Um mês antes de completar 50 anos, Criolo apresenta, em Fortaleza, a turnê especial de celebração aos seus 50 anos de vida. O show, realizado neste sábado, 2, traz sucessos que emplacaram sua trajetória, como os álbuns "Nó Na Orelha" e "Convoque Seu Buda", com os ritmos de trap, grime, drill, afrobeat e, principalmente, o samba. Ao O POVO, ele conta sobre projetos que estão por vir e a relação com a capital, destacando sua raíz do Ceará.
O POVO - Criolo, a turnê de 50 anos nasceu com a intenção de ser um marco na tua carreira? O que ela representa para ti e o que podemos esperar do teu trabalho após esse projeto?
Criolo - Essa turnê nasce, na verdade, com a intenção de celebrar a vida — celebrar estar vivo, celebrar ter conseguido chegar até aqui. É uma celebração do início da nossa trajetória, da história dos meus pais. Eles são dessa terra abençoada chamada Ceará, mas foram forçados a deixar o lugar que tanto amam para tentar a vida em São Paulo. Então, a gente carrega uma história marcada por muita luta e sofrimento. A vida nunca foi fácil, nunca conseguimos respirar em paz. Quando a gente se dá conta, o tempo passou... e a gente sobreviveu — que é bem diferente de viver.
Essa turnê de 50 anos é, acima de tudo, uma celebração da vida, de ter alcançado essa idade, de todas as conquistas que a música trouxe, não só pra mim, mas para toda a minha família. E a força do rap é o motor propulsor de toda essa caminhada.
OP - O que podemos esperar das músicas que tem desenvolvido neste momento da vida e carreira?
Criolo - Junto com a turnê, estou trabalhando também num álbum muito especial, que aquece meu coração e me traz muita alegria. Um disco feito por mim e mais duas pessoas incríveis: o brilhante pianista Amaro Freitas, de Recife — uma bênção na minha vida — e o talentoso Dino D'Santiago, com sua voz e coração inconfundíveis. Quem nos aproximou foi ninguém menos que Milton Nascimento. Esse álbum será lançado ainda este ano.
Além disso, estou escrevendo um livro com minha mãe, um livro de vivências e escutas. Minha mãe é uma mulher muito sábia, e essa troca é muito valiosa para mim — poder ouvir e aprender com ela. E tem mais: um disco de samba também está vindo aí. Então, a gente vai celebrar essa caminhada de muitas maneiras.
OP - O show em Fortaleza, que acontece neste sábado, 2, vai trazer seus últimos trabalhos com samba? E as músicas que marcaram sua carreira?
Criolo - Neste sábado, dia 2, teremos esse show abençoado nessa terra que tanto amo. Vai ter músicas de todos os álbuns. Vai ter samba, rap, reggae, canção, poesia, novos arranjos, uma banda incrível com músicos incríveis. Vai ser bom demais, gente!
OP - 50 anos é a idade do sucesso? O que essa marca te faz refletir pessoal e profissionalmente?
Criolo - Para mim, o mais importante é ainda poder sonhar. Essa é a grande marca: eu ainda tenho sonhos. Meus pais completaram 75 anos recentemente, e a gente ainda consegue sentar, conversar, viver as coisas simples do dia a dia. Isso é o mais precioso.
OP - Além de ter pais cearenses, tua presença no Estado é constante em festivais e shows solo. Como é tua relação com esse espaço?
Criolo - Fortaleza sempre foi, para mim, um lugar de resistência cultural, de aprendizado, onde cultura e educação estão em outro nível. Aliás, todo o Nordeste é um espaço de excelência em estudo, pesquisa e dedicação. Quem acredita no contrário está sendo enganado por uma falácia.
Sempre que vou ao Ceará é tudo muito rápido. Ou estou na casa da minha avó, ou num rolê pela Messejana, Bom Jardim, Mondubim... são lugares que fazem parte da história dos meus pais. Esses bairros, esses recortes, moldaram o modo como a gente vê o mundo e como aprendemos a sobreviver com dignidade. É uma conexão muito profunda, não com o turismo, mas com a memória, com a ancestralidade, com a luta e com a força do povo cearense. É sempre emocionante voltar.
OP - Você tem uma grande repercussão nacional com sua música e tudo que ela representa. Mas, afinal, o que o artista Criolo quer representar para o país?
Criolo - Na verdade, eu nem sei o que quero representar, porque não se trata de um personagem. Só quero honrar meu pai e minha mãe, que são desta terra, e continuar fazendo o rap ecoar pelo mundo. O rap mudou minha vida, foi um milagre, um presente que recebi. Se não fosse o rap, nada disso teria acontecido. Então, eu só quero gritar ao mundo o quanto o rap transforma, salva, constrói, abre a mente, ajuda a gente a buscar melhores formas de sobrevivência — e até de ser feliz com a gente mesmo.
OP - Além do rap e do samba, há outros gêneros musicais que você pensa em incorporar ao seu trabalho?
Criolo - Rap, samba, forró, sertanejo, tudo. A gente é tudo isso. O Brasil é tudo isso, gente. Ou vocês acham que não tem compositores pretos e pretas na música sertaneja? A música da roça, dos caboclos, das caboclas — é tudo parte do Brasil profundo.
A música sertaneja, a música do sertão, do campo, dos camponeses e camponesas… existem mamelucos, cafuzos e cafusas, pretos e pretas, originais da terra que se misturam com essas cantigas e as histórias de como se deu cada território. Esses compositores e compositoras estão nessa arte e cabe a gente pesquisar, encontrar e enaltecer esses trabalhos. Eu sigo o que meu coração pede, sempre.
OP - Atualmente, quais são suas principais referências na música brasileira?
Criolo - Minhas referências são muitas. Me emociono vendo vídeos do meu amigo amado, o Mestre Monarco amado. Sempre vejo registros de um show cantando juntos, também com o querido Nelson Sargento. Choro de saudade dos momentos que vivemos juntos. Mas também me emociono com o que está sendo feito hoje nas batalhas de freestyle, nas rodas de rima, nas rodas culturais que revelam novos MCs e constroem uma nova era. As referências são múltiplas — e às vezes a gente nem sabe de onde elas vêm. A arte passa pela gente. A arte é que é dona de tudo.
Criolo 50
Quando: sábado, 2 de agosto, às 19 horas
Onde: Iguatemi Hall (avenida Sebastião de Abreu, 422 - Edson Queiroz)
Quanto: a partir de R$ 80 (meia-entrada)
Vendas: site Ingresse.com e bilheteria do Iguatemi Hall