A plataforma de streaming O POVO+, do Grupo de Comunicação O POVO, lança nesta segunda-feira, 28, mais uma produção audiovisual em seu catálogo. Trata-se do documentário "Guerra sem Fim: Facções e Política".
O filme revela as conexões perigosas entre o crime organizado e o poder político no estado do Ceará. A produção aborda o caso de José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), prefeito reeleito de Santa Quitéria (município do Sertão dos Crateús).
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Ele foi preso em 1º de janeiro deste ano, antes de tomar posse do cargo, acusado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) de envolvimento com uma facção criminosa. Ela teria coagido eleitores, candidatos e funcionários da Justiça Eleitoral no pleito de 2024.
O documentário é um média-metragem e tem direção e roteiro do jornalista Demitri Túlio, além de trabalhos de Mariana Lopes (produção e pesquisa), Fco Fontenele (direção de fotografia), Aurélio Alves e Samuel Setubal (assistência de fotografia), e de Raphael Góes (edição).
A ideia de produzir o documentário surgiu a partir de denúncias sobre o envolvimento crescente das facções com a política, principalmente com a aproximação das eleições de 2024.
"Puxamos para nós a responsabilidade de dar luz a essa relação promíscua. E o pior é que, após o documentário ficar pronto, novas denúncias não param de chegar", relata Chico Marinho, editor-chefe do Núcleo de Imagem do O POVO. Como destaca, a nova produção é um prolongamento do trabalho que a equipe do O POVO tem desenvolvido sobre a atuação das facções no Ceará.
Na primeira temporada da websérie "Guerra Sem Fim" (2020), do O POVO+, o foco foi na união das facções criminosas do Estado para protestar contra ações rígidas nas penitenciárias, o que gerou uma onda de violência urbana.
Na segunda temporada, foram abordados os refugiados urbanos, ou seja, pessoas expulsas de suas casas por ordem de criminosos. "A ideia é mostrar os caminhos e estratégias que o crime organizado vem trafegando no Ceará", enfatiza Chico Marinho.
Cinco anos depois, chega ao público nova obra, desta vez focando na capilaridade do crime organizado no poder político.
Entre as personalidades entrevistadas estão o deputado estadual Renato Roseno (Psol); o procurador e coordenador do Centro de Apoio Operacional Eleitoral, Emmanuel Girão; e os advogados de defesa de Braguinha, Fernandes Neto e Waldir Xavier.
Além disso, participa da gravação o prefeito de Caucaia, Naumi Amorim (PSD). Jornalistas do O POVO - como Cláudio Ribeiro, Érico Firmo e Lucas Barbosa - também fazem contribuições para o filme.
Na avaliação de Demitri Túlio, porém, o principal personagem é o promotor de justiça Adriano Saraiva, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco-CE). "Ele vive com a cabeça a prêmio por mergulhar com o Gaeco e policiais sérios no submundo das facções", destrincha o diretor.
Enquanto jornalista, Demitri Túlio acompanha parte do cotidiano das facções no Ceará desde 2015, quando "o primeiro governo Camilo negava a existência do 'nascimento' desse tipo de grupo organizado para o crime", como relata.
Assim, reportou desde as primeiras expulsões de pessoas de suas casas pelas facções em Fortaleza. Desde então, considera que tais grupos "criaram musculatura nos cotidianos de Fortaleza e de todo o Ceará".
Ao longo do processo de apuração para o documentário, alguns dos aspectos mais marcantes foram, segundo o também roteirista, a "ousadia das facções" em quererem entrar no locus política e a violência usada como instrumento para alcançar esse objetivo.
O jornalista reflete que esse desejo das facções pode ser "relativizado" ao pensar em como há políticos "que trabalham de maneira semelhante às organizações criminosas", a partir do constrangimento e "encurralando para se beneficiar com emendas e aumentar a bancada de políticos".
"A diferença é que a institucionalidade os legaliza. Lógico, há exceções entre deputados, senadores, vereadores, governadores e prefeitos. Não estou sendo leviano", acrescenta.
Na avaliação de Demitri Túlio, a interferência das facções nas últimas eleições ficou mais explícita. Como, então, impedir a entrada de faccionados na política e no poder público? A resposta passa pela inteligência policial e por critérios mais rígidos na filiação - conforme é explanado na produção audiovisual.
Entretanto, os obstáculos continuam. "O político mal-intencionado consegue se aliar de várias maneiras. É uma porta aberta para as facções. Falo do político que frauda, desvia milhões de emendas parlamentares, vive rodeado de policiais bandidos e ficou rico porque se perpetua na política de projetos particulares", pontua o jornalista. Desta forma, é importante discutir essa relação "para incomodar o governo e a máquina pública".
GuerraSem Fim: Facções e Política
Guerra Sem Fim: Facções e Política - Ficha Técnica