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O samba mais triste: morre o músico Arlindo Cruz, aos 66 anos
Vida & Arte

O samba mais triste: morre o músico Arlindo Cruz, aos 66 anos

Arlindo Cruz morreu na sexta-feira, 8, aos 66 anos. Cantor e compositor deixa mais de 750 composições e contribuição revolucionária no samba
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Arlindo Cruz estava afastado da música desde 2017, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) (Foto: Marcos Hermes /Divulgação
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Foto: Marcos Hermes /Divulgação Arlindo Cruz estava afastado da música desde 2017, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC)

Conquistar a posição de mestre não é para todos. Requer, além de experiência e excelência, a conquista de respeito e admiração. É assim que Arlindo Cruz, falecido na manhã de sexta-feira, 8, no Rio de Janeiro, será lembrado. O artista, que viveu por oito anos com sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC), deixa legado digno de quem era reconhecido pelos colegas de profissão como "o sambista perfeito".

Criado em Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro, foi responsável por traduzir o cotidiano em mais de 750 composições, muitas gravadas por nomes que vão de Zeca Pagodinho a Alcione. O território onde cresceu, inclusive, é tema de um dos maiores sucessos de sua carreira: "Meu Lugar", música tema da novela brasileira mais exportada do Brasil, "Avenida Brasil", que chegou a 148 países.

Para relembrar a extensa história do também multi-instrumentista, é necessário voltar à infância do carioca. A aproximação com a música aconteceu aos sete anos, quando ganhou o primeiro cavaquinho. Aos 12, já entendia o funcionamento de outros instrumentos, como o violão.

Arlindo foi um dos criadores da tradicional roda do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, que, às quartas-feiras da década de 1970, reunia vozes já conhecidas do público. Apadrinhado por Candeia e Beth Carvalho, teve 12 letras gravadas no primeiro ano e, pouco tempo depois, foi convidado para substituir Jorge Aração no Fundo de Quintal em 1981.

A participação de Cruz no coletivo abriu portas para a revolução no samba. Ao longo de 11 álbuns, eles popularizam nova sonoridade com a introdução do repique de mão e banjo. Transformaram, então, em clássicos letras como "O Show Tem Que Continuar": "Mas iremos achar o tom/ Um acorde com lindo som".

No ano de 1993, Arlindo iniciou carreira solo e lançou oito álbuns com diferentes propostas e parcerias, a exemplo de Sombrinha, Rogê e Arlindinho (seu filho). Ficou com a voz eternizada em faixas como "Saudade Louca", "O Que É O Amor", "Tá Perdoado" e "Camarão que Dorme a Onda Leva".

Os demais sucessos chegaram até a majestosidade das escolas de samba. Considerado filho da Império Serrano e entusiasta da folia carnavalesca, ele compôs para a Grande Rio, Vila Isabel e Leão de Nova Iguaçu. Em 2023, recebeu homenagem da escola de coração com o enredo "Lugares de Arlindo", composto por Carlos Senna, Carlitos Beto Br, Sombrinha, Aluísio Machado, Rubens Gordinho e Ambrósio Aurélio.

O desfile na Sapucaí foi uma forma de celebrar a trajetória do carioca, que já se encontrava com a saúde fragilizada após acidente vascular cerebral (AVC) em 2017. Entre internações e altas médicas ao longo dos últimos anos, as complicações enfrentadas por Arlindo mobilizaram o País. Em trecho da biografia "O Sambista Perfeito" (2025), escrito por Marcos Sales, a esposa do cantor, Babi Cruz, declara: "Tivemos momentos lindos dele segurando copo, segurando biscoito… Hoje não temos mais isso do Arlindo. Hoje ele está bem dentro do mundinho dele, do universo dele. Bem distante".

Vencedor da categoria de Melhor Músico do Samba no 26º Prêmio da Música Brasileira no ano de 2015, Arlindo recebeu honras como as cinco indicações ao Grammy Latino. O mais importante, entretanto, conforme entrevista do sambista ao O POVO em 2012, era garantir uma boa roda de samba: "Tem que ter sempre todas as gerações. Embora tenha samba que fale de tristeza, se canta com uma alegria danada". (Colaborou Lara Montezuma)

Feliz quem tem o samba

Celebridades, políticos e fãs utilizaram as redes sociais para lamentar a partida de Arlindo Cruz. "Jamais iremos esquecer do seu talento, das resenhas. Que Deus o receba com muito amor", escreveu o ator Eri Johnson no Instagram.

Já o cantor Tiago Iorc publicou um vídeo cantando "O Bem" e chamou Arlindo de "maestro do bem". "A imensa luz de Arlindo brilhará para todo o sempre", compartilhou na publicação.

O intérprete também foi lembrado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD): "Vai em paz irmão! Obrigada por tudo! O samba agradece!".

O sambista recebeu homenagem de escolas de samba, como a Império Serrano, oriunda de Madureira e parte da carreira do artista. O cantor foi tema da agremiação em 2023, com o enredo "Lugares de Arlindo".

"Arlindo Cruz é parte da alma do Império Serrano. Compositor genial, cantor de voz marcante e sambista de coração inteiro, ele escreveu páginas inesquecíveis da nossa história", relembrou a Império Serrano em nota oficial.

A Mangueira também estendeu solidariedade à família do compositor: "Manifestamos nossa solidariedade à sua companheira, Babi Cruz, aos filhos Arlindinho e Flora Cruz, e a todos os amigos, familiares e fãs que hoje choram a partida de um artista incomparável".

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