Foi na infância que o cantor, compositor e guitarrista cearense Danilo de Sena iniciou sua trajetória na música. Participante de uma comunidade religiosa, os shows católicos se tornaram os primeiros espaços nos quais se apresentou. Com o tempo, decidiu se juntar a outros amigos para criar uma banda de rock cristão.
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Chamado de Religado, o grupo acabou sendo encerrado devido a discordâncias entre os integrantes. A inquietação com a possibilidade de "suas composições morrerem" levou Danilo a criar uma nova banda. Entretanto, em vez do aspecto físico, a virtualidade. No lugar de "pessoas reais", personagens. A forma de divulgação? Não apenas pelo streaming, mas também a partir de histórias em quadrinhos.
Assim surgiu a banda virtual cearense de rock The Parabolics. Entre os integrantes, destaque para Nicholas Panini (baixo/voz), Nanda Rivera (bateria), Murilo Viana (guitarra/voz) e Layla Maia (teclado/voz). Juntos, vivem "altas aventuras nos quadrinhos, almejando, com sua música, conquistar público fiel tanto na ficção quanto no mundo real", segundo seu criador.
Em uma banda virtual, os membros retratados não são pessoas, mas personagens animados ou avatares virtuais. Apesar disso, as canções são gravadas por músicos e produtores reais. Exemplos de "bandas virtuais" são o Gorillaz, The Archies, Alvin e os Esquilos e, mais recentemente, o grupo Huntrix, do filme "Guerreiras do K-pop".
O formato foi escolhido porque, segundo Danilo, simplificava a logística quanto a ensaios e apresentações, além de "facilitar a gestão de pessoas" - já que, até então, era o único integrante real do projeto.
O The Parabolics foi concebido para ser uma banda católica, mas com linguagem voltada a pessoas que estavam fora da igreja. Seu nome veio do intuito de levar "mensagens cristãs", mas em forma de parábolas. Hoje, o grupo se desvencilha da imagem de música gospel e trabalha tanto em um novo álbum quanto no lançamento da sua primeira revista em quadrinhos.
O primeiro single, "O Vento", foi lançado em 2020. O primeiro EP, "The Parabolics", em 2021. No final de 2022, eis o primeiro single da fase secular (ou seja, sem conteúdo religioso): "Mary Ley".
Os personagens foram baseados em aspectos marcantes da vida de Danilo de Sena. Nicholas Panini (a quem empresta sua voz), por exemplo, leva o nome de um amigo de infância, e o sobrenome faz referência à editora de quadrinhos italiana, marca "consumida na época de escola".
As canções e as histórias dos personagens são baseadas em experiências pessoais de Danilo — "o que torna tudo mais homogêneo". Existe, porém, a possibilidade de que seus personagens passem a influenciar as músicas posteriormente, a partir do avanço dos roteiros e do lançamento de suas histórias em quadrinhos.
Até 2022, a banda era mantida apenas por Danilo, que compunha as músicas e custeava as gravações. Com o lançamento do EP "Ilusão Medonha", em 2023, vieram quatro faixas e novidades na formação. Uma delas foi a entrada cantor e compositor Leonel Teles, que faz a voz de Murilo Viana. Sua primeira participação foi na faixa "Me Beije o Sol". Questionado sobre o que mais lhe interessa em uma banda virtual, o artista destaca a flexibilidade.
"É muito interessante trabalhar em cima de personagens para criar uma história que reflita a vida e o papel do artista no mundo hoje. As músicas são o mais importante, mas também há um lance de compor uma biografia fictícia para a banda que acho bem legal", enfatiza.
Para Leonel, uma banda virtual "ajuda a evitar o ego": "Pensamos em nós mesmos, as pessoas de carne e osso, como uma banda cover da The Parabolics original, que é essa virtual. É bem engraçado pensar assim, parece coisa de multiverso, algo que está na moda. Uma peculiaridade importante desse tipo de banda é o show. Afinal, como uma banda de desenho faria um show? É um desafio e suscita várias possibilidades, como criação de animações, apresentações em espaços virtuais e a nossa apresentação em 'carne e osso'".
Fazem parte do projeto também Danielle Sena (voz de Layla) e Luis Eduardo (contrabaixo). A "voz" da bateria ainda não está definida. Em 2024, a banda lançou o single "Nancy Now". Neste ano, foi publicado o álbum "Algo Rítmico", com produção musical de Kadu Giovannini. A obra reúne oito faixas das quais o líder do projeto destaca "Tão Perto de Mim", "Saia", "Opostos se Dividem" e "Mais Uma Farmácia".
Agora, The Parabolics trabalha no disco "Villa Royal", com produção de Carlinhos Crisóstomo. O conceito é em torno de um álbum que se passa "no mundo dos sonhos, bem Salvador Dalí", segundo Danilo de Sena. Além disso, o grupo foca na publicação da primeira revista em quadrinhos, cujo roteiro já está praticamente finalizado. A ideia é conseguir patrocinadores para o financiamento dos trabalhos.
Por trás dos desenhos
Desenhista parceiro do The Parabolics ao lado de Dudu Regino, Odmir Fortes assumiu as artes da banda e é responsável pelas concepções visuais dos personagens. Inicialmente, foi abastecido de ideias pelo criador do grupo, Danilo de Sena, que também mostrou referências de outras bandas.
"Misturei alguns elementos que fugiam um pouco do briefing inicial para deixar os personagens mais icônicos, inclusive meus próprios gostos de estética musical, como algumas das referências emo nos visuais", explica Odmir. Já experiente com ilustrações de quadrinhos, jogos e livros, essa foi sua primeira experiência com um projeto "tão diferente".
"Foi desafiador, já que, por ser uma banda, tem todo um trabalho de marketing visual que tem que ser feito para as capas dos CD e singles", pontua. O desenhista está também responsável pela revista em quadrinhos planejada pelo The Parabolics. Por ser uma webcomic (ou seja, HQ publicada na internet), existem diferenças em relação às HQs tradicionais quanto à apresentação da narrativa.
Odmir adianta: "Pode esperar personagens cativantes, aventura, drama e, claro, muita música!".
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