Logo O POVO+
Academia Cearense de Cordel elege a primeira mulher presidente
Vida & Arte

Academia Cearense de Cordel elege a primeira mulher presidente

Professora e escritora Kênia Diógenes assume a presidência da Academia Cearense de Literatura de Cordel neste sábado, 23
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Kênia Diógenes assume a presidência da Academia Cearense de Literatura de Cordel (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Kênia Diógenes assume a presidência da Academia Cearense de Literatura de Cordel

Entre os versos vai rimando, conta histórias quase cantando, cordel é canto do povo, tradição que sempre tem algo novo. Também conhecido como folhetim, a Literatura de Cordel é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2018 e, no Ceará, é um recurso de preservação da cultura e identidade nordestina.

Justificada pelos mesmos motivos, a partir da junção de 12 cordelistas cearenses, foi criada em 2021 a Academia Cearense de Literatura de Cordel (ACLC), que, para além da preservação, busca difundir o gênero. Neste sábado, 23, a entidade recebe a professora, cordelista, escritora Kênia Diógenes como nova presidente.

"A associação tem eleições a cada dois anos, assim montamos uma chapa para concorrer. No meu caso, eu montei minha chapa e fui, mas não tinha chapa concorrente. Então, fui eleita por aclamação de 100% dos presentes. A data escolhida para a posse é muito simbólica, que é neste sábado, dia 23, quando completa aniversário da academia", destaca Diógenes.

A posse será a terceira mudança de direção, mas será a primeira vez que a academia receberá uma mulher no cargo. Para Kênia, sua atuação abrirá espaço de novos projetos para ampliar o alcance e a democratização dessa linguagem. Além disso, ela espera que sua gestão influencie outras mulheres a buscarem a presidência futuramente.

"Ser a primeira mulher na presidência da Academia Cearense de Literatura de Cordel é mostrar que esse também é um lugar de mulheres, precisamos reivindicar isso. Nesse período, quero fortalecer o cordel nas escolas com o projeto ACLC na Escola, publicar um livro da Academia com temas de gênero, raça e inclusão, e ampliar nossa atuação com eventos e conferências internacionais", ressalta.

Ela acrescenta que a escolha pelo formato sempre esteve intrínseco em sua vida. Aos 12 anos, o fascínio pela cultura nordestina a fez enveredar por grupos artísticos. Mas somente aos 20 anos decidiu se arriscar na escrita de cordel, devido à faculdade que adiou os planos.

Na sua cidade natal, Tabuleiro do Norte, ela foi incentivada por um amigo de longa data - que é proprietário de uma editora no município - a retomar à escrita de cordeis. Assim, não demorou muito para que Kênia escrevesse o livro "A mulher sem rosto" que contempla uma coletânea de 15 cordeis.

Título que, segundo a escritora, está relacionado aos dilemas vividos por mulheres sertanejas diante de uma cultura misógina, assim como a sua relação com a natureza. "São 14 histórias narrativas protagonizadas por mulheres, com um teor fantástico, um realismo mágico dentro das histórias mergulhadas em discursos do universo feminino. O 15º cordel, que fecha o livro, é um cordel sobre o título 'Feminismo, que bicho é esse?', cordel que desmistifica o movimento feminista".

Com estrofes que variam entre 4, 6, 7, 8 ou 10 versos - sendo a sextilha (6 versos) a mais comum - a literatura de cordel recebeu influências africanas e europeias. Entretanto, o cearense Patativa do Assaré (1909-2002) foi um dos principais precursores do gênero.

Mas se engana quem acha que no Brasil não existem mulheres que, assim como Kênia, trabalham com cordel. Dentre alguns nomes que podem ser citados estão: Salete Maria da Silva, que aborda violência e exploração sexual, e Jarid Arraes, que trata de questões raciais e feministas.

Também se juntam as cordelistas Auritha Tabajara, a primeira cordelista indígena; Doralice Alves de Queiroz, autora da pesquisa "Mulheres cordelistas"; Maria Ilza Bezerra e Paola Torres, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).

"Acho a literatura de cordel incrível. Ela foi fantasia, denúncia, professor e notícia, alfabetizando muitos e acompanhando notícias como a morte de Getúlio Vargas ou Lampião. Hoje temos orgulho de dizer que somos poesia popular, acessível e o cordel se expande para todo o Brasil", ressalta Diógenes.

Ela ainda reforça que o trabalho tem ACLC tem se expandido, mas deve ser ampliado. "ACLC reúne os poetas cearenses e atualmente somos menos de 50. E o nosso objetivo é expandir a literatura e mostrar que no Ceará tem um movimento imponente de literatura de cordel. Tem lugares que tem vários cordelistas, enquanto outros nem sequer tem um. Então eu considero extremamente importante a gente levar essa arte para outros municípios também", destaca.

 

Conheça a presidente da Academia Cearense de Literatura de Cordel

  • Instagram: @keniadiogenes

 

Livro digital "A mulher sem rosto "

  • Preço médio: R$ 9,99

 

O que você achou desse conteúdo?