciativa tem previsão de retorno para agosto deste ano.

"Só no Centro existem 23 museus. Em Fortaleza, ao todo, são 68. O trenzinho faz essa ponte entre o público e esses espaços", pontua Gerson.

O projeto ainda leva uma "celebridade" de Fortaleza como acompanhante dos passeios: o Bode Ioiô. A figura faz parte do "Trenzinho da História", versão destinada a crianças e famílias.

"Sobre quem interpreta o mascote, a gente prefere manter em sigilo. Ele encarna o personagem com tanto carisma que as crianças o amam. Inclusive, a ideia do Museu do Bode Ioiô surgiu a partir dos pedidos das próprias crianças", assume o criador.

Trem da História tem versões para crianças

Aos sábados, o Trem da História irá acontecer gratuitamente com apoio do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), de onde sai em direção aos pontos históricos de Fortaleza. O passeio também poderá ser realizado durante a semana, caso famílias, escolas ou outras iniciativas contratem o trem com uma ajuda de custo de R$ 50. O valor, indica o educador, cobre o aluguel do veículo e a atuação dos educadores. Os participantes podem participar de sorteios de brindes, como livros e chaveiros.

"O Banco do Nordeste vai dar uma nova roupagem ao passeio, ampliando os roteiros para incluir bairros além do Centro e Praia de Iracema — como Jacarecanga, Benfica e outros do entorno do centro histórico", afirma Gerson, que também conta sobre o desenvolvimento de materiais lúdicos relacionados ao trem, como álbum de figurinhas e jogos. "A ideia é plantar essa semente desde cedo: valorizar a cidade onde se vive", explica.

Para que esta possibilidade seja também acessível a todos os institutos da Cidade, os organizadores fazem campanha para que cada escola particular "adote" um colégio público para também fazer parte dos passeios contratados.

"Fazemos visitas voluntárias a escolas públicas, uma por semana. Eu e o mascote vamos até lá para contação de histórias sobre a Fortaleza antiga e divulgamos o passeio gratuito aos sábados", acrescenta.

A continuidade deste trabalho, para Gerson, é um ativismo de resistência, que acontece com divulgação orgânica e com "escasso" auxílio governamental. Ele justifica: "A cidade está perdendo sua memória e identidade cultural. O passeio é uma forma de despertar o olhar sobre o patrimônio histórico, especialmente entre os mais jovens".

"Temos planos de criar personagens do Ceará para contracenar, como a Iraceminha, o Patativa, a Rachelzinha e o Dragãozinho, por exemplo. Queremos colocar nossos personagens e nossas referências, para que as crianças possam aprender mais sobre a nossa cultura de uma forma divertida e autêntica", complementa.

O pesquisador, que coordena projetos como "Fortaleza a Pé", iniciativa que percorre a cidade em caminhadas mediadas, argumenta: "O grande diferencial do nosso projeto é que ele é voltado ao cidadão, e não ao turista", alega. Para ele, ter este senso de pertencimento é um exercício de cidadania. "Através do conhecimento da própria cidade, da sua história, seus bairros, suas igrejas, seus museus, a criança começa a se reconhecer naquele espaço. E quando ela se reconhece, ela cuida. A memória e o patrimônio precisam ser valorizados e resgatados — e isso começa com as novas gerações", conclui.

Trem da História

Quando: semanalmente aos sábados, às 16 horas (retorno em agosto)

Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (rua Conde d'Eu, 560 - Centro)

Agendamentos e mais informações: @tremdahistoriafortaleza e 85 8835-9915

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