De volta a Fortaleza após menos de um ano, o rapper Djonga realiza show nesta sexta-feira, 15. O artista apresenta a turnê do seu sexto e novo disco: "Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto". O show inicia às 19 horas e acontece na Praça Verde do Dragão do Mar.
Apesar de seguir o mesmo estilo de flow e beats do rapper, o disco inova ao trazer parcerias inventivas com nomes como Milton Nascimento, Samuel Rosa, Dora Morelenbaum, FBC e Sidoka. Para a noite em Fortaleza, Teffy, Doixton, Uhrei, Shark, Gutto, Real Zerd e Vittin completam o line-up.
Nascido Gustavo Pereira Marques, em Belo Horizonte (MG), ele despontou na cena do rap em 2017, com o álbum "Heresia", considerado o melhor do ano pela revista Rolling Stone. Filho de Ronaldo Marques e Rosângela Pereira Marques, o também compositor iniciou a carreira ainda na escola, rimando com poesias, em 2012.
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O objetivo não era se tornar rapper, mas historiador, cursando a graduação quase completa na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Chegou a estudar até o sétimo semestre, mas a fama e o destaque o fizeram abandonar a formação. Em 2015, começou a lançar suas rimas para o mundo, com o primeiro single "Corpo Fechado" e o EP "Fechando o Corpo".
Com versos impactantes sobre a vivência de pessoas negras, o rapper é considerado um dos maiores de sua geração. Djonga conversou com O POVO sobre os processos de criação de seu último álbum e expectativas para a noite.
O POVO - Você esteve em Fortaleza em 2024 e volta mais uma vez. Como é a sua relação com a cidade?
Djonga - Gosto muito de Fortaleza. Já passei umas loucuras aí, mano. Ó, primeira vez que o Matuê subiu no palco para fazer um show foi abrindo um show meu, tá ligado? Foi um dos meus primeiros shows. Uma vez eu fui fazer um show aí, mano. Inclusive naquela final que o Flamengo ganhou do River. O show foi cancelado, que a galera invadiu o Dragão do Mar, loucura total, tá ligado? Então, assim, tem umas histórias com Fortal, mano. Eu gosto muito dessa cidade. As últimas vezes que eu fui, foi no Plantão Festival, foi bem legal também. E, pô, tô tô feliz de tá aí de novo. Acho que já fiz umas três ou quatro vezes no Dragão do Mar. Todas as vezes foi bem intenso. O público daí é intenso para caramba, pô. Uma das vezes, os policiais invadiram o palco lá, os seguranças, sei lá, começaram a dar choque, bater nos fã. E eu briguei com os policial (sic) e tem bastante história nessa cidade, cara. Eu gosto de fazer show aí, de verdade.
OP - O que o público pode esperar do show?
Djonga - A história sendo contada nos detalhes, tá ligado? Então, tava até trocando ideia hoje com a galera no Instagram. Desde a luz ao telão, da performance ao coral, tudo faz muito parte do show, sabe? Ah, falar que o show vai ser legal, que a galera vai pular, que a galera vai curtir, que a galera vai dançar. Isso é chuveiro molhado, que é o que a gente tenta sempre trazer. Mas eu acho que o que a galera pode esperar, que esse é um show mais dos detalhes, sabe?
OP - Seu último álbum traz feats interessantes e sonoridades mais distintas. De onde veio a ideia de trazer um sample dos Los Hermanos e como foi trabalhar com nomes como Milton Nascimento e Samuel Rosa?
Djonga - Então, eu acho que esse álbum surgiu da vontade de trazer um pouco da música que eu ouço no dia a dia também, das outras pessoas que eu admiro, que não são necessariamente do rap e tal, e também da necessidade de trazer um pouco mais de Minas Gerais, assim, da música mineira, tá ligado, né? Por isso que, inclusive, a gente tem desde o RT (Mallone) ao Milton e o Samuel. Que não é mineira ali, é só a Dora (Morelenbaum), tá ligado? Acho que todas as participações são de pessoas daqui e isso foi muito importante para mim, né? Mas achei interessante porque assim, acho que muitas pessoas acham até improvável. Pô, Djonga ouve Los Hermanos, Djonga vai fazer uma música com sample de Los Hermanos. E eu gosto, eu acho que é isso que faz a parada crescer.
OP - O título do álbum é "Quanto Mais Eu Como Mais Fome Eu Sinto". De onde veio?
Djonga - Esse nome veio dele mesmo, sabe como é que é? É tipo uma epifania, né? Eu olhei para tudo, falei: "Caralho, de novo eu aqui, né, trabalhando, de novo eu fazendo mais. Que vontade é essa? De onde que sai essa vontade? Que doideira é essa?". A hora que eu vi, o nome veio, saiu dele mesmo. E as referências para esse novo trabalho, eu acho que no quesito sonoridade a gente buscou muito ali dos anos 1980. A gente usou muitas coisas que tem bastante sintetizador e coisas do tipo. Tem uma coisa interessante que metade do disco é feito pelo Thiago e metade pelo Coyote (Beats). Então, tudo que foi feito pelo Thiago trouxe mais essa questão dos sintetizadores, essa questão da música, sei lá, como um negócio meio disco. E as paradas do Coyote vieram para um lado mais clássico, muito mais para um lado boom bap e tal, que é uma parada que eu queria resgatar também. Eu gosto muito desse disco. Tem uma pegada bem diferente na musicalidade. A gente tentou trazer coral, a gente tentou trazer instrumentos em algumas músicas. Esse disco é construído nos mínimos detalhes. Eu gosto de falar que é um disco que foi feito com a fome do nome. Todo mundo que se envolveu veio com essa mesma fome que eu e, por isso, acho que deu tão certo.
OP - A cena vem crescendo com nomes como Duquesa e Ebony. Você observa que a cena rap está mudando e aceitando mais a presença de mulheres?
Djonga - Mais do que aceitar, né? Tem que engolir, né? A verdade é essa. As meninas estão chegando e estão entregando um trabalho que muitas vezes os caras não entregam. Desde o quesito conceito ao quesito entrega, ao quesito comunicação e o jeito que conseguem se comunicar com a fan base. É aceitar ou não, foda-se, tá todo mundo engolindo do jeito que tem que ser. Porque o rap tem dessas também: nunca foi música que você pede para alguém aceitar. O rap foi o dedo na ferida, sempre foi a parada que na hora que você viu é aquilo, né? Como Racionais falam: "Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu". Então, é o trabalho que as meninas estão fazendo e é muito orgulho para nós.
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