"The Alters" é daqueles jogos que não se contentam em entreter: ele provoca, emociona e deixa marcas na memória de quem joga. Trata-se de uma experiência que mistura ficção científica existencial, gerenciamento estratégico e dilemas morais, tudo em um só pacote.
O jogador assume o papel de Jan Dolski, único sobrevivente de uma missão espacial que acaba preso em um planeta rico em Rapidium. Sem outros tripulantes, a solução é criar os "Alters" — clones dele mesmo, cada um com habilidades, memórias e personalidades moldadas por decisões alternativas que Jan poderia ter tomado ao longo da vida.
A dinâmica de conviver e trabalhar com essas versões cria situações únicas, desde afinidades até conflitos, tornando a base não apenas um lugar para gerenciar recursos, mas também relações complexas.
A história é o coração do jogo. Ela lembra a profundidade de títulos como "This War of Mine" e "Frostpunk", mas com um enredo distinto, explorando temas como identidade, arrependimento e destino. Cada Alter é uma janela para o que Jan poderia ter sido, o que mantém a curiosidade acesa. A possibilidade de criar Alters diferentes a cada partida aumenta a rejogabilidade, com a campanha durando facilmente mais de 30 horas e oferecendo vários finais.
O controle é funcional, mas não perfeito. Em alguns momentos, especialmente durante a exploração em terceira pessoa, é possível sentir Jan um pouco "duro" ao se mover ou preso em partes do terreno. Ajustar a sensibilidade da câmera e usar controles mais precisos em situações de escalada, como com o gancho, pode ajudar. As seções de gerenciamento, no entanto, fluem melhor e são mais intuitivas, especialmente na visão lateral da base, que lembra títulos como "Fallout Shelter".
Os gráficos impressionam logo de início. Os cenários variam entre desertos alienígenas, biomas inóspitos e fenômenos visuais que parecem saídos de uma superprodução de ficção científica. Há um bom equilíbrio entre clareza e atmosfera, e mesmo com muito detalhe em tela, o desempenho se mantém estável. As expressões dos Alters contribuem para a imersão, reforçando que cada um deles é mais do que apenas um clone.
O som é um ponto alto. A trilha, com forte inspiração em ficções científicas dos anos 1980, acompanha o clima de urgência e reflexão. Efeitos sonoros claros, desde o ruído das máquinas até o impacto de eventos climáticos, dão credibilidade ao ambiente. As atuações de voz, especialmente de Alex Jordan como Jan, ajudam a diferenciar cada Alter e transmitir peso emocional às interações.
Entre os pontos que poderiam melhorar, a dificuldade é mais branda do que em outros jogos do estúdio, o que pode frustrar quem busca um desafio extremo. Ainda assim, a combinação de narrativa envolvente e ambientação faz de The Alters uma experiência que vale o tempo.
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico