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Vampiros: personagens ganha espaço na produção de cultura pop
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Vampiros: personagens ganha espaço na produção de cultura pop

Obras estreladas por vampiros - com muito sangue e embates sociais - ganham espaço na produção de cultura pop
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Foto: Reprodução/Warner Filme "Pecadores"

Com a estreia do filme "Drácula - Uma História de Amor" (2025), dirigido por Luc Besson, no fim de julho, os vampiros voltam de vez a se fazer presentes nas produções de cultura pop. O longa francês é apenas mais um exemplo de produção audiovisual a abordar, nos últimos anos, uma das criaturas clássicas do terror: vampiros.

Pouco antes, em abril, "Pecadores" (2025) de Ryan Coogler apresentava uma história vampiresca sobre sangue e ancestralidade - e ao mesmo tempo homenageava o blues. Já "Nosferatu" (2024), de Robert Eggers, revisitava um clássico do cinema com mais terror e crueldade.

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As séries "Entrevista com o Vampiro" (2021) e "Castlevania - Noturno" (2023) ofereciam clichês do terror com mais diversidade e culturas que vão além da aristocracia moderna. Ainda que cada uma dessas narrativas tragam diferentes abordagens sobre os sugadores de sangue, elas mostram como o entretenimento continua sendo algo cíclico e capaz de se adequar a sua época.

Esse fenômeno, para a ilustradora e especialista em cultura pop, Danielle Alícia, é algo presente desde a produção literária clássica "Drácula", de Bram Stoker, datada de 1897 e adaptada em 1992 para as telonas. "Acho que as obras mais icônicas do universo vampiresco são complexas, drácula por exemplo retrata angústias e preconceitos de sua época, os conflitos da sexualidade numa sociedade muito religiosa e reprimida nesse aspecto", explica.

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"O preconceito com o Leste Europeu e o estrangeiro, o medo do colonialismo reverso em um período onde o imperialismo britânico estava em decadência", continua a também estudante de Sistemas e Mídias Digitais na Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo ela, as histórias de terror são um modo de falar sobre os problemas de cada tempo, usando da fantasia e do surrealismo.

Para o historiador e especialista em Escrita Literária Dmitri Gadelha, os vampiros sempre estiveram em alta. Existe um anseio no ser humano por aquilo que é sombrio, além da "sensualidade" e do "glamour" presente nos vampiros, ele aponta. "É algo que faz parte de nosso inconsciente coletivo e vez por outra emerge como fenômeno coletivo", afirma.

Dmitri é criador do Fortaleza Noturna, RPG de vampiros ambientado na Capital, e observa que as histórias de criaturas da noite contemporâneas têm uma maior preocupação em trabalhar com novas roupagens, de modo central e sem perder a essência de uma boa trama vampiresca.

"As narrativas vampíricas se atualizaram e trazem à tona esses temas, não de forma tangencial, mas como centro da trama. Isso dá uma nova roupagem ao mito vampírico e dialoga com terrores reais de nossa sociedade", pontua o também fundador do projeto Vila do RPG.

Além disso, a curiosidade pelo horror como gênero foi recuperada, como explica Kinaya Black, escritora e roteirista cearense. Ela percebe que esse interesse tem se intensificado principalmente com enredos que conseguem misturar entretenimento com "comentários sociais".

O vampiro, ela descreve, é uma criatura flexível que pode render metáforas para temas diversos, se mantendo consoante com a época em que as tramas estão sendo tecidas. "Quando a gente olha para essas novas narrativas e adaptações de obras mais antigas, percebemos que o mito está sendo revisitado com mais consciência de quem conta a história e de que mundo ela dialoga", aponta Kinaya.

"É como se o vampiro tivesse encontrado novas formas de morder ou cutucar temas antigos", destaca a escritora de "Eu Conheço Uzomi", ficção científica publicada em 2021.

Danielle argumenta que a mudança nas abordagens das histórias demonstra uma certa abertura em falar sobre grupos sociais marginalizados e criar histórias a partir do cotidiano deles.

"Essa abertura junto ao reconhecimento do trabalho desses indivíduos acabou gerando uma maior representação no cinema e na cultura pop, algumas vezes repaginando conceitos, plotes e gêneros inteiros com uma nova perspectiva", diz Danielle, citando obras como as já referidas: "Pecadores", "Castlevania - Noturno" e "Entrevista com o Vampiro".

A grande sacada para essas mudanças nas histórias de vampiro foi possibilitar a autoria de criadores diversos, segundo Kinaya. "Gente que traz vivências e perspectivas diferentes", destaca. Se antes, o vampiro era conhecido por ser uma aristocrata europeu, como os membros da família Cullen, de "Crepúsculo" (2008 a 2012), agora qualquer tipo de pessoa - no mundo da ficção - pode ser tornar um sugador de sangue.

"Hoje, com um pouquinho mais de possibilidades de diversidade em equipes, as narrativas se permitem ser mais complexas e mexer com os códigos do gênero", alega a escritora cearense, que também sustenta que as novas narrativas, qualquer que seja a linguagem, trazem mais diversidade não só para atender um certo público, mas para "reescrever o lugar dessas figuras na nossa memória cultural".

 

Novas histórias de vampiros para ver

"Pecadores" (2025)

Os irmãos Fuligem e Fumaça, ambos interpretados por Michael B. Jordan, retornam a sua cidade natal para abrir um clube de jazz. A festa de inauguração acaba sendo interrompida por vampiros que prometem liberdade em troca de suas almas.

Onde assistir: HBO Max

"Entrevista com o Vampiro" (2021)

O vampiro Louis De Pointe Dulac (Jacob Anderson) convida o jornalista Daniel Molloy (Eric Bogosian) para escrever a biografia de sua vida. A história parte da juventude de Louis, como cafetão em Nova Orleans, em 1910, e acompanha o momento em que ele conhece Lestat de Lioncourt (Sam Reid), responsável por transformá-lo em uma criatura da noite.

Onde assistir: Prime Video

"Castlevania - Noturno" (2023)

Ao lado da jovem caribenha Annette, Richter Belmont deverá lutar contra vampiros poderosos enquanto os revolucionários combatem o absolutismo na França.

Onde assistir: Netflix

 

Para jogar - Fortaleza Noturna

Formato frequentemente usado entre jogadores do "RPG Vampiro: A Máscara", o "By Night" é um modo dos participantes adaptarem suas próprias cidades para ambientar a narrativa do jogo. Várias capitais no Brasil sediam o "By Night" desde os anos 1990.

Em Fortaleza, houve uma iniciativa no início dos anos 2000, mas "não foi para frente". O Fortaleza Noturna surgiu em 2018 para, segundo Dmitri Gadelha, criador da iniciativa, "preencher esse vazio" e "homenagear quem veio antes" conferindo à narrativa a identidade local cearense.

Os jogadores criam histórias sobre vampiros e seus conflitos, com disputas territoriais, guerras entre anciões e neófitos (vampiros recém-nascidos), além dos dilemas do mundo mortal.

O jogo é de responsabilidade da Vila do RPG, abrirá inscrições com formulários para o público, uma vez que é destinado para adultos. As vagas serão limitadas e o local dos encontros ainda será definido.

 

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