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Artistas cearenses adotam a colagem como forma de expressão
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Artistas cearenses adotam a colagem como forma de expressão

Entre recortes e sobreposições, a colagem apresenta diversas possibilidades como linguagem artística que vai do passatempo criativo à pesquisa e aos museus
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Obra da artista Alexia Ferreira (Foto: Paulo Dourado/divulgação)
Foto: Paulo Dourado/divulgação Obra da artista Alexia Ferreira

No dicionário, colagem é definida como "técnica ou processo de composição que consiste na utilização de recortes ou fragmentos de material impresso, papéis pintados, superpostos ou colocados lado a lado". Atividade manual que perpassa os séculos e derivada da palavra francesa "coller", a arte teve como berço o movimento do cubismo - popularizado no século XX - rompendo com a representação tradicional da realidade e se apropriando das formas geométricas para representar objetos.

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Após anos do sucesso da vertente artística, não são apenas Pablo Picasso e Georges Braque que estão consolidados como figuras de referência - pois a colagem se espalhou pelo globo e se destaca pela praticidade e fácil acesso, como comenta o artista visual cearense Célio Celestino.

"A colagem é democrática e acessível, as pessoas gostam de fazer devido ao seu caráter terapêutico. Nela, também, tem algo muito ligado à manualidade, à memória, porque ela traz consigo uma carga afetiva de possibilidades imagéticas", explica Celestino.

 

Foi a partir dessa facilidade de acesso que o artista conseguiu mergulhar na técnica. Em seu primeiro semestre no curso de Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), ele foi desafiado a explicar pintura por meio de outra linguagem.

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Ao escutar o professor falar em colagem como uma possibilidade, a palavra ressoou familiar e, assim, decidiu explorar esse caminho. Desde 2010, a técnica se fez presente em sua vida, tanto em exposições, com trabalhos autorais, como na sala de aula, compartilhando os seus conhecimentos.

"Para fazer colagem, eu só preciso de uma revista, ou imagens impressas, uma tesoura e uma cola e um papel em branco, muito simples, né? Mas existe um trabalho de grande pesquisa por trás do resultado. O meu trabalho, para mim, é colagem e arqueologia, porque são imagens do passado, mas também são imagens que atravessam o coletivo", descreve.

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Para Alexia Ferreira, artista visual que também usa a colagem como expressão artística, a produção representa as subjetividades do artista por trás do trabalho. Segundo ela, a essência do fazedor está desde a seleção das imagens até a escolha pela disposição dos elementos na obra.

"Afinal, ela surge de várias técnicas, tanto que se a gente compara trabalhos de artistas de colagem, vamos ver que cada um tem sua técnica e cada um consegue trabalhar da melhor forma através da sua subjetividade para a expressão dentro da colagem", argumenta.

A artista ressalta que colagem não é limitada ao papel. "Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é não trabalhar só com o papel, porque a gente tem essa ideia de que é só no papel, mas colagem é feita do que pode ir do tecido para outros objetos", acrescenta.

Vinda da periferia, a artista utiliza os territórios como fontes de criação para os trabalhos. Tal fato fortaleceu o projeto "Colagem Negra", que nasceu no início da graduação em Filosofia, quando sentiu a necessidade de uma forma de expressão.

"Entrei na graduação, sofri violências institucionais envolvendo racismo e queria expressar o que eu sentia naquele momento. A colagem surgiu e, cinco anos atrás, eu não tinha tanta referência de artistas negros. Surgiu a necessidade de pontuar a colagem negra como algo principal na minha pesquisa. Hoje isso ampliou, mas meu foco ainda é sobre pessoas negras", explica.

Com trabalhos expostos pelo mundo, a artista se tornou referência na produção, e busca compartilhar também seu conhecimento com o público infantil que, às vezes, não tem oportunidade de consumir arte. Ela acredita que, dessa forma, vai acontecer a popularização da técnica e um maior reconhecimento da arte.

"Para mim, a colagem não é tão valorizada como deveria ser. A gente fura barreiras, consegue adentrar espaços e propõe pesquisa, mas a pintura às vezes ganha maior destaque por ser uma técnica vista como uma das mais clássicas dentro da bela arte. Mas o diferencial é que a colagem tem uma liberdade grande de criação", explica.

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Abuse da criatividade

Para além das exposições e salas de oficinas, grupos têm aderido a colagem como um hobby terapêutico. Em Fortaleza, o projeto Cacarecas.co disponibiliza manuais criativos mensalmente. A iniciativa surgiu da ideia das amigas Anna Júlia Olinda, Larissa Eskinazi e Amanda Primo - que queriam ampliar a experiência com colagens para outras pessoas da cidade.

Já sob a proposta de desacelerar e proporcionar vivências criativas foi que a arquiteta Brendha Forte decidiu dar início ao Arte & Tal. O projeto também explora atividades artísticas manuais e traz colagem como uma das opções da lista. "O projeto é sobre querer produzir algo que você possa guardar na sua casa, de colecionar boas memórias e ter oportunidade de conhecer pessoas novas e se conectar a Fortaleza de uma forma diferente", diz Brendha. Os encontros trazem à tona o espaço urbano e as boas memórias na cidade são um dos focos.

PARA APRENDER

  • Arte & Tals Vivências Criativas: @arteetal.vivencias
  • Cacarecas.Co: @cacarecas.co

 

Conheça os artistas:

  • Alexia Ferreira: @colagemnegra
  • Célio Celestino: @celio.celestino

 

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