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Qual o custo do lazer? Produtores e artistas debatem entraves do acesso ao entretenimento
Vida & Arte

Qual o custo do lazer? Produtores e artistas debatem entraves do acesso ao entretenimento

Produtores culturais e artistas debatem os benefícios e os entraves do acesso ao descanso e às atividades de entretenimento
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 11.06.2025:  Theatro José de Alencar faz 115 anos. (Foto: Aurélio Alves/O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 11.06.2025: Theatro José de Alencar faz 115 anos. (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

"Onde é hoje?" costuma ser o tipo de indagação que surge num grupo de amigos, qualquer que seja, com a chegada do fim de semana. Um dos fatores determinantes para a escolha do lazer é o preço, que é contabilizado desde o meio de transporte a ser utilizado para ir e voltar do "rolê" até os custos de ingresso e alimentação.

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O custo desse tipo de atividade é apontado, principalmente, como uma das razões do consumo de cultura ter diminuído no País no último ano, segundo a pesquisa Cultura nas Capitais. Realizada pela JLeiva Cultura & Esporte com dados coletados pelo Datafolha, a análise mostra que pessoas das classes D e E são as que menos consumiram atividades culturais nas capitais brasileiras em 2024.

Dentro de uma amostragem de 19.500 entrevistados em todas as 27 urbes nacionais, o estudo revelou que 68% das pessoas de classes mais baixas nunca foram a feiras do livro, 65% nunca foram ao teatro e 61% nunca visitaram museus. Para a artista visual Arth3mis, moradora do bairro Curió, essa diminuição se deve a uma série de fatores que variam entre os salários baixos e a falta de tempo para o descanso.

Incentivada pelos pais a acessar as artes, dentro de suas possibilidades, desde criança, ela defende que o acesso a essas atividades seja tratado como necessidade básica. "Anseio por um dia que tenhamos um senso comum, de entender a cultura como uma necessidade básica, talvez assim consigamos avançar em alguns debates", salienta.

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O articulador comunitário Aurianderson Amaro, do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), destaca que a valorização da cultura local, a formação de plateia e a educação artística devem ser levadas em consideração ao pensar no acesso a atividades culturais. O também arte-educador pontua que a localização dos equipamentos é outro fator de impacto.

"Para uma pessoa da periferia ir a um cinema, quantos ônibus ela pega para ir e voltar? Quanto ela paga? É seguro estar nas paradas (de ônibus)? Ela tem dinheiro para tudo isso?", questiona. Além disso, o ele chama atenção para a necessidade de acessibilidade para pessoas com deficiência nesses espaços.

"Então, são muitos detalhes e é necessário refletir sobre tudo isso conjuntamente e ouvir quem realmente sofre com essa falta de acesso", reflete. O também dramaturgo aponta para quais produções não estão sendo acessadas. Nas palavras dele: "Filmes e espetáculos que vão para shoppings, por exemplo, têm sim um valor mais alto e em sua maioria são produções que vêm de fora da cidade, influenciadas pelo pensamento capitalista de lucro".

Segundo ele, as produções locais não alcançam os espaços citados, indo para outros locais com preços de ingresso mais baixos e, por isso, sofrem um olhar de inferiorização por parte da sociedade. "Acham que por ser daqui, valem menos e o valor que é cobrado não paga nem de longe os custos que (os artistas) tiveram para a produção", alega.

Em virtude disso, é preciso mudar a perspectiva sobre o que é considerado uma atividade cultural, como afirma Arth3mis. "Nos são reveladas outras possibilidades de acesso, que podem nos ajudar a não termos os nossos acessos limitados ao fator financeiro", ilustra a graduanda em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Ela não é contra o acesso às salas de cinema, livrarias ou teatros, mas espera que novos pontos de vista sobre o consumo cultural sejam considerados. Para a artista, é fundamental pensar o lazer como algo presente na rotina das pessoas como apresentações de quadrilha, batalhas de rap em praças, crianças soltando pipa nas férias, conversas com avós rendeiras, bibliotecas comunitárias e outras iniciativas.

"A partir do momento que tomamos pra gente, que cultura vai para além do mercado, conseguimos quebrar com uma lógica que só existe para segregar espaços", pontua a artista visual. Aurianderson, por sua vez, dialoga que é necessário o investimento público para que haja a ampliação do acesso à cultura.

"Quando um jovem tem acesso à cultura, ele amplia os olhares sobre o mundo e sua realidade, ele se torna mais confiante, sonhadora, perspicaz. Quando uma criança tem acesso, ela cresce criativa, sensível às transformações e dialoga melhor com sua comunidade. Quando um idoso acessa, ele se percebe capaz, atuante no mundo, parte de um todo", argumenta o ator, que percebe a cultura como benéfico a toda a sociedade.

Incentivar uma formação de capital que mostre a importância dos saberes dos mestres de Cultura do Estado, aborde com carinho a origem dos festejos populares, explore a música e dê mais condição de letramento para estimular o consumo da literatura cearense sem deixar de respeitar a oralidade, é outro ponto fundamental do acesso à cultura - elucida Arth3mis.

"Quando estimulamos a nossa sensibilidade, e a periferia, mais do que muitos espaços, é um lugar de resiliência, nós estamos rompendo com o que é esperado; a relevância de se construir capital cultural, é ter um corpo aberto pros ensinamentos do mundo", finaliza.

Espaços culturais fora do eixo

AZC - Centro Cultural Mestre Lula

O espaço oferece aulas
de capoeira e vivências
de inclusão

Quando: terça-feira a sexta-feira, diversos horários

Onde: rua Descartes Braga, 2860 - Granja Lisboa

Mais informações:
no Instagram @azc.capoeira

Gratuito

Parque Rachel de Queiroz

Além dos carrinhos de comida, o parque recebe circo e aulas de dança coletiva

Onde: rua Edgar Falcão, s/n - Presidente Kennedy

Mais informações: no Instagram @parqueracheldequeirozapk

Gratuito

Parque Rio Branco

O local recebe atividades como clube do livro e meditação

Onde: Avenida Pontes Vieira, s/n - Joaquim Távora

Gratuito.

Mais informações e programação: no instagram @movimentoproparque

Cururu Skate e Rap -
A Batalha

Considerada a maior batalha de rimas do Ceará, ponto de encontro dos amantes da cultura hip hop

Quando: quartas-feiras,
às 18 horas

Onde: Avenida Osório de Paiva (ao lado do Ginásio Poliesportivo da Parangaba)

Mais informações: no Instagram @cururuskateerap

Gratuito

CasAvoa

Museu comunitário, segunda sede do Livro Livre Curió

Quando: segunda a sábado, das 16h às 20 horas (funcionamento especial para atividades por demanda)

Onde: Rua Leonice Aguiar, 330 - Curió

Gratuito

Praça do Polar

Quiosques de comida, shows ao vivo e outras atividades

Quando: Avenida Mozart Lucena, s/n - Vila Velha

Mais informações: no Instagram @pracinhadopolardetodos

Gratuito

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