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Grupo CriAr de Teatro apresenta o espetáculo 'Cassacos'
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Grupo CriAr de Teatro apresenta o espetáculo 'Cassacos'

Grupo CriAr de Teatro revisita a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca por meio do espetáculo "Cassacos'
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Peça conta a saga dos operários nordestinos 
das frentes de serviço contra os efeitos da seca (Foto: fotos Micaela Menezes/divulgação)
Foto: fotos Micaela Menezes/divulgação Peça conta a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca

Para o escritor do livro “Os Sertões”, Euclides da Cunha, o espaço é caracterizado pelo “solo gretado e duro que irradiava em todos os sentidos, feito um foco calorífico, a surda combustão da terra”. Já para Rachel de Queiroz em “O Quinze”: “A vida no sertão é uma batalha contínua contra as forças da natureza”. Enquanto Graciliano Ramos descreve, na obra “Vidas Secas”, uma vegetação “dos galhos pelados da catinga rala”.

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Mas, se, para além dessas características comumente associadas e que também são realidades do sertão, esse espaço ecoasse outras questões? Assim, em luta pela garantia da vida, nasce a temática central que motivou a construção da peça “Cassacos”. Trabalho dramatúrgico que estreia temporada no Teatro Dragão do Mar a partir deste sábado, 6.

Com texto e direção de Mailson Furtado Viana, o espetáculo do Grupo CriAr de Teatro busca abordar a saga dos operários enquanto exercem o serviço das obras públicas contra as consequências das secas no Nordeste. O coletivo traz um retrato particular do migrante do semiárido brasileiro que, apesar de todas as dificuldades, permaneceu em seu território.

Peça "CASSACOS" conta a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca(Foto: Micaela Menezes/divulgação)
Foto: Micaela Menezes/divulgação Peça "CASSACOS" conta a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca

“A dramaturgia se passa dentro de uma sala de ensaio de um grupo que tenta construir esse trabalho sobre os ‘cassacos’ e, ao mesmo tempo, debate suas próprias crises como artistas do interior”, explica Mailson, em entrevista ao O POVO, sobre a dramaturgia.

Ele ainda acrescenta o motivo do nome escolhido: “Esses trabalhadores eram chamados pejorativamente de ‘cassacos’. Foram fundamentais para a fundação de vários lugares, cidades e vilas. Construíram açudes, pontes, prédios públicos, estradas, ferrovias. São trabalhadores fundamentais para a construção dos interiores do Nordeste”.

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Como o diretor argumentou, em regiões do Nordeste do Brasil, especialmente durante as secas da década de 1950, o termo designava trabalhadores que trocavam o trabalho duro em obras públicas por uma remuneração insuficiente, que não garantia condições adequadas de existência.

Entretanto, o termo também é uma referência ao gambá-de-orelha-branca, conhecido ainda por nomes como timbu ou saruê. Na natureza, o animal tem o controle de pragas e é imune a venenos, comendo baratas, escorpiões e cobras. Devido à regionalidade do termo e pouca investigação, Furtado destaca que essa urgência despertou sua curiosidade.

“Só nos últimos dez anos começaram a surgir estudos mais direcionados sobre o tema. Eu trato o cassaco como um grande personagem da história brasileira. A gente fala muito do migrante nordestino que vai embora, mas pouco desse migrante que fica, que migra dentro dos próprios sertões e, apesar de todas as dificuldades, permanece. É ele quem acaba construindo esses lugares, especialmente no Ceará”, aponta.

A partir do interesse, Mailson junto com o grupo Grupo CriAr de Teatro - que há quase 20 anos resiste no município de Varjota - passaram a pesquisar o tema e fazer aulas de campo por cidades que também abrigaram e ainda abrigam “os cassacos”. O processo dramatúrgico iniciou em setembro de 2024.

O processo de Cassacos

A atriz Yane Cordeiro, que faz parte do grupo há 15 anos, ressalta que a imersão no assunto foi essencial para a construção do personagem, assim como a aprovação do projeto pela Escola Porto Iracema das Artes, instituição localizada em Fortaleza. “Essa é a primeira vez que a gente tem uma pesquisa de espetáculo financiada, onde podemos investigar e construir a dramaturgia e os personagens de forma mais livre”, destaca.

Sobre o processo de ensaios, ela relembra: “Nós somos três atores que interpretam diversos papéis, e é um desafio muito grande distanciar cada personagem, dar voz, corpo e presença diferentes. O maior desafio para mim é cantar ao vivo, e tivemos preparação específica para isso, com a Simone Souza”.

Peça "CASSACOS" conta a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca(Foto: Micaela Menezes/divulgação)
Foto: Micaela Menezes/divulgação Peça "CASSACOS" conta a saga dos operários nordestinos das frentes de serviço contra os efeitos da seca

Para a estreia da temporada, o diretor enfatiza que o trabalho é diferente comparado aos anteriores, visto que ele classifica a peça como uma teatro documental, no qual os participantes apresentam documentos em cena. E, sobretudo, o desejo de Mailson é apresentar essa história ao máximo de pessoas.

“Uma das principais coisas que a gente espera é trazer o debate sobre o cassaco, o operário das frentes de serviço das obras contra as secas, de forma mais firme para o nosso cotidiano. Esperamos que o público consiga perceber tanto a história desses trabalhadores quanto o processo de criação e a experimentação artística que fazemos em uma cidade pequena do interior”, aponta.

A montagem conta com três atores divididos entre diversos papéis(Foto: Micaela Menezes/divulgação)
Foto: Micaela Menezes/divulgação A montagem conta com três atores divididos entre diversos papéis

A atriz Yane Cordeiro completa o pensamento do diretor: “Queremos quebrar a visão que o Nordeste é só seca e retirante sofrido. Os cassacos mostram quem ficou e transformou o sertão, um sertão de resistência, feito por pessoas muitas vezes invisibilizadas. Queremos trazer outro olhar, reconstruir a história contada pelo próprio povo”.

Cassacos

  • Quando: sábados, 6 e 13, às 20 horas, e domingos, 7 e 14, às 19 horas
  • Onde: Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
  • Quanto: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia-entrada); vendas pelo site Sympla e na bilheteria
  • Instagram: @dragaodomar

 

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  • Instagram: @grupocriardeteatro

 

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