Guitarras distorcidas, vocais guturais e agressividade são três elementos essenciais para definir a noite da sexta-feira, 1° de agosto, no Dragão do Mar. De São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, as bandas de metal Crypta, Paradise in Flames e Hatefulmurder - todas lideradas por mulheres - incluem Fortaleza no itinerário da turnê conjunta.
Antes de levar a turnê “In The Other Side Tour” para a Europa e a América do Norte, a banda de death metal Crypta está circulando por vários estados do Brasil, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe. No Ceará, o grupo vem pela terceira vez. “Não teve nenhuma tour, acho, que a gente fez da Crypta que não passasse por aqui”, diz Fernanda Lira, vocalista e baixista da banda, em entrevista ao O POVO.
A artista conta da importância dos fãs para o trio, que tiveram participação tanto na montagem do setlist quanto no roteiro de shows pelo Brasil. “Fortaleza sempre está entre os lugares mais pedidos dos nossos fãs para a gente tocar com as nossas turnês", afirma sobre o engajamento do público nas redes sociais, que também é responsável pelo retorno de músicas como “Kali” e “Starvation” ao repertório dos shows.
Formada exclusivamente por mulheres, a Crypta vem rodando o Brasil acompanhada de coletivos como Hatefulmurder e Paradise in Flames. Renan Campos, o guitarrista da "Hate", conta que sua banda tocou em Fortaleza em 2017, em plena terça-feira. Apesar do dia atípico, ele guarda boas lembranças da apresentação e conta que a banda recebe recorrentes pedidos para vir à capital.
Renan ainda traz consigo um laço mais forte com a Cidade. “Eu tenho uma relação muito especial com Fortaleza, minha mãe é de Fortaleza e minha avó também, então, é uma relação biológica, verídica com essa cidade, e a gente tá muito animado em voltar depois de um tempão”, conta.
Vocalista da banda mineira Paradise In Flames, a artista Nienna Ni conta que a banda tem um vínculo com a cidade por já ter se apresentado no local. “É a minha primeira vez com a PIF (Paradise In Flames) em Fortaleza, mas já ouvi histórias das outras vezes e a expectativa está alta”, exclama.
“A gente tá muito amarradão. O legal é que as três bandas têm estilos diferentes”, diz Renan Campos. O carioca afirma que os três grupos fazem metal e investem em um som pesado, mas não tentam fazer igual. “Eu acho que o Paradise In Flames é uma banda mais sinfônica. Tem muita sinfonia ali, vocal lírico e gutural ao mesmo tempo. O 'Hate' foi uma banda um pouco mais moderninha, digamos assim. E o Crypta é um death metalzão aí, pô, poderosíssimo, né? Ganhando o mundo”, elucida.
A experiência de viajar com outras bandas para fazer shows pelo país, além de promover a troca entre músicos de diferentes grupos, pode ser uma maneira de movimentar a cena do metal no Brasil. “Eu acho que isso pode movimentar outras bandas a também buscarem fazer shows, ou produzirem eventos, ou turnês, nesse mesmo sentido, de juntar uma galera, ‘vamos aqui juntar, vamos organizar, vamos fazer a coisa, vamos fazer acontecer’. Isso é muito importante”, afirma o guitarrista da Hatefulmurder.
As garotas cantam
Conforme a vocalista da banda Crypta, Fernanda Lira, a sugestão das bandas para abrir os shows dessa turnê foi feita pela agência que cuida dos negócios do grupo. "A gente achou muito legal exatamente por já ter pessoas que a gente conhece e por todas as bandas terem integrantes mulheres. Isso é muito legal para a gente. Dar esse espaço para bandas que tenham mulheres", declara.
Ela afirma que a cena "ainda é predominantemente masculina" e busca abrir espaços para outras mulheres ocuparem, uma missão que ela define como um "desafio". "A gente tem mulheres na nossa equipe e ter mulheres nas outras bandas com quem a gente faz turnê também é muito importante", diz a cantora.
"Já tivemos bandas 'female fronted' trilhando esse caminho de desconstrução, mas é um trabalho de formiguinha mostrar que qualidade e excelência não têm nada a ver com gênero. Daí a importância de fazer a tour juntas: o apoio entre as bandas que estão nessa mesma jornada e o direcionamento do público", afirma Nienna Ni, vocalista da Paradise In Flames, que ainda reconhece uma resistência à figura feminina na cena do metal.
A banda Hatefulmurder observa o impacto da presença de mulheres para o público. "A gente conversando com as pessoas que vão aos nossos shows, conversam com a Giulia (vocalista) nessa turnê mesmo. Muitas meninas falam com ela que é muito legal ver uma mulher tocando com outros caras ou uma banda só de mulheres, porque isso inspira as pessoas", comenta o guitarrista Renan Campos.
Sobre a relação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) com o rock e o metal, a superintendente do equipamento, Camila Rodrigues, afirma que o local "tem sido um espaço de referência para o metal e a cena independente no Ceará". "Já recebemos artistas locais, como Visceral Suffering, Corja!, Disasterpieces e Insane, além de grupos nacionais, como a banda Crypta, que já se apresentou aqui", diz Camila, manifestando o desejo de continuar promovendo eventos para o segmento.
Shows de Crypta, Hatefulmurder e Paradise in Flames