Laura Catarina lembra bem de sua primeira gravação musical. Foi aos nove anos, em um projeto infantil. Na mesma época, passou a participar de outros projetos. Seu pai a apoiou em todas as ocasiões. Foi dele, por sinal, que recebeu seu primeiro violão. A ligação com a música estava nas veias familiares, não havia como negar.
Duas décadas depois, sua conexão com a música continua. Na terça-feira, 5, a partida física de Vander Lee completou nove anos. A presença espiritual, porém, continua, pois seu legado é repassado adiante não só por quem admirou seu trabalho, mas principalmente por quem teve a oportunidade de conviver com um nome importante para a música brasileira.
Neste sábado, 9, Laura Catarina presta homenagem ao pai em show no Theatro José de Alencar (TJA). Com participações especiais, ela leva ao público repertório formado pelos sucessos do cantor mineiro em apresentação "semi-acústica", com violão e teclado.
Participam do show os cantores Isaac Cândido e Vannick Belchior (filha do cearense Belchior). Laura interpreta faixas como "Esperando Aviões", "Onde Deus Possa Me Ouvir", "Iluminado" e "Românticos". Além disso, apresenta músicas inéditas de seu projeto autoral. Ela dividiu palco e gravações com nomes como Mariene de Castro, Dani Black, Carlos Careqa e Orquestra Ouro Preto.
Em 70 minutos, ela dedica tributo afetuoso ao pai, resgatando crônicas de amor e vida destacadas nas canções de Vander Lee. O show passa por Fortaleza após temporadas em Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Vitória da Conquista (BA). O espetáculo volta a ocorrer na capital cearense após edição em 2023.
Esse trabalho de homenagem começou em 2016, pouco após a morte de Vander Lee. Laura Catarina morou com o pai nos últimos três anos de sua vida, considerando "um presente", pois nunca havia residido, de fato, com o cantor devido ao fato dos pais serem separados desde quando tinha 11 meses de vida.
Como relata, pôde viver uma "parceria diferente". Com sua morte, compôs a canção "Amor de Pai" ao voltar para casa no dia do enterro de Vander Lee. "Eu conto um pouco da minha visão poética da história do meu pai e da nossa vida", relata. A canção foi ouvida por muitas pessoas e uma produtora, ao ter conhecimento da faixa, convidou Laura para show em homenagem ao cantor.
Com o passar dos anos, surgiram convites para levar o trabalho para outros contextos, o que rendeu o álbum "Laura Catarina Canta Vander Lee". Era o sentimento de querer estar perto "da dimensão poética" e a oportunidade de sentir sua presença.
"As suas canções são tão carregadas de sentido, de identidade e de alma, que quando você está em contato com a obra você revive o compositor, aquela personalidade. Para mim, esse projeto foi um presente, porque pude me despedir do meu pai a partir da sua música. Vivi muitos processos no palco. Muitas integrações, inspirações, bençãos e emoção", caracteriza.
Com tantas apresentações do espetáculo ao longo dos anos, viu a conexão que a plateia também tem com a música de Vander Lee: "Não é sobre mim esse trabalho. Claro, tem minha identidade e força, mas essa força também é dos meus ancestrais. É do meu pai, dos meus avós, de quem veio antes de nós. Quando faço esse projeto represento um legado".
"As pessoas que amam Vander Lee não podem perder a oportunidade de conhecer esse projeto, que veio de um lugar tão íntimo e tão verdadeiro da minha conexão com meu pai. A oportunidade que tive de estar bem perto dele nos últimos três anos, tudo que ele me transmitiu, é o que levo para esse show. Vejo que, como adulta, ao receber a benção para minha caminhada antes dele partir, foi uma preparação para eu estar hoje dando continuidade com essa autoconfiança e resiliência", declara.
O show é realizado um dia antes do Dia dos Pais. A apresentação é tomada por simbolismos - desde a proximidade com a data de falecimento de Vander Lee ao fato de outra filha de cantor participar com homenagem a seu pai. Neste caso, é destaque a cearense Vannick Belchior, que sobe ao palco para tanto interpretar faixas de Vander Lee como de Belchior.
"Vai ser realmente uma celebração antecedendo o Dia dos Pais. Então, é para levar a família, os pais e se emocionar. Vamos fazer essa conexão entre Vander Lee e Belchior, apresentando as continuidades de legados, de ancestralidades e, acima de tudo, prestando homenagens para o público matar a saudade desses cantores", explica Vannick em entrevista O POVO.
Amizade que se perpetua
"Conheci o Vander Lee em 1999, no apartamento da cantora Mariana Neves em Belo Horizonte (MG). Passamos um bom tempo tocando violão, e a sintonia foi imediata. Minha música sempre foi influenciada pela riqueza da cultura mineira, enquanto ele se inspirou na tradição cearense de nossos ícones, Fagner, Ednardo e Belchior, Fausto Nilo.
Dois anos depois, Vander Lee estava estourado na voz da Gal e fez um show na Lapa. Foi nesse evento que reforcei minha intenção de trazê-lo ao Ceará pela primeira vez. Tive a honra de produzir mais de dez shows dele, incluindo três no Theatro José de Alencar.
Além disso, compusemos juntos uma música, com Davi Duarte, que, infelizmente, até hoje não acharam o arquivo. Na última vez que ele se apresentou no Cineteatro São Luiz não pude vê-lo, especialmente no momento em que ele ia tocar a parte dele ali no camarim.
Produzir a Laura, filha dele, é uma extensão dessa amizade que se perpetua. Assim, aproveitamos para matar a saudade de sua genial obra."
- Texto de Isaac Cândido, cantor, produtor musical e compositor cearense
Show "Laura Catarina canta Vander Lee"