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Cinema cearense demanda investimento em distribuição para conquistar mais espaço
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Cinema cearense demanda investimento em distribuição para conquistar mais espaço

Com aumento da produção de filmes no Ceará, cineastas pontuam necessidade de expansão de medidas de distribuição
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Difusão de títulos cearenses no streaming e nos cinemas é principal desafio no audiovisual (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Difusão de títulos cearenses no streaming e nos cinemas é principal desafio no audiovisual

O momento de escolher o que assistir em um serviço de streaming é desafiador, você pode acabar perdendo horas procurando pelo título perfeito. Mas quantas das opções disponíveis são obras cearenses?

Onde é possível assistir a "Pacarrete" (2019), de Allan Deberton? Ou "Vermelho Monet" (2022), de Halder Gomes, e "A Filha do Palhaço" (2022) de Pedro Diógenes?

Alguns trabalhos, a exemplo de "Cine Holliúdy" (2012), estão nos catálogos de plataformas como a Netflix. Muitos, entretanto, não têm a mesma oportunidade de visibilidade.

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O cinema do Ceará ultrapassou a barreira da produção. A presença de filmes cearenses em circuitos de festivais, impossível há algumas décadas, atualmente é uma realidade crescente.

Muitos produtos audiovisuais estão sendo feitos no Estado, com formação de cineastas e roteiristas provenientes das universidades (Universidade Federal do Ceará e Unifor), além de escolas de artes e centros culturais.

Cinema cearense encontra dificuldades na distribuição

O cineasta Wolney Oliveira, diretor-executivo do Cine Ceará, conta que, quando foi estudar cinema na Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Cuba, "não tinha quase nada de cinema feito no Estado". Neste ano, ele celebra as incrições de 130 filmes cearenses no festival. "Antigamente, você só podia fazer curso de cinema no eixo Rio e São Paulo ou em Brasília, e hoje não tem mais esse problema, a produção está acontecendo e a todo vapor", explica.

A produção do cinema é baseada em três etapas principais: formação, produção e distribuição, sendo a última o principal desafio. A cineasta e produtora Bárbara Cariry compartilha a mesma visão: "É o grande gargalo, especialmente fora do eixo hegemônico".

Ela aponta que o mercado é dominado por grandes produções e, ainda com a pequena cota para o cinema brasileiro, "é difícil garantir salas, e um lançamento exige investimento alto para funcionar".

A produtora criou a Sereia Filmes Distribuidora para quebrar esse muro e ampliar as janelas de exibição do cinema. "Não é fácil, mas seguimos avançando. É preciso coragem. A cada passo, aproximamos o cinema feito no Ceará de seu destino natural: o grande público", argumenta. A Sereia Filmes já distribuiu mais de dez filmes em salas de cinema, TVs por assinatura e plataformas de streaming.

O cineasta Joe Pimentel relata que, mesmo após anos trabalhando com o audiovisual, a parte da distribuição é uma área que precisa de mais conhecimento e investimento.

Caso esta etapa não exista, é perigoso até que a produção audiovisual se perca. Uma das batalhas enfrentadas por especialistas da área é a recuperação de materiais antigos. "A ignorância nesse segmento é um grande problema que eu percebo que muitos que fazem cinema, assim como eu, enfrentam", relata.

Para o cineasta, se não for desenvolvida uma política de exibição, o sentimento é como se "estivéssemos criando um acervo de filmes que serão completamente esquecidos".

Preservação audiovisual

Assim como aconteceu com Joe, muitos trabalhos são perdidos com o tempo, às vezes somente pelo fato de não estarem disponíveis para o público. "As pessoas fazem filmes para serem vistos", reforça o jornalista e crítico de cinema Diego Benevides. O profissional acrescenta: além da falta de distribuição, o cinema cearense e nacional sofre preconceito.

"Tem-se o estigma de que se é nacional, é ruim. Mas isso vem de questões que a produção audiovisual esbarra em um mercado que sufoca as produções autorais, com orçamentos menores. O cineasta local sempre teve esse desejo de sobrevivência, de destaque", desenvolve.

A produtora Barbara Cariry reflete que o audiovisual é a "indústria mais sofisticada que o Ceará pode ter, com grande impacto econômico, geração de emprego e renda e divulgação da cultura".

Os materiais merecem ser preservados, tanto pelo esforço das pessoas envolvidas, quanto para preservar o patrimônio audiovisual do Ceará. Raiane Ferreira, presidente da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), explica que o filme produz memória, seja ela afetiva ou histórica.

Todo filme conta uma história, e toda história merece não ser esquecida. "O cinema é uma parte importante da cultura, e a cearense está sendo esquecida", elabora.

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