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Peça com Odilon Wagner coloca Freud de frente para questões filosóficas
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Peça com Odilon Wagner coloca Freud de frente para questões filosóficas

Os atores Odilon Wagner e Marcello Airoldi apresentam o espetáculo "A Última Sessão de Freud" em Fortaleza
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Foto: Divulgação/ João Caldas Espetáculo "A Última Sessão de Freud" traz o consultório do psicanalista para palco de Fortaleza

Será que Deus existe? Qual o sentido da vida? Atire a primeira pedra quem nunca se perguntou algo parecido. Em "A Última Sessão de Freud", Odilon Wagner e Marcello Airoldi levam questionamentos filosóficos ao centro dos palcos. Ou melhor, ao gabinete de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Em Fortaleza, o Teatro RioMar se transforma no consultório do pesquisador.

Baseado no livro "Deus em Questão", de Armand Nicholi, o espetáculo se passa em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial. Exilado na Inglaterra após fugir da perseguição nazista, Freud (Odilon Wagner) e C.S. Lewis (Marcello Airoldi) estão com os nervos à flor da pele mediante o risco de serem bombardeados. Ainda assim, eles não perdem a oportunidade de um bom debate.

Confinados no escritório do psicanalista, o intelectual que defende que Deus é apenas uma projeção humana e o intelectual ex-ateu, que acredita na fé baseada na razão, engajam na discussão sobre a existência ou não de Deus. Com texto de Mark St. Germain, o diálogo é recheado de ironia e sarcasmo, provocando reflexões do mais crente ao mais cético por meio do humor.

Entre as 300 vezes em que "A Última Sessão de Freud" foi apresentada, aconteceu de "um pastor chegar para mim, um evangélico, chegar para mim e dizer assim 'olha, eu fui ver o Freud, mas você me causou um problema'. Eu falei 'por quê?' Ele disse 'porque eu saí de lá gostando mais do Freud do que do Lewis', ou seja, mais do ateu do que do crente", relata o ator Odilon Wagner em entrevista ao O POVO. Ele é conhecido pelos seus papéis na televisão, em novelas como "Caminho das Índias" e "Salve Jorge".

O texto do dramaturgo americano Mark St. Germain, que propicia um encontro entre Freud e Lewis, foi criado a partir do livro e de uma palestra do psiquiatra Armand Nicholi, na qual ele fala sobre as similaridades e diferenças entre os dois intelectuais. Dirigida por Elias Andreato, a peça chegou a Odilon por meio de seu sócio, o produtor de teatro Ronaldo Diaferia.

Segundo o ator, Diaferia buscou os direitos autorais da dramaturgia durante 11 anos. Quando Odilon foi apresentado ao texto, se apaixonou pela história e pelo personagem de pronto. "Mark St. Germain é um autor de Broadway maravilhoso que soube como ninguém pegar um tema que poderia ser para bolhas, para psicólogos, para teólogos, e traduzir, como o bom teatro americano, como uma boa comunicação faz, que é transformar inacessível para qualquer tipo de público", declara.

Vista por mais de 130 mil pessoas, Odilon Wagner atribui o sucesso da montagem à capacidade de se comunicar com todos os públicos, apesar de abordar temas profundos. Para ele, a peça trata "de temas absolutamente comuns a toda a humanidade, temas filosóficos sim, mas tratados de uma forma absolutamente acessível". O ator ressalta que "A Última Sessão de Freud" não é sobre as obras do escritor e do psicanalista, mas, sim, o recorte de um encontro entre os dois e "pode ser assimilada por qualquer tipo de pessoa, de qualquer tipo de desenvolvimento intelectual".

"A existência ou não de Deus, o sentido da vida, vida após a morte… qual é o ser humano que um dia já não parou para pensar sobre esse tema? Então não existe nada mais popular do que isso", reitera Odilon. Com 55 anos de carreira, o ator vê em seu papel um privilégio: "Poucas vezes um ator recebe um personagem como Freud para interpretar na vida. Eu não tenho medo de dizer que é o personagem mais potente".

"É um personagem maravilhoso, profundo, instigante, conhecido mundialmente", conclui. E parte do desafio de interpretar Sigmund Freud mora justamente aí. Dar humanidade ao psicanalista e ao autor de "As Crônicas de Nárnia" para não torná-los caricaturas e, assim, aproximá-los do público foi uma preocupação que fez parte do processo criativo da peça. "Isso foi uma opção nossa de espetáculo, da direção do Elias Andreato, buscar humanidade porque o Freud é facilmente 'caricaturável'", relata Odilon.

Mesmo tendo sido apresentada centenas de vezes, o ator assegura que a estrutura da montagem e a construção das personagens não têm espaço para transformações. Conforme Odilon, a peça é teatro tradicional, clássico. Tem uma dramaturgia rígida, com cenário e falas comprometidas com a época retratada. Ao mesmo tempo, ele acredita que cada apresentação é um novo espetáculo.

Para o veterano, o espetáculo "vai ganhando sutilezas e práticas que a gente não tinha percebido no começo, burilando o trabalho do ator". Ele destaca a reação das platéias ao redor do Brasil na sua satisfação de fazer parte do espetáculo. "Eu acredito que nunca tive aplausos tão longos na minha carreira como num espetáculo como esse", conta Odilon - que foi indicado ao Prêmio Shell, Prêmio APCA e Prêmio Bibi Ferreira pela sua atuação na peça.

Em Fortaleza pela primeira vez desde que estreou, em 2022, "A Última Sessão de Freud" teve uma procura que levou à realização de uma sessão extra.

A Última Sessão de Freud

  • Sinopse: No gabinete de Freud, na Inglaterra, o pai da psicanálise e o escritor C.S. Lewis conversam sobre a existência de Deus, mas o embate verbal se expande por assuntos como o sentido da vida, natureza humana, sexo e as relações humanas, resultando em um espetáculo que se conecta com o espectador através de ferramentas como o humor, a sagacidade e o resgate da escuta como ponto de partida para uma boa conversa. O sarcasmo e ironia rondam toda essa discussão. As ideias contundentes ali propostas nos confundem, por mais ateus ou crentes que sejamos.
  • Quando: sábado, 16, às 19 e às 20 horas e domingo, 17, às 20 horas
  • Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
  • Quanto: entre R$ 25 e R$ 180 via Uhuu
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