Em 1959, Miles Davis lançou "Kind of Blue", álbum que se tornaria a obra mais vendida da história do jazz, enquanto Dave Brubeck surpreendia o mundo com "Time Out", marcado pelos compassos inusitados que expandiram as possibilidades do gênero. Mais de meio século depois, esses clássicos ecoam em Fortaleza como símbolo de um movimento que encontrou na capital cearense terreno fértil para florescer.
No sábado, 20, a partir das 20 horas, o projeto Jazz em Cena comemora uma década de trajetória, recriando, no palco do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), os dois primeiros shows da história do festival, com músicos que ajudaram a consolidar essa história.
Para a edição de dez anos, estão confirmados nomes como o saxofonista, flautista, compositor Marcio Resende; o multi-instrumentista, compositor e arranjador Luciano Franco; o baterista, compositor e arranjador André Benedecti; e o baterista David Krebs, entre outros. O Jazz em Cena se tornou um espaço de encontro, intercâmbio artístico e lançamento de trabalhos, fortalecendo a cena local e conectando diferentes gerações.
O festival contabiliza mais de 150 apresentações, incluindo shows de artistas consagrados e o surgimento de novos talentos que hoje se destacam no País e no Exterior, observou Dalwton Moura, idealizador do projeto.
"O jazz sempre foi um espaço de liberdade, de criação sem amarras", diz Lucas Benedecti, músico e produtor cultural. "O que o torna especial é a possibilidade de buscar verdades pessoais a cada execução. No Jazz em Cena, músicos de diferentes gerações se encontram, propõem e experimentam", acrescentou o artista.
Para Dalwton, o festival também é sobre construção de uma cena consistente. "Temos um público interessado, músicos criativos e espaços que começaram a se abrir para o jazz. É um movimento que fortalece a música autoral e promove diálogos entre gerações", pontuou.
Dalwton acrescenta uma reflexão sobre o impacto do festival na formação de novos músicos: "Ver jovens que começaram assistindo aos nossos shows agora subindo ao palco com seus próprios projetos é a prova de que o Jazz em Cena cumpre seu papel educativo e transformador".
A gestora do centro cultural, Jacqueline Medeiros, reforçou a importância da instituição como casa do festival: "O CCBNB tem a missão de valorizar a arte em todas as suas linguagens. Receber o Jazz em Cena nos permite oferecer espetáculos de excelência com entrada gratuita, reafirmando que a arte deve ser um direito de todos".
Lucas lembra momentos que ficaram para a história do festival: "A volta aos palcos pós-pandemia com a Marimbanda, ainda com Luizinho Duarte; o show do gaitista Mauricio Einhorn aos 93 anos; apresentações de Cristiano Pinho e Osmar Milito". "Mais do que apresentações, o Jazz em Cena cria vínculos duradouros. Muitos músicos lançaram discos ou formaram novos grupos a partir das oportunidades do festival. É a cena cearense se mostrando para o mundo, em diálogo constante com outras referências nacionais e internacionais", reforça Dalwton.
Nayra Costa, cantora e intérprete com mais de 20 anos de carreira, comentou sobre sua experiência: "O Jazz em Cena é importantíssimo, pois me permite experimentar novos projetos e dar ao público a oportunidade de ouvir coisas diferentes".
Ela recordou momentos marcantes: "Fiz um especial Ella Fitzgerald e lembro que tivemos recorde de público. O festival sempre me deu liberdade para explorar repertórios variados, e isso está totalmente conectado à minha trajetória musical".
"É muito bom ter um local estruturado de jazz em Fortaleza, para que mais pessoas conheçam, participem e se apaixonem pelo gênero", explica Nayra sobre a importância do espaço permanente.
A gestora Jacqueline também acrescenta o impacto do projeto: "O intercâmbio artístico fortalece Fortaleza como polo cultural e amplia horizontes. Nosso compromisso é continuar investindo na diversidade musical, garantindo que o jazz e outros gêneros continuem ocupando lugar de destaque na programação do CCBNB".
E, ao celebrar os dez anos de Jazz em Cena, o festival reafirma seu papel como vitrine do jazz cearense e espaço de experimentação, no qual tradição e inovação se encontram para criar experiências únicas para artistas e público, enfatizou o organizador Dalwton Moura.
Dez anos - Festival Jazz em Cena