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FBUni promove debate sobre psicologia e literatura com entrada gratuita
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FBUni promove debate sobre psicologia e literatura com entrada gratuita

Estreia do Clube de Debate Cultural promove roda de conversa sobre as interseções entre psicologia e literatura
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Se, na literatura, a palavra é o instrumento de trabalho do(a) artista; na psicologia, a palavra é um dos principais meios pelos quais o paciente narra suas dores e incômodos sabidos e desconhecidos. Se, na psicologia, o paciente está investido de um narrador de si; na literatura, como afirma a escritora polonesa Olga Tokarczuk (Nobel, 2019), "o ser humano tem alma, corpo e narrador".

Entre palavras, escuta, enredo e narrador, Literatura e Psicologia têm muito a dizer (e ouvir) uma sobre a outra. E dirão nesta segunda-feira, 8, às 17 horas, na estreia do Clube de Debate Cultural da Liga Acadêmica de Neurodiversidade, Saúde e Educação do Centro Universitário Farias Brito (Lanse/FBUni). A roda de conversa em torno da "Escrita de Si: Diálogo sobre Literatura e Psicologia" reunirá a escritora Marília Lovatel, cronista do Vida&Arte; a psicóloga, especialista em escrita-terapêutica, Lisiane Forte; e a psicóloga, coordenadora do curso de Psicologia da FBUni, Cintya Carvalho para deambularem sobre como as duas disciplinas se margeiam e se tocam.

O escritor Gabriel García Márquez afirmava que "a vida existe para ser contada". A autora Marília Lovatel, por seu lado, reforça a tese do mestre colombiano ao dizer que o ofício da escrita como arte terá sempre como ponto de partida a realidade experienciada sobre a qual a imaginação exerce seu papel de criador. Depois que a obra fica pronta, assegura a autora, os limites entre a vida e a criação se esmiúçam. "A grande contribuição da literatura é, justamente, permitir essa mistura até para que o leitor possa se reconhecer no texto literário e particularizar sua experiência como leitor, preenchendo as lacunas da obra", afirma a escritora, cujo último livro, "Salvaterra, breve romance de coragem", venceu o prêmio da editora Barco a Vapor e foi lançado em abril deste ano.

Caminhar sobre essa linha tênue entre as experiências da vida e as ficcionais é o que propõe a psicóloga, com especialização em Gestalt-Terapia, Lisiane Forte, ao sugerir a vivência da escrita como instrumento terapêutico. Tendo a palavra como companheira dos diários desde criança, Lisiane percebeu, ao reler os textos da infância e adolescência, sua própria transformação por meio da escrita. Após anos de exercício como psicóloga clínica, ela conta ter sido natural que a escrita se tornasse recurso de trabalho mediante aceitação do cliente.

A escrita também foi a base sobre a qual fincou o projeto Contato, realizado na Casa da Mulher Brasileira. Durante cinco anos, Lisiane utilizou a escrita terapêutica com mulheres vítimas de violência. Ao todo, foram 58 grupos, conta, apesar de ter perdido as contas da quantidade de mulheres atendidas voluntariamente na CMB. "Embora, essas mulheres tivessem experiências duras com a violência, na escrita, elas traziam os sonhos. Havia choro, mas havia desejo de seguir em frente", afirma a psicóloga que é também escritora, autora de ficção, além de ter lançado recentemente um texto sobre Escrita-Terapêutica.

Lidar com a dor, seja na literatura, seja na psicologia não é tarefa de pouca monta. Ao escrever "Salvaterra", obra criada a partir dos relatos da mãe e da sogra de Marília Lovatel, a escritora confessa que as dores e outras emoções chegam, muitas vezes, de forma inconsciente, seguindo o compasso da existência. "É preciso entender que a vida, por si mesma, é de uma fragilidade absurda. É assustador que de um momento para outro tudo se transforme. Não temos nenhum controle sobre nada. Claro que isso vai para o texto, mas surge amalgamado da experiência particular e também humana. Ali está o que é meu, o que é do outro e o que é de todos".

Para a psicóloga, professora e coordenadora do curso de Psicologia da FBUni, Cintya Carvalho, que formou-se leitora lendo autores clássicos como Stendhal, Shakespeare, Dostoievski e Machado de Assis, numa era pré-redes sociais, a literatura tem um papel fundamental na forma de ver o humano. "Se tivesse de escolher entre a literatura e a psicologia, ficaria com a literatura. Existe muito mais psicologia na literatura do que literatura na psicologia, o que é uma pena, e eu não sobreviveria sem ler literatura", afirma. "A leitura abre espaço para pensarmos sobre nossos pensamentos, nossa história, imaginarmos ser outras pessoas, estar em outros lugares. Ela abre espaço para tudo isso, enquanto as redes sociais fazem o contrário, não deixam nenhum espaço vazio para ser ocupado pela imaginação", complementa.

Para ela, o debate sobre a arte e a psicologia dialoga diretamente com o trabalho desenvolvido atualmente pela Liga Acadêmica (Lanse) do curso de Psicologia que mantém um espaço de estudo, pesquisa e criatividade na abordagem da neurodiversidade. "A Lanse é um espaço de interação, aprendizagem, troca, além de estabelecer um diálogo com a sociedade, algo que é urgente nos nossos dias", reitera.

A presidente da Lanse, a pesquisadora de neurodiversidade e estudante de Psicologia, Andressa Pierre afirma que o Clube de Debates, que estreia nesta segunda-feira, 8, abrigará outros temas como transtornos alimentares, sempre com a mediação de uma obra de arte "por possibilitar o diálogo a partir do simbólico".

Escrita de Si: Diálogo sobre Literatura e Psicologia

  • Com a participação de Marília Lovatel, Lisiane Forte e Cintya Carvalho
  • Quando: segunda-feira, 8, às 17 horas
  • Onde: sala 103 da FBUni (Rua Castro Monte, 1364 - Varjota)
  • Gratuito e aberto ao público

 

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