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Com "Rock Doido", Gaby Amarantos diz que "não dá mais para ser Brasil sem o Pará
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Com "Rock Doido", Gaby Amarantos diz que "não dá mais para ser Brasil sem o Pará

Gaby Amarantos leva o Brasil ao Pará com projeto audiovisual no ritmo do tecnobrega
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Gaby Amarantos lança
Foto: Reprodução/ Cris Vidal Gaby Amarantos lança "Rock Doido"

A primeira frase do álbum "Rock Doido", lançado em 29 de agosto, é "te prepara". Um aviso ao ouvinte que as próximas 22 faixas estão organizadas em formato "non-stop", ou seja, sem pausa, pensado para "reorganizar o sistema" por meio das frequências sonoras. Enquanto a indústria fonográfica insiste nas fórmulas das plataformas de streaming e parece se distanciar do que traz identidade, o projeto é desdobrado no audiovisual e chega no tempo certo para ser devidamente digerido e valorizado.

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O novo trabalho de Gaby Amarantos é disponibilizado 13 anos após "Treme" (2012), primeiro disco solo da cantora. O período foi a distância necessária para garantir a "vontade, segurança e confiança" da produção mais recente. "Esse momento de protagonismo que o Pará está vivendo faz com que a gente entenda que o Brasil está pronto para receber essa grande tecnologia da periferia", desenvolve a artista.

Foram mais de 20 anos de amadurecimento artístico dentro do tecnobrega para que esse momento pudesse ser concretizado. Quando começou a carreira como vocalista do Tecno Show, grupo formado em Belém no ano de 2002, acompanhou a transformação cultural e social causada no estado a partir da expansão do gênero marcado pela união do brega com batidas eletrônicas. As letras, carregadas de romantismo, recebiam efeitos com mais de 150 batidas por minuto (BPM).

A sonoridade já conhecido nas festas de aparelhagem, ampliada pelas grandiosas caixas de som e luminosos painéis de LED, foi ainda mais amplificada no território nacional quando a canção "Ex Mai Love" estourou na novela "Cheias de Charme" (2012). O ritmo foi considerado Patrimônio Imaterial do Pará em 2013 e, uma década depois, Gaby venceu o Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa" com o álbum “Technoshow”.

Rock Doido e Gaby Amarantos

"A gente amadureceu o mercado. O tecnobrega está nesse lugar mais moderno, bem mixado, com uma qualidade melhor", constrói a cantora enquanto cita a presença do gênero em trabalhos como "Batidão Vol. 2", de Pabllo Vittar, e remixes utilizados por artistas como Wesley Safadão e Liniker. "O som está mais foda, mais audível, e isso é incrível porque o nosso movimento só tem a ganhar. As culturas do Norte, do Nordeste, da periferia, são potências que cada vez mais precisam dominar esse mundo".

Desde a primeira batida, “Rock Doido” firma o compromisso de exaltar o que vem do Pará: "Esqueça tudo/ que o rock doido começou", conforme diz a faixa “Essa Noite Eu Vou Pro Rock”. São músicas que mesclam o carimbó, o pop e o funk com participações de Viviane Batidão, Lauana Padro, MC Dourado e Gang do Eletro. Há o resgate de clássicos, a exemplo de "Crina Negra", e utiliza sample do compositor Luiz Bonfá em "Foguinho", viral nas redes sociais. Destaque também para a capa, que referencia "Dangerous" (1991), de Michael Jackson, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1976), dos Beatles, e "Cowboy Carter", de Beyoncé, com personalidades paraenses.

Gaby Amarantos e o Pará

O universo eletrizante foi materializado em um filme homônimo de plano sequência com duração de 21 minutos, gravado com um aparelho celular no Condor, simbólico bairro da periferia de Belém. Inspiradas pelas apresentações energizantes nas casas de show da cidade, 250 pessoas participaram da produção dirigida em parceria com Altar Sonoro, de Guilherme Takshy e Naré, que soma 322 mil visualizações até o fechamento desta matéria.

"Esses números têm que ser entendidos como dez vezes mais, porque quem é que consegue fazer as pessoas pararem para assistir um conteúdo musical com toda essa informação, todo esse valor e poder?", questiona a cantora. As imagens acompanham a personagem Xirley em uma história que passa por cenários como casas, bares e festas. As participações, ressaltadas com figurinos e coreografias, também envolvem figuras como Isabella Pamplona, a Miss Beleza T Brasil, e a drag queen Scarlety Queen.

"É uma metralhadora de cultura, com um poder muito forte para conseguir furar essas bolhas. É por isso que a gente não liga para a pressão do mercado. Lançar um álbum com 22 faixas também é disruptivo, mostra que ter coragem tem o seu lugar, o seu valor. Estou muito feliz de ter uma equipe gigante envolvida", considera. O resultado "mistura todo mundo" e consegue alcançar público pelos memes, pelos lambes nas ruas das principais capitais do País e pelas páginas nas plataformas digitais que engajam a obra. São, como destaca Gaby, pedrinhas de carvão que viram "fogaréu para incendiar".

"As pessoas estão pedindo shows, os novos fãs que estou ganhando, isso para mim já é um grande sucesso", reforça a paraense. Muito além das métricas, a artista reafirma a mensagem de liberdade contida no projeto. "É o nosso momento. Vamos respeitar, aplaudir, aclamar e acolher. Vamos ser feliz com a gente! Pega esse ônibus, esse avião, esse barco, vem para Belém do Pará que o 'Rock Doido' vai virar essa grande instalação e vai rodar o mundo. Não dá mais para ser Brasil sem o Pará. O 'Rock Doido' veio para ficar".

Rock Doido

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