Logo O POVO+
Tribo de Jah 40 anos: Deus, drogas, música e sucesso segundo Fauzi Beydoun
Vida & Arte

Tribo de Jah 40 anos: Deus, drogas, música e sucesso segundo Fauzi Beydoun

Fauzi Beydoun fala sobre Deus, maconha, conexão com fãs, riqueza e lealdade a si e como suas escolhas o tornaram referência na cena reggae brasileira
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Clóvis Holanda com Fauzi Beydoun no programa Pause (Foto: fotos Samuel Setubal)
Foto: fotos Samuel Setubal Clóvis Holanda com Fauzi Beydoun no programa Pause

Há 40 anos, um dos grupos de reggae mais importantes do Brasil dava início à sua trajetória marcada por críticas sociais e construção espiritual, indo contra a personificação construída do que era ser um regueiro.

Atualmente formada por Fauzi Beydoun, Pedro Beydoun, Netto Enes, Aquiles Rabelo, João Rodrigues, Rafael Labate em São Luís, no Maranhão, a Tribo de Jah se mantém referência para artistas da cena que os veem como inspiração em produção musical e conexão com o público.

Dos sucessos "Babilônia em chamas", "Reggae na estrada", "Morena raiz" e "Uma onda que passou", as letras buscam mesclar conhecimento de mundo e identidade pessoal, muitas delas a partir dos posicionamentos de Fauzi Beydoun - fundador, vocalista e compositor principal da Tribo de Jah.

Nascido no interior de São Paulo, filho de italianos com libaneses e residente nordestino, Fauzi afirma que as melodias da Tribo são o resultado de tudo o que a forma. "A música da Tribo é nordestina. A gente mistura xote, baião, além do blues, rock, lambada, calypso", explica o artista em entrevista ao Programa Pause, comandando pelo jornalista Clóvis Holanda no YouTube do O POVO.

Na conversa, o músico, influenciado pelas vivências durante seus 66 anos, afirma com convicção que a Tribo de Jah é uma banda com bastante "cultura musical", o que os permite experienciar novos ritmos, mantendo a lealdade dos fãs.

"Acredito que a Tribo tem uma contribuição [na música brasileira] por apresentar um trabalho consistente", diz. Preservando a identidade e originalidade, não é à toa que fãs inundam com comentários nas redes sociais relembrando suas experiências positivas em shows e ao conhecer os músicos.

"O Fauzi é um dos artistas brasileiros mais incríveis! Inteligente, gentil e amoroso com seu público. O Brasil ainda precisa ouvir a Tribo de Jah sem preconceitos e vai se encantar com uma mensagem poderosa", declarou uma fã em uma das publicações do O POVO no Instagram.

Construindo uma conexão real com os fãs e ouvintes desde os primeiros anos do grupo, Fauzi afirma que deve existir um "compromisso de fidelidade" para com o público. "São 40 anos de estrada, então você começa a estabelecer uma ligação de empatia com o fã. Eles têm uma devoção com a banda e isso nos influencia positivamente. É um propósito maior na música que não é apenas fazer o show, mas também queremos conhecer e abraçar a todos. Isso é importante para nós", desabafa na conversa.

"Gente como a gente", se assim o podemos identificar, Fauzi Beydoun traz em sua bagagem muita história que reflete em sua carreira enquanto artista. Antigo gerente de uma multinacional suíça que se instalou na região nordestina, Fauzi foi para o Maranhão para ser um simples trabalhador que, em suas horas vagas, também apresentava um programa na rádio. Após uma desavença no local de trabalho, ele deixou o emprego fixo e decidiu iniciar uma banda que traz entre os membros pessoas com deficiência visual.

"Você às vezes tem tudo, mas não sabe. Eles [os outros membros] têm uma vida e uma comunidade própria. São todos altamente alto-astral, vivemos entre risadas o tempo todo. A deficiência física não desqualifica ninguém e tudo isso faz lembrar que o essencial é viver na simplicidade e respeitar a todos", conta ao relembrar que poderia estar "rico igual ao Skank" após ter recusado o convite de uma gravadora que queria firmar contrato unicamente com o vocalista. "No entanto, eu não estaria feliz. Esse mundo de ilusão não me atrai", argumenta.

Das muitas andanças da Tribo de Jah, o grupo se estabeleceu no Ceará e construiu pontes com o Estado. Casado com uma cearense, a produtora Juliana Beydoun, Fauzi é pai de Pedro e João, este nascido em Fortaleza, ambos também músicos, e de Fauzi Filho, o caçula da família. "Não só na minha vida pessoal, o Ceará tem uma marca profunda no trabalho da banda. Aqui foi importante porque se abriu um novo horizonte para a Tribo, foi quando conseguimos entrar no mercado nacional", recorda.

Não se deixando "vender" para a indústria, o cantor vai de encontro ao perfil estigmatizado do que é ser do reggae. "Fumei quando era novo, mas isso não mudou o meu caráter. Hoje não fumo mais maconha, não como carne…", listou. Contra a apologia às drogas e defensor da ingestão consciente de bebidas alcoólicas, Fauzi não esconde ser cristão e declara que a crença em Deus o inspira tanto na vida pessoal quanto na profissional.

Tendo sido estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), o questionamento de "o que vem depois disso tudo?" foi o que levou a indagar e explorar novas formas de conhecimento. "A gente vive num mundo doido, é preciso de alguma sustentação. O que te mantém? Qual é a tua fé? Sabe, as pessoas estão sujeitas a todo tipo de influência negativa. O meu trabalho, a minha música reflete essa busca", diz.

Hoje, Fauzi Beydoun, com a Tribo de Jah, preserva um trabalho honesto e pessoal, mas que consegue se conectar com diversos de seus ouvintes. "Nós temos uma mensagem libertária, revolucionária. Que fala sobre a vida e o ser humano", conclui o artista.

 

O que você achou desse conteúdo?