Queijo feta, azeite de oliva, cebolas roxas e o Tzatziki, tradicional molho de iogurte, figuravam como elementos obrigatórios nas mesas familiares na década de 1960, na Grécia. Como trilha sonora, barulhos de louças se estilhaçando compunham a atmosfera de como seria uma tradicional refeição grega. Historicamente, o ato de quebrar as louças após a refeição representava a liberação das más energias, além de simbolizar o desapego aos bens materiais e a celebração da alegria.
Hoje, após incidentes e a proibição da prática de plate smashing (quebra de pratos) no país balcânico, a culinária grega segue mantendo os princípios de fartura, leveza alimentar, sazonalidade dos ingredientes e de comunhão à mesa.
Conhecida mundialmente por seu caráter saudável, na adaptação contemporânea, a culinária grega se mistura em nomenclaturas e sabores com outros preparos dos povos do Mediterrâneo Oriental.
No Brasil, entre árabes, turcos e armênios, criou-se uma linha comum de pratos, com variações locais nos nomes, temperos e métodos. Recebendo definições distintas a partir da origem de cada chef, para Robério Marques, instrutor de gastronomia do Senac, a tradição grega não se prende a uma designação para seguir resistindo na contemporaneidade.
"Não existe uma classificação em si. O que existe é a cultura alimentar construída a partir do cotidiano de um povo. A culinária grega é ampla, e uma das mais antigas de toda a Europa, traduzindo, dentro da culinária mediterrânea, uma cozinha rica em sabores, frescor e naturalidade", conta.
Em busca de recriar essa atmosfera, restaurantes em Fortaleza apostam em temperos, métodos e insumos da culinária grega, unindo o frescor do Mediterrâneo à costa cearense.
Olimpo
Manter viva a memória do avô era um dos objetivos de Dimitrius e Saulo Donsouzis, quando no auge da pandemia, começaram a recriar receitas gregas para delivery.
Desde então, não teve um dia que o Olimpo não recebeu um pedido, evidenciando que o lanche grego começava a ganhar espaço no paladar do público.
Ao longo dos últimos cinco anos, os irmãos ganharam notoriedade participando de eventos corporativos, de feiras colaborativas e realizando noites gregas temáticas, nas quais ministram cursos sobre a técnica empregada.
Como carro-chefe do cardápio, os irmãos apresentam iguarias que eram pratos certos em suas mesas de almoços familiares: a entradinha Kafta, espeto de carne bovina com cordeiro moído, acompanhada com batatas fritas; um Souvlaki aberto no prato, que leva salada, batata frita, o molho Tzatziki e camarão; e a versão do Souvlaki enrolado, que envolve os ingredientes no pão pita.
Em 2025, a dupla inaugurou o ponto físico na Varjota que, além de chamar atenção pela bandeira grega hasteada, também resgata uma tradição antiga. Ao final da refeição, os pratos seguem sendo quebrados pelos clientes, como forma de atrair boas energias.
Zoi
Após uma viagem à Grécia, a vontade de unir a culinária da região à alta gastronomia ficou ecoando no publicitário Rodrigo Frota. Assim, em 2016, no Complexo do Colosso, surgiu o ZOI que, em tradução literal da língua grega, significa "vida".
Buscando ancestralidade em insumos animais e vegetais em sua formatação mais básica, o restaurante apresenta o Camarão Saganaki, que leva camarão rosa selvagem grelhado com molho de tomate rústico, alho frito e queijo de cabra, tradicionalmente consumido na Grécia.
Além disso, os temperos do Mediterrâneo podem ser evidenciados no tentáculo de polvo grelhado ao azeite grego, que conta com mix de batatas, iogurte grego artesanal, azeitonas kalamatas e páprica.
Ki Grego
Churrasqueiro da família desde a infância e identificando uma lacuna no mercado de lanches, em 2018, Davi Cavalcante pensou em um food truck que trouxesse o tipo de preparo grego para o Ceará. No Ki Grego, no Mondubim, a clientela pode ver o Gyros, tradicional espeto giratório, que assa lentamente finas fatias de um blend de carne bovina e suína. Depois, com a carne pronta, ela é servida em um pão que leva elementos típicos da comida de rua cearense, como a maionese temperada, vinagrete e a batata palha.